Estrutura pequena, solidária e de uma extrema dedicação ao clube: são os sete operacionais do Restelo | A prova de como é possível fazer muito com pouco, mesmo no competitivo futebol profissional | Muito do sucesso da equipa azul assenta nesta ‘família’ ímpar
Na imagem da esquerda para a direita: João Almeida (técnico de equipamentos), Carlos Costa (operacional), Nuno Almeida (assessor de imprensa), José Luís (Diretor desportivo), Nuno Quito (operacional), Rodolfo Candeias (fisioterapeuta) e Paulo Monteiro (fisioterapeuta)O percurso do Belenenses pode até ser surpreendente. Na realidade é-o. Decorridas 10 jornadas a equipa está na quarta posição, com fantásticos 20 pontos. Para muitos um autêntico milagre. Basta comparar com a época transata em igual período: 13.º lugar com nove pontos. Mais: só à 26.ª (!) jornada de 2013/2014 os azuis conseguiram superar o atual registo, somando, então, 21 pontos. Pode parecer milagre mas não é. É organização, trabalho e muita, muita, dedicação. Recuperar a mística, ter alma.
Entra-se nas instalações do Estádio do Restelo, lindo como sempre, e percebe-se que algo mudou. O clube está vivo, alegre, saudável. O sucesso pressente-se e sente-se. Como se explica?, questionamos. Resposta em uníssono: trabalho. Só pode. Não há outra forma de atingir o êxito no competitivo futebol profissional. Conhecendo esta estrutura, percebe-se, então, o porquê do sucesso.
O Belenenses formou uma família na SAD. São sete elementos de uma dedicação extrema, têm horas para chegar, mas não têm hora para sair e trabalham todos para um bem comum: a equipa profissional. Para os seus meninos. Os meninos do Restelo, como pode apelidar-se esta equipa treinada por Lito Vidigal. Só assim é possível contornar tantas dificuldades. Só assim é possível triunfar.
Muito mudou no último ano no Belenenses em termos organizacionais. Desde logo as pessoas. A estrutura foi reduzida drasticamente. Tanto que sete colaboradores foram, entretanto, dispensados.
A estrutura
JOSÉ LUÍS, o diretor desportivo, é o líder da equipa, o braço-direito do presidente da SAD, Rui Pedro Soares. Com muitos anos de futebol, no então primodivisionário Estrela da Amadora, chegou neste verão ao Belenenses e é impossível dissociá-lo deste êxito. Trabalha em estreita ligação com o presidente, mas com enorme autonomia. É o homem de confiança. De Rui Pedro Soares, que lhe delega enorme responsabilidade, e também de Lito Vidigal, que escudado nele só tem de se preocupar com as questões técnicas.
A entourage, sendo curta, tem outros elementos fundamentais. Na realidade, não podia ser de outra forma. Fazer muito com pouco não é fácil. Nunca. Nuno Almeida, assessor de Imprensa, Carlos Costa e Nuno Quito, operacionais, Rodolfo Candeias e Paulo Monteiro, fisioterapeutas, e João Almeida, técnico de equipamentos, completam a estrutura, que tem ainda o apoio de uma auxiliar de secretaria. São estes os rostos do trabalho invisível, tão importante no futebol. São estes os operacionais do Restelo.
Aposta nacional
O Belenenses tem um plantel jovem e ambicioso, assente em jogadores portugueses. Num grupo com uma média de idades de 25 anos, 23 dos 28 jogadores são portugueses. Muitos formados no clube. Percebe-se a aposta. Há que rentabilizar os jogadores, vários contratados nos escalões secundários, a preços, claro, bem mais convidativos do que é, ou era, prática corrente no futebol português. È o que pode apelidar-se do lado bom da crise. As regras são claras e impostas desde o primeiro dia por Rui Pedro Soares. Lito Vidigal sugere, a estrutura faz a ligação e o presidente da SAD decide. Tudo simples, tudo claro. Assim foram contratados todos os reforços desta temporada. Muitos jovens e todos conhecedores e adaptados ao futebol português. Assim vai continuar a ser. O último exemplo foi a contratação dos jovens Pedro Cavadas, Diogo Ribeiro e Ricardo Dias.
A formação
A SAD dedica-se exclusivamente ao futebol profissional. No Belenenses, a relação entre SAD e clube nem sempre foi a mais pacífica, mas no Restelo continua a olhar-se atentamente para a formação, toda sob a alça da do clube. São dezenas e dezenas os jovens que vestem o equipamento da cruz de Cristo. O Belenenses, hoje e sempre, é um clube histórico e com rico passado como formador, mas o trajeto natural termina na equipa principal. Os jogadores têm de ser potenciados e anualmente, com toda a lógica, os melhores são integrados no plantel principal. O lateral-esquerdo Varela e o extremo Dalcio são os mais recentes juniores a terem assinado contrato profissional. Mais duas apostas da SAD acompanhadas de perto pela equipa técnica. Mais dois jogadores que, mais tarde ou mais cedo, Lito Vidigal lançará na alta-roda. Dado sintomático: mais de 50 por cento do plantel dos juniores já foi chamado a trabalhar com o principal.
A prospeção
O Belenenses acaba de contratar três jogadores: dois na Liga 2 (Ricardo Dias ao Beira Mar e Pedro Cavadas ao Braga B) e outro, Diogo Ribeiro, que se encontrava sem clube depois de ter rescindido com os polacos do Legia Gdansk. Mais três exemplos de como se contrata no Belenenses: jovens, portugueses e baratos. Três como muitos outros já com provas dadas, casos de Palmeira (Tondela), Filipe Ferreira (Atlético) ou o goleador brasileiro Deyverson (Benfica B).
O departamento de scouting é coordenado pelo diretor desportivo, estando a SAD a aperfeiçoar e a aumentar a base de dados. Para funcionar bem, ou seja, dar a resposta adequada a cada momento de necessidade, o treinador tem de ter uma palavra a dizer e Lito Vidigal tem-na. O técnico é um estudioso e um perfeccionista. A estrutura apoia-o nas observações, nas muitas horas a ver jogos e jogadores, seja in loco, seja através de vídeo. O treinador faz mesmo questão de observar todos os adversários ao vivo.
Infraestruturas
O Belenenses tem um estádio lindíssimo mas o Restelo é cada vez mais um espaço curto para tantas exigências do futebol profissional. A panorâmica, com o Tejo ao largo, é fantástica mas só há um relvado para o plantel principal. Os escalões de formação distribuem-se pelos outros campos do complexo. O relvado já é antigo e em muitas ocasiões tem de ser poupado. A cada dessas situações, mais um problema para a estrutura solucionar. Melhor: minimizar. A SAD tem de alugar outros campos e deslocar-se com a casa às costas por Lisboa. Mais uma contrariedade para o grupo, mas também é sobre as dificuldades que este se fortalece. A união faz a força. Nada mais correto. Também nesta área a estrutura teve de intervir e optou por mudar a empresa encarregue da manutenção do relvado. As grandes mudanças começam nas pormenores.
A mística
Do mais jovem, Nuno Almeida, ao mais idoso, João Almeida, a dedicação é transversal. No Belenenses há mística e há também entusiasmo, recupera-se o orgulho do quarto grande. À alma do Boavista, à tradição do Vitória de Setúbal, à paixão do Vitória de Guimarães ou à consistência do SC Braga, respondem os azuis com o quarto lugar. O técnico de equipamentos João Almeida, de 63 anos e com os últimos 20 dedicados ao clube, encarna melhor do que ninguém a mística azul. Só tem elogios para estrutura, ele que já viveu tantos problemas no clube…,e é um fã de Lito Vidigal, com o qual conviveu durante sete anos quando o treinador era jogador do clube. Diz que está igual.
“Muito brincalhão, mas ainda mais trabalhador.» “Isto não acontece por acaso. Aqui trabalha-se muito, mais do que nos outros clubes, não tenho dúvidas», sublinha, recordando um treinador inesquecível para os azuis. “Lito deu a volta a Isto. Faz-me lembrar os tempos do Marinho Peres. O grupo está unido, mais do que nunca. Há um grande espírito de grupo e todos jogam com grande garra e motivação. É este o segredo», conta.
Os objetivos
Europa é palavra proibida no Restelo. Percebe-se a cautela. No futebol as coisas mudam muito rapidamente. Hoje os elogios das vitórias, amanhã as críticas das derrotas. Não há como prevenir e assim a palavra manutenção é repetida até à exaustão. Ok, mas… “Não, não, só manutenção. Aqui ninguém fala em mais nada. A sério», diz José Luís. O percurso é surpreendente e fantástico mas todos sabem que também no futebol o sucesso é efémero. As dificuldades na temporada passada foram muitas, no clube todos têm também bem presente o pesadelo recente da Liga 2. Daí que só se pense jogo a jogo. O maior excesso que é permitido a todos os elementos deste grupo forte e unido é falar de… três em três pontos!
Espírito de grupo ao sabor do leitão
Corrida antes do início do treino valeu um almoço; emocionantes e polémicos 400 metros
Dia especial o de ontem no Restelo. Minutos antes do início do treino, já com o aquecimento feito, o grupo acercou-se da pista de tartan ia ser dado o tiro de partida da emocionante corrida de 400 metros, um mano-a-mano entre Paulo Monteiro, fisioterapeuta, e Fernando Morgado, da equipa técnica.
As condições atmosféricas não eram as melhores: forte vento e muita chuva. Contudo, a prova era inadiável. Todos aguardavam com ansiedade o momento e foi dado o tiro de partida. A corrida foi ombro a ombro mas na ponta final Monteiro isolou-se e ganhou. Morgado desistiu e protestou. A reclamação não foi aceite e o derrotado vai ter de pagar um leitão para o grupo.
por HUGO DO CARMO
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Fonte: Crónicas Azuis