Tiago Silva em Entrevista à CA falou-nos do seu empréstimo ao Feirense e o que sentiu ao ser cedido, mantendo vivo o sonho de ser chamado à Seleção.
Uma das revelações da temporada 2016/2017 da Liga NOS é um jogador que já não passa despercebido aos adeptos do futebol português. Tiago Silva aproveitou o empréstimo ao surpreendente Feirense para fazer uma das melhores temporadas da sua carreira e para mostrar aos responsáveis do Belenenses que erraram ao não contar com ele esta temporada. A CA foi falar com um dos jogadores do momento. Confessa que o ambiente que se vive no Restelo “em nada beneficia o clube” e relembra os dias em que “o estádio estava bem composto com adeptos, agora são só cadeiras vazias”. Quanto ao futuro, deixa nas mãos dos dirigentes dos dois clubes.
CA – Seis golos e 3 assistências em 27 jogos. Estavas à espera de ter uma época tão positiva no Feirense?
Tiago Silva (T.S) – A ideia de vir para o Feirense era a procura disso mesmo. De fazer uma época positiva e de me recuperar como jogador porque os meus 2 últimos anos no Belenenses não foram os mais felizes e necessitava de recuperar a confiança em mim para poder voltar a exibir-me a bom nível. Os golos e assistências são reflexo do bom trabalho desenvolvido por toda a equipa ao longo da época, porque os golos não seriam possíveis sem os outros 10 jogadores que estavam em campo, assim como as assistências.
CA – Quais é que foram as razões para uma temporada tão positiva?
T.S – As razões para o que se passou foram essencialmente os jogadores acreditarem uns nos outros, os treinadores acreditarem nos jogadores que tinham e haver um base que suportasse toda uma equipa sem que os jogadores tivessem de se preocupar com mais nada para além de jogar futebol. Hoje em dia no futebol é cada vez mais importante um jogador estar focado apenas e só em jogar futebol e manter a cabeça limpa e afastada de problemas. Nesse ponto, o Feirense é um clube exemplar porque da as condições necessárias para que o jogador se foque a 100% naquilo que é o seu trabalho.
CA – O quê que o Professor Nuno Manta veio trazer para revolucionar por completo a temporada do Feirense?
T.S – O prof. Nuno tem muito mérito naquilo que se passou, mas o mister José Mota não deixa de ter tido um papel importante nesta caminhada. Ele deu-nos as bases para o arranque de época e infelizmente para ele as coisas acabaram por não correr pelo melhor e o clube foi obrigado a fazer alterações. O prof. Nuno, como homem da casa , conhecia perfeitamente todo o plantel e sabia o que de melhor podia explorar em cada um. Esse foi o grande mérito do treinador. O resto estava cá tudo, só se mudou a mentalidade, que era o que estava a faltar, porque os jogadores eram os mesmos.
CA – O que falhou para não teres sido aposta constante no Belenenses?
T.S – Falhou muita coisa. Nunca consegui ser um jogador regular no Belenenses muito por minha culpa, mas não só. Precisava de jogar com mais regularidade para que isso pudesse acontecer e isso não aconteceu. Eu era aposta para um jogo e no jogo a seguir ficava na bancada ou não saía do banco. Nenhum jogador consegue destacar-se se não jogar com regularidade e se não tiver a confiança do treinador. Depois a vertente psicológica de um jogador assume um papel fundamental, se fores muito equilibrado e conseguires lidar com tudo isso , ótimo. Se te deixares afetar com a pouca utilização ou com situações com as quais não concordas, estás mais próximo de fracassar. E acho que passei um bocado por isso, eu sabia que tinha condições para ser aposta mais regular e por alguma razão não o era, então era um jogador conformado e à espera apenas que a época terminasse para procurar um novo rumo para a minha vida.
CA – Ficaste desiludido por ter sido emprestado ou foi uma decisão que partiu de ti?
T.S – Não. O único sentimento que eu tinha era de frustração por não ter retribuído ao clube que me fez homem tudo aquilo que o clube merecia, mas nunca me senti desiludido com ninguém no Belenenses. Como precisava de desafiar-me a mim mesmo e sair da minha zona de conforto, propus ao presidente e ao treinador ser emprestado para jogar com mais regularidade e eles concordaram. Felizmente acho que foi uma aposta ganha para ambas as partes.
CA – Vês-te a regressar? Se sim, depois dos dois anos de empréstimo ou já esta temporada?
T.S – Eu quero poder ajudar o Belenenses a ser o grande clube que já foi e tenho a certeza que vai voltar a ser, mas eu tenho mais 1 ano de contrato com o Feirense e neste caso está nas mãos do Feirense decidir. O entendimento terá de ser entre os 2 clubes e não sei, neste momento, como está a minha situação.
CA – Como é ver de fora todo este ambiente que se vive no Restelo?
T.S – É péssimo. Não é isto que os verdadeiros Belenenses querem para o clube. Está na altura de meter de parte todas estas guerras e fazer o que realmente importa. Ir ao estádio apoiar a equipa, nos bons e maus momentos. É triste ver um clube como o Belenenses com o estádio vazio. Lembro-me de ver o Estádio do Restelo cheio cheio e pintado de azul. Agora o único azul que se vê, são as cadeiras na bancada. Esta guerra em nada beneficia o Belenenses!
CA – Acompanhaste a época do Belenenses? Que análise fazes?
T.S – Sim, vi e torci sempre que pude porque para além do carinho que tenho por este clube, deixei grandes amigos lá e só queria o sucesso deles. Acho que atendendo às circunstâncias, acabaram por não fazer um campeonato tão mau como se comenta, mas para o nível de ambição de um clube como o Belenenses, é pouco. Os adeptos vão exigir sempre que o Belenenses lute por lugares europeus, que jogue olhos nos olhos com equipas grandes, porque era essa a imagem do antigo Belenenses. Mas o clube neste momento está numa fase de reconstrução e as coisas têm de ser feitas com calma.
CA – A seleção ainda é um sonho que esperas concretizar?
T.S – Sim, claro. Esse é o sonho de qualquer jogador de futebol profissional.
CA – Achas que o selecionador Fernando Santos está atento a todos os jogadores?
T.S – Sem dúvida. É evidente que sim porque cada vez há mais talento jovem em Portugal e a ser bem aproveitado, isso é uma prova de que o selecionador está atento a todos. Basta olhar para as convocatórias da seleção e ver a quantidade de jogadores jovens que são chamados ultimamente.