O último dia do NOS Alive 2019 revelou-se como o mais completo e mais interessante dos três, com propostas mais rockeiras como foram os casos de The Smashing Pumpkins e Idles ou de propostas de cariz mais dançável como Thom Yorke ou The Chemical Brothers.
IDLES
Se havia concerto do qual se esperava que fosse capaz de mandar a tenda do Palco Sagres abaixo nesta edição do NOS Alive, era o dos Idles. A banda punk britânica tem o dom de electrizar tudo por onde passam, e Algés não foi a excepção que confirma a regra. Aliás, há poucas regras num concerto de Idles. Minutos a ver um concerto de Idles são minutos passados a não pensar, a não raciocinar, mas sim a agir e reagir de acordo com aquilo que sentimos. Com os Idles não há espaço para sexismo, misoginia, corrupção, racismo. Há sim espaço para rockar, dançar, saltar, bem o que nos der na gana. E se isso não é punk, o que será? Apesar do vocalista Talbot tentar afastar-se dessa generalização da música que fazem, a verdade é que essa é uma categorização acertada. As mensagens de consciencialização que Talbot vocifera nos intervalos das músicas são sentidas, e não um produto de tentar agradar a alguém.
Começando a actuação a todo o gás perante uma tenda cheia de público com músicas tão agressivas como “Heel/Heal” ou “I’m Scum” foi difícil ver alguém a largar o concerto para aproveitar para comer algo antes da actuação de Bon Iver. Acreditamos que muitos dos presentes preferiram ver o esforço total dos rapazes de Bristol e jantar depois, preterindo a hipótese do Palco NOS. O concerto teve como base um dos melhores álbuns do ano passado “Joy as an Act of Resistance” e deu para ver que o estatuto da banda tem crescido nos últimos meses e não seria de estranhar que os víssemos novamente por cá brevemente num palco maior do que o do Lisboa ao Vivo onde actuaram em Novembro passado.
SETLIST IDLES
Heel/Heal
Mother
I’m Scum
Love Song
1049 Gotho
Divide and Conquer
Danny Nedelko
Exeter
Television
Samaritans
Never Fight a Man With a Perm
Rottweiler
BON IVER
Depois da descarga energética que aconteceu na actuação de Idles, Justin Vernon e restante banda teriam uma tarefa mais dificultada, mesmo sendo um dos nomes maiores do dia. O início não ajudou a afastar essa ideia com “Perth” e “Minessota” a revelarem-se demasiado intimistas para um recinto tão grande. Os Bon Iver contam na sua discografia com 3 álbuns, e enquanto os dois primeiros são unanimemente acarinhados pelos fãs, o último “22, A Million” foi uma experiência demasiado ao lado por parte de Justin Vernon. A cedência completa ao auto-tune acabou por acalmar algumas das expectativas que foram criadas para esse terceiro álbum, o sempre difícil terceiro álbum. E este concerto no NOS Alive poderá ter sido o passo de encerramento desse disco, pois o próximo “i,i” já aí está à porta (será editado a 30 Agosto) e traz sonoridades mais equilibradas, aparentando juntar o que de melhor a banda fez nos dois primeiros discos com a experimentação do terceiro. No entanto não ouvimos nada do futuro novo disco no Passeio Marítimo de Algés.
Depois da tal passagem inicial pelo álbum quase homónimo “Bon Iver, Bon Iver”, foi “22, A Million” que assumiu as rédeas do alinhamento, e se ao vivo essas músicas parecem ganhar de facto uma nova roupagem, não deixa de ser estranho pensar sobre o porquê de a banda estar a actuar naquela hora, naquele palco. Nada na música de Bon Iver pede um palco gigante antes de uma actuação de uns monstros do rock, como é o caso dos The Smashing Pumpkins. Até é complicado encontrar grandes singles na música de Bon Iver, sendo “Skinny Love” a única excepção que confirma a regra. Isto não é uma crítica à banda, pois a mesma tenta produzir álbuns conceptuais, que fazem sentido ser ouvidos em disco ou transportados para concertos próprios em salas fechadas, e não ao vivo num festival de massas.
Grande parte do público que viu a actuação dos Bon Iver no NOS Alive terá certamente apreciado, mas não deixará grandes memórias. Esperamos por um regresso próximo, já com “i,i” no bolso.
SETLIST BON IVER
Perth
Minnesota, WI
10 d E A T h b R E a s T
715 – CREEKS
Towers
Blood Bank
29 #Strafford APTS
666 ʇ
8 (circle)
____45_____
Heavenly Father
Skinny Love
Creature Fear
Holocene
Calgary
33 “GOD”
The Wolves (Act I and II)
22 (OVER S∞∞N)
THE SMASHING PUMPKINS
Quem diria que em 2019 iríamos ver a melhor face que os The Smashing Pumpkins poderiam apresentar. Com 3/4 da formação original reunida, os cabeças-de-cartaz do último dia do NOS Alive 2019 levaram-nos de volta até aos anos 90. Encarando a maior aglomeração de público que a edição deste ano do festival viu, Billy Corgan, James Iha e Jimmy Chamberlin reuniram-se no ano passado (faltando apenas a baixista D’arcy para completar a formação original da banda) para levar a música que estabeleceu a banda como um dos nomes maiores da geração musical de 90 a novos fãs e aos fãs de sempre. Para além disso, a banda voltou a editar novos álbuns como foi o caso de “Shiny and Oh So Bright, Vol. 1 / LP: No Past. No Future. No Sun” lançado em Novembro passado e do qual ouvimos em Algés duas músicas: “Knights of Malta” e “Solara”, interessantes mas pouco capazes de entusiasmar quem estava à espera dos clássicos.
Num palco rodeado de bonecos gigantes com cores e luzes dinâmicas que ofereciam um espectáculo visual digno de ser assistido, notava-se que o mau estar que levou à paragem da banda em 2000 já está posto de lado. A comunicação entre Billy Corgan e os restantes elementos não foi extensiva, mas entendia-se que estava satisfeito por poder interpretar as músicas que criaram juntos. Foi com “Zero” que assistimos à primeira descarga de energia por parte do público mas era com a frase “The World is a Vampire” de “Bullet With Butterfly Wings” que o público se rendeu por completo à actuação da banda vinda de Chicago. “Disarm” foi mais um momento de comunhão com o público a entoar numa só voz “I used to be a little boy, So old in my shoes”.
Apesar de terem lançado um álbum apreciado pela imprensa no ano passado, os The Smashing Pumpkins sabem que esta tour de reunião teria de passar pelos clássicos de outrora. Correndo o risco do concerto ser demasiado nostálgico, a banda terminou a actuação com uma sequência de ouro que poucos podem replicar: “The Everlasting Gaze”, “Ava Adore”, “1979”, “Tonight, Tonight”, “Cherub Rock”, “The Aeroplane Flies High (Turns Left, Looks Right)” e “Today” fizeram com que apesar de os termos visto ontem, podíamos vê-los novamente já amanhã.
Foto retirada: Arlindo Camacho @NOS AliveSETLIST THE SMASHING PUMPKINS
Siva
Zero
Solara
Knights of Malta
Eye
Bullet With Butterfly Wings
Tiberius
G.L.O.W.
Disarm
Superchrist
The Everlasting Gaze
Ava Adore
1979
Tonight, Tonight
Cherub Rock
The Aeroplane Flies High (Turns Left, Looks Right)
Today
THOM YORKE
Prejudicado pela sobreposição horária com o concerto dos The Smashing Pumpkins, Thom Yorke já estava em palco há mais de uma hora quando conseguimos chegar à tenda do Palco Sagres. O líder dos Radiohead veio pela primeira vez a solo a Portugal apresentar o seu novo projecto “Anima”, que para além do álbum, gerou também uma curta-metragem de Paul Thomas Anderson para a Netflix. Não estando tão cheia como esteve em Jorja Smith (o concerto dos Smashing ainda decorria), a tenda do Palco Sagres dançava e exultava com cada momento de dança e interacção de Thom Yorke em palco. Não é habitual ver-se um respeito tão grande por um artista naquele palco quando o nome maior do dia ainda actuava no palco principal. Ainda por mais quando não se ouviu em momento algum música proveniente dos Radiohead, visto que o alinhamento foi todo baseado nos seus trabalhos a solo e dos Atoms For Peace.
Conseguimos apenas ouvir e assistir ao espectáculo visual de quatro músicas: “Twist”, “Dawn Chorus”, “Atoms for Peace” e “Default”. Para nós soube a pouco, mas para quem esteve desde início a acompanhar os movimentos pouco precisos de Thom não deverão ter dado o seu tempo por mal empregue.
Foto retirada: Sara Falcão @ NOS Alive’19SETLIST THOM YORKE
Impossible Knots
Black Swan
Harrowdown Hill
The Clock
(Ladies & Gentlemen, Thank You for Coming)
Has Ended
Amok
Not the News
Truth Ray
Traffic
Twist
Encore:
Dawn Chorus
Atoms for Peace
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