A CA teve a oportunidade de entrevistar um dos portugueses que mais está a dar nas vistas no estrangeiro e que já passou pelo Belenenses. João Meira adaptou-se bem aos Estados Unidos e à MLS (a liga de futebol norte-americana) ainda melhor. Considerado um dos melhores jogadores dos Chicago Fire, o central português não esquece o emblema da Cruz de Cristo e afirma que “não se diz não aos clubes grandes” e como o Belenenses é um deles, o central não conseguiria dizer que não. Quanto à estadia numa das maiores potências económicas mundiais, Meira diz ainda não estar totalmente adaptado e vê voltar à Europa com bons olhos.
Em nome de toda a CA, um agradecimento pela disponibilidade e simpatia ao João Meira.
MLS E OS CHICAGO FIRE
CA Notícias (CA) – Esta é a 2.ª época no Chicago Fire e tens-te estado a adaptar bem à MLS. Normalmente os europeus não se dão muito bem nos Estados Unidos. Quais foram os teus alicerces para te adaptares tão bem?
João Meira (JM) – Antes de mais, queria agradecer a oportunidade desta entrevista. Na verdade ainda não estou completamente adaptado, na medida em que tudo diariamente é uma novidade. Felizmente está tudo a correr da melhor maneira. Faz parte de mim entregar-me ao máximo e ser o mais profissional possível em tudo o que estou inserido, e aqui não tem sido exceção.
CA – Quais são as principais diferenças para o futebol Europeu?
JM – Principalmente a paixão pelo jogo. O futebol ainda é visto como um desporto secundário. Existem maneiras de trabalhar um pouco diferentes, mas basicamente a essência está presente.
CA – Vês a MLS a crescer nos próximos anos?
JM – A MLS tem vindo a evoluir bastante nos últimos anos, e seguramente que irá evoluir ainda mais num futuro próximo mas tenho algumas dúvidas se irá chegar ao nível Europeu. A questão da não existência de promoções ou despromoções desvirtua um pouco a verdade desportiva. Já por outro lado, quando falamos a nível de infraestruturas ou organização estão muito acima que eu vivenciei .
CA – Parece-te possível, com a entrada do Schweinsteiger, chegar aos playoffs esta temporada?
JM – Até ao momento estamos numa posição bastante favorável, mas a competitividade na MLS é enorme e numa sabemos como iremos estar 3 jogos depois. Se conseguirmos manter este nível exibicional tenho a certeza que sim.
CA – Como são vistos os portugueses nos Estados Unidos em geral e em Chicago em específico?
JM – Chicago tem uma comunidade Portuguesa mínima. Infelizmente muitos residentes não fazem ideia onde é Portugal, mas sempre que tenho possibilidade faço-os ver das nossas qualidades.
CA – Em que aspectos é que mais evoluíste enquanto jogador nos EUA?
JM – Penso que ganhei mais experiência mas também a idade e as vivências ajudaram a isso. Também consigo ler e pensar mais o jogo, pois aqui é necessário para que se execute da melhor maneira possível.
CA – Sentes-te acarinhado pelos adeptos? São fervorosos?
JM – Felizmente sinto-me querido. Quanto aos adeptos, aparecem em massa ao estádio mas se perguntarmos a alguns os nomes dos jogadores não o sabem. Apoiam a equipa da cidade e querem apenas divertir-se e ver um bom jogo. Quantos mais golos melhor e maior é o espectáculo.
CA – Sentes saudades de Portugal? Além da família e o clima, o que te faz mais falta?
JM -Tenho que admitir que sinto um pouco sim. Sinto muitas saudades da família e da nossa comida maravilhosa, mas também dos convívios com os amigos, o que ajuda bastante a relaxar um pouco da pressão do fim de semana.
CA – O teu futuro passa pela Europa, ou vês-te a prosseguir carreira na MLS?
JM – Quanto ao futuro ainda não sei bem como será, mas gostava de voltar à Europa para conhecer novas realidades. A família terá um papel bastante importante no próximo passo.
BELENENSES
CA – Quanto ao Belenenses, continuas a acompanhar?
JM – Não tanto como gostaria, mas sempre que posso acompanho.
CA – De que forma viste, de fora, esta confusão toda entre a SAD e os adeptos?
JM – Tal como disse na resposta anterior, não me sinto minimamente dentro do assunto para poder partilhar uma opinião fundamentada.
CA – Que futuro auguras ao clube?
JM – Honestamente, penso que o Belenenses tem tudo para fazer boas campanhas nas próximas temporadas. O futuro que auguro será sempre o melhor.
CA – De que forma é que o Belenenses te marcou a ti enquanto homem e enquanto jogador?
JM – Fiz-me homem no Belenenses. Tive a sorte de assinar no Belenenses quando a minha mulher estava grávida e a partir dai tudo mudou. Felizmente sempre tivemos um grande grupo de homens que me ajudou a crescer bastante. Enquanto jogador, hoje posso dizer que sou quem sou muito graças ao Belenenses. Foi um clube pelo qual me apaixonei, e quando assim é, tudo se torna mais fácil para que o nosso rendimento seja melhor. Tive a felicidade também de ter sido escolhido por duas pessoas muito importantes para mim. Mitchell Van der Gaag e Rui Pedro Soares apostado em mim numa fase crucial da minha vida pessoal/profissional.
CA – Vês-te a voltar?
JM – Penso que todos os jogadores gostavam de jogar num dos grandes do Futebol Português. Sendo o Belenenses um deles e eu ter tido o privilégio de ter carregado a cruz ao peito seria incapaz de dizer que não pensaria nisso. Vejo-me voltar sim, mas não depende só da vontade.
SELEÇÃO PORTUGUESA
CA – A seleção? Parece-te possível a curto prazo?
JM – A seleção será sempre um sonho/objectivo mas sinceramente as condições não são favoráveis. Se tivesse inserido numa realidade Europeia, admitiria que sim, estando aqui penso que seja muito improvável. Infelizmente as pessoas pensam que a MLS é uma competição sem qualidade e isso não é verdade.
CA – O que sentes que tens de fazer para ser notado pelos responsáveis da FPF?
JM – Tenho toda a certeza que eles sabem de tudo sobre mim ou qualquer jogador Português. Hoje em dia a base de dados é enorme para se pensar que só estão atentos a quem joga nos grandes clubes Europeus.