Retornos, exílios e alguns que ficaram é um espetáculo criado pelo Teatro do Vestido e dirigido por Joana Craveiro. Criada a partir de testemunhos de pessoas que viveram a descolonização dos anos 70, a peça estreou em 2014, em Viseu. Agora, como acolhimento do Teatro Nacional D. Maria II, está em cena em Lisboa com sessões diárias até ao próximo dia 10 de Junho.
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Passados pouco mais de 40 anos da Revolução dos cravos, as ex-colónias portuguesas e a descolonização em massa vivida nos anos subsequentes é um tema ainda sensível. Como colocar em cena memórias de um passado emotivo e ainda tão atual? Foi este o desafio a que se propôs o Teatro do Vestido. Desafio que supera de forma consciente, reverenciadora e respeitando os testemunhos utilizados no processo de trabalho.
O texto, fruto de memórias fragmentadas, é valorizado pelo espaço cénico. A conjugação das salas do palácio setecentista com as opções cenográficas e os figurinos utilizados assumem um carácter essencial para a integração do público no tempo e espaço retratados neste espetáculo, os anos 70 do século XX.
Apesar de algumas fragilidades, a interpretação evidencia a qualidade técnica e artística dos atores André Amálio, Inês Rosado, Isabelle Coelho, Joana Craveiro, Rosinda Costa e Tânia Guerreiro.
A sequencialidade das cenas, que pretende transportar o espetador para uma viagem ao longo dos tempos, nem sempre se apresenta bem consolidada. No entanto, o dinamismo obtido pela alternância entre momentos cómicos e momentos emotivos proporciona a vivência de diferentes emoções ao longo da representação.
Retornos, exílios e alguns que ficaram é um bom espetáculo que, de forma isenta, coloca em cena as várias perspetivas do tema abordado, estimulando o espectador a refletir e a extrair as suas próprias conclusões. No final da peça sobressai o empenho e o rigor artístico de Joana Craveiro e do Teatro do Vestido.