Crítica Cinema | “Dois Papas” (Two Popes)
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Crítica Cinema | “Dois Papas” (Two Popes)

Crítica feita por: Bernardo Freire (Visão de um Crítico)

“Dois Papas” (Two Popes) conta a história do momento histórico em que Papa Bento XVI cedeu o lugar a Papa Francisco. O filme está disponível na Netflix e poderá ler aqui a nossa crítica.

Em 2013 a Igreja Católica voltou a estar na boca do mundo quando o Papa Bento XVI cedeu a liderança ao Papa Francisco. Resignar o cargo máximo do catolicismo já tinha acontecido no passado, mas era extremamente raro. Era necessário recuar centenas de anos para encontrar antecedentes. A notícia foi, portanto, acompanhada com expectável surpresa, e não se tem noção clara daquilo que aconteceu nos confins do Vaticano para que tal medida fosse tomada. The Two Popes, não sendo propriamente um documentário, procura elucidar um pouco daquilo que motivou a mudança e o que poderão ter discutido os crentes.

Realizado pelo brasileiro Fernando Meirelles e escrito pelo neozelandês Anthony McCarten, o filme debate com inteligência e uma surpreendente dose de humor o passado, presente e futuro da Igreja Católica. E fá-lo através das posições altamente divergentes do Papa que renunciou (Anthony Hopkins) e do homem que viria a tomar o seu lugar (Jonathan Pryce). As conversas são morais, filosóficas e por vezes relaxantes, a base ideal para levantar as questões centrais do argumento: Estará a instituição a necessitar de reformas urgentes? Poderá haver uma mudança real e duradoura? Conseguirá a própria Igreja arrepender-se dos seus pecados e liderar pelo exemplo? Perante uma sequência de escândalos sexuais e uma resistência continua em adaptar o seu discurso ao panorama sócio-económico do século XXI, havia trabalho a fazer a nível administrativo.

Mesmo para os não-crentes, as prestações maduras e envolventes de Jonathan Pryce e Anthony Hopkins são razões suficientes para abraçar este filme. A narrativa está escrita na perspetiva de Pryce, que interpreta o Papa Francisco como uma lufada de ar fresco para o catolicismo. No entanto, apesar de a história ser tendenciosa, os argumentos e declarações do Papa Bento XVI não são omitidos. Pelo contrário, a troca de ideias é por vezes acesa e contestante, sendo a personagem de Hopkins uma representação das abordagens mais rígidas e obsoletas da instituição.

A discussão dos assuntos mais cinzentos é altamente cativante, e aqui é de louvar a qualidade do argumento, que é decisiva para o aproveitamento do filme. Mesmo quando o assunto é frases citáveis, linhas como “Quando ninguém é culpado, toda a gente é culpada“, não abandonam a memória. Além do mais, arranja meios de humanizar duas figuras que correm o risco de serem delimitadas aos seus valores, esquecendo a sua força motriz, o seu lado mais emocional e os seus erros. Em The Two Popes, as personagens são tridimensionais e é um prazer ver os atores a animá-las.

Há esforços para tornar a experiência o mais cinematográfica possível, o que nem sempre acontece. Por vezes, torna-se quase documental na forma como agita a câmara e imprime close-ups. Resulta, mas até certo ponto. Nada que comprometa esta aliança sagrada entre dois homens de Deus, que, embora não vejam olho com olho, unidos pela fé, colocam as suas diferenças de lado em prol de um bem comum. Uma mensagem importante nestes tempos fraturantes.

 

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