Obrigado Lito. Por tudo.
Recordo a vinda do Lito para o CF “Os Belenenses” com alguma admiração misturada com muito saudosismo, fruto talvez do momento delicado em que resolveu vincular-se ao clube.
Tenho na cabeça uma das primeiras frases que disse, em público, como treinador do Belenenses, parafraseando Miguel Torga: ” No momento que atravessamos, era um dever não fechar os ouvidos aos apelos que vêm destes lados. Maldito seja quem se nega aos seus nas horas apertadas.”
Lito podia ter ido pelo mais fácil: não aceitar o desafio, não pegar numa equipa que parecia condenada ao insucesso. Mas não. Lito, confrontado com o momento que o Belenenses vivia, resolveu ser parte da solução. Fez-nos sonhar. Veio mais pelo seu coração do que pela razão.
Começou com uma ambição arrebatadora, uma força incrível. A certo ponto, depois do jogo,em casa, com o Paços de Ferreira, penso que só ele e o seu grupo de trabalho acreditavam na manutenção.
Estreou-se contra o Porto. Fui ver esse jogo, ao dragão, com mais uns amigos. Na vinda para Lisboa encontramos a equipa na estação de serviço de Pombal. Um amigo meu perguntou ao Lito: “Mister, se para o ano descermos de divisão, fica cá ?”, ao que ele respondeu, sem pensar: “Para o ano estaremos na primeira liga.”, virou costas e foi-se embora. Obviamente que qualquer treinador, na sua situação, nunca podia dizer que não acreditava na manutenção, mas aqui, neste episódio, senti no Lito, um treinador especial: ele não só acreditava, como tinha a certeza que conseguiríamos a manutenção.
Lito devolveu ao Belenenses, a sua mística, a raça, a garra, o suor. Moldou a equipa à sua imagem quando era jogador de futebol. Fez-nos sonhar com o que já parecia impossível. Deu-nos a primeira vitória fora, contra o Gil Vicente, e fez-nos encher a Amoreira. Foi lindo, muito lindo, mesmo.
Este ano, as coisas começaram a entortar: picardias entre Sad e treinador previam um divórcio breve, antecipado. Assim foi.
A única coisa que crítico no Lito foi a sua falta de ambição até chegar aos 30 pontos. Podia-se ter ambicionado mais cedo a Europa. Mas mesmo isso não lhe tira o mérito de deixar a equipa a 4 (!) pontos da Liga Europa, quando o objectivo era… A manutenção.
Lito sai por uma porta demasiado pequena para o que fez pelo CF “Os Belenenses”, sem honra, sem glória. Que triste sina esta de tratarmos mal quem tão bem nos faz.