O resumo do concerto de ontem dos Guns N’ Roses no Passeio Marítimo de Algés
‘Patience’ tiveram os fãs dos Guns N’ Roses para esperar o regresso de Slash e Duff McKagan à banda liderada por Axl Rose. Desde 1997 que a formação da banda só tinha um elemento da formação original e celebrizada: Axl Rose. 20 anos depois, os fãs europeus têm o privilégio de ver três nomes maiores da história do Rock novamente juntos.
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Se para muitos o regresso de Slash e Duff aos Guns era impossível, muitos outros mantinham a esperança que tal voltasse a acontecer. O desejo dos fãs foi correspondido por Axl, o homem que nunca saiu da banda, e que foi sempre o líder (por vezes demasiado autoritário).
O regresso aconteceu o ano passado no Coachella na Califórnia, e desde esse momento a banda não tem parado nesta ‘Not in This Lifetime Tour’ passando por (quase) todos os cantos do planeta. Neste verão, é tempo de se apresentaram pela Europa. E uma data em Portugal era indispensável. 2 de Junho de 2017 ficará marcado na memória de todos os que se deslocaram ao Passeio Marítimo de Algés.
Num recinto à pinha, sentia-se a ansiedade no ar. Difícil não ver uma t-shirt alusiva à banda. Oficiais com o registo da data, outras com referências à tours anteriores (e que muitos que as usavam certamente não presenciaram), mas a grande maioria com a capa de ‘Appetite For Destruction’, o álbum de estreia que os lançou para uma altitude incomportável para a maioria dos mortais.
Às 21h00, começam-se a ouvir os tiros de aviso e a música cartoonesca dos ‘Looney Tunes’. Sinalética de que os primeiros acordes de ‘It’s So Easy’ estavam a chegar. Entrada fortíssima da banda em palco com recurso a pirotecnia.
Logo a seguir vinha ‘Mr Brownstone’ e estava lançada a festa em Algés. Comunhão total no público, ninguém fica indiferente à máquina de Rock n’ Roll que Rose conduz. Divididos entre a captação de imagens com o smartphone ou a dança ao ritmo da música, a verdade é que múltiplas gerações se encontraram naquele momento, partilhando a experiência.
Com um início focado no ‘Appetite for Destruction’, os Guns intercalaram essa entrada com ‘Chinese Democracy’, a faixa-título do álbum de rock mais caro de sempre e que demorou mais de dez anos a conhecer a luz do dia.
E à 4ª música, Axl convida-nos a entrar na selva com ‘Welcome to the Jungle’, mas sem o impacto que se esperaria. Provavelmente porque nesta reunião falta um dos ingredientes fundamentais para tal: a imprevisibilidade. Desde a edição da música, já se passaram 30 anos, e aquela que era a banda mais perigosa já não o é. As circunstâncias assim o ditam. Os 3 membros originais já passaram a casa dos 50, e tiveram que ser feita concessões para esta reunião ter efeito. Uma delas foi o desaparecimento do sentido de urgência dos Guns N’ Roses dos finais dos anos 80, início dos anos 90, por troca pela mecanização do espectáculo.
A partir daí, foi o show de Slash. Começando pelo ataque feroz às cordas em ‘Double Talkin’ Jive’, passando por ‘Better’, tornando-o numa música melhor (passe a redundância) do que a original, terminando a sequência com ‘Estranged’.
Pouco depois foi a vez de Duff assumir o protagonismo com ‘New Rose’. Duff que envergava uma camisola com a cara de Lemmy Killmister, falecido vocalista e baixista dos Motörhead, e no baixo tinha um autocolante lembrando outro ícone recentemente desaparecido, Prince. Quem reparou, provavelmente deu-se mais agradecido ainda por poder ver Axl, Slash e Duff juntos, visto que ultimamente o desaparecimento de reis do Rock tem sido uma constante…
A homenagem a outros músicos não ficaria por aí, seguindo-se uma versão de ‘Black Hole Sun’ dos Soundgarden, longe de perfeita, mas que serviu o propósito, sendo uma bela lembrança de Chris Cornell (ouviu-se a sua voz no final do concerto com a ‘You Know My Name’ a levar o público até a saída).
Por esta altura, Axl Rose já tinha trocado mais vezes de indumentária do que muitas pessoas ao longo de uma semana, e a atenção voltava a recair em Slash para a interpretação do ‘Love Theme’ do filme ‘The Godfather’, já clássico nos concertos da banda. Seguindo-se da ‘Sweet Child of Mine’ que correu dentro de esperado, sendo o maior momento de sing-a-along da noite.
Os Guns N’ Roses sempre foram uma banda que se superava na interpretação de músicas que não pertenciam ao seu catálogo e resolveram tentar com ‘Wish You Were Here’, mas que não passou de uma tentativa. Imediatamente recuperaram com ‘November Rain’, música que pode muito bem ser a melhor da banda (com um dos melhores videoclips de sempre). Apesar de ser um ás no catálogo da banda, não foi uma execução imaculada com a panóplia instrumental a dificultar a sua compreensão.
Aproximavamos-nos do encore habitual, mas antes uma das melhore sequências da setlist: ‘Knockin’ on Heaven’s Door’ de Bob Dylan, seguida de ‘Nightrain’, levando os presentes a fazerem de coro de suporte a Axl.
No encore, os fãs foram presenteados com ‘Patience’, em que Slash trocou o seu instrumento habitual por uma guitarra acústica. ‘Whole Lotta Rosie’ dos AC/DC marcou presença na setlist, provavelmente pela lembrança do concerto da banda australiana no mesmo local no ano passado, em que Axl Rose se estreou como vocalista dos AC/DC, por motivos de doença Brian Johnson o habitual vocalista da banda.
Para terminar, ‘Paradise City’ recheada de fogo de artíficio e confettis. Fim de festa que durou mais de 2h40 no Passeio Marítimo de Algés.
No final de contas, dificilmente alguém não terá saído satisfeito de Algés. Axl, Slash, Duff e restante banda deram um bom concerto, passando por todos os momentos da banda (passando demasiado no ‘Chinese Democracy’, no entanto), com poucas falhas na setlist (‘Don’t Cry’, ‘My Michelle’ e ‘Used to Love Her’ foram as maiores ausências), som bom para o local e para o vento que se fez sentir durante a noite, animações de topo, público entretido, Axl com uma prestação melhor do que às más-línguas apontam e Slash e Duff a mostrarem a importância e a vida que trazem a esta banda.
Não, não estamos em 1887 ou 1991 outra vez, mas não é preciso. A aceitação dos tempos em que vivemos é uma necessidade, e foi algo que os Guns N’ Roses fizeram. Não são a mesma banda perigosa de antigamente, mas não o precisam de ser.
SETLIST
It’s So Easy
Mr. Brownstone
Chinese Democracy
Welcome to the Jungle
Double Talkin’ Jive
Better
Estranged
Live and Let Die (Paul McCartney cover)
Rocket Queen
You Could Be Mine
New Rose (The Damned cover)
This I Love
Civil War
Black Hole Sun (Soundgarden cover)
Coma
Speak Softly Love (Love Theme From The Godfather)
Sweet Child O’ Mine
Out Ta Get Me
Wish You Were Here (Pink Floyd cover)
November Rain
Knockin’ on Heaven’s Door (Bob Dylan cover)
Nightrain
Encore:
Patience
Whole Lotta Rosie (AC/DC cover)
Paradise City