Gonçalo Silva falou, hoje, à equipa de comunicação da SAD do Belenenses, abordando a sua experiência com a Cruz de Cristo ao peito.
O defesas que começou a época de forma discreta, mas atualmente é um dos indiscutíveis no onze de Julio Velázquez. Depois de uma caminhada por divisões inferiores, em 15 dias estreou-se pelo Belenenses nas três competições internas e na Liga Europa. “Um sonho tornado realidade”, diz. Sem nunca esquecer as origens, é sempre o primeiro a chegar ao Restelo, estádio onde há sete anos prestava provas para entrar na Polícia…
FORMAÇÃO E UM CONVITE DO VALÊNCIA… RECUSADO PELOS PAIS
Foram 10 anos de formação no Barreirense. Dado que és natural do Barreiro, demonstra que és muito ligado às origens.
– É verdade. Foi lá que me formei como jogador e como homem. Ainda hoje vivo no Barreiro, porque gosto muito do clube e da cidade. Fiz muitas amizades, aprendi valores e foram 10 anos muito importantes na minha vida.
Nunca quiseste sair durante esse tempo ou não surgiram outras oportunidades?
– Foi por opção minha. Tinha colegas com mais capacidades do que eu para serem profissionais de futebol, mas faltou-lhes alguma cabeça. Quando era infantil, tive a possibilidade de assinar pelo Valência, mas os meus pais acharam que era demasiado cedo.
Em 2010, assinas contrato profissional com o Vitória de Guimarães, mas não correu como esperavas…
– Não cheguei a jogar pelo V. Guimarães e fui emprestado ao Lousada (II Divisão B). Foi a primeira experiência em campeonatos nacionais e foi bom para crescer. No ano seguinte voltei a ser cedido, desta vez ao Atlético (Liga 2) e correu muito bem. Apesar de a transição não ter sido fácil, joguei sempre com regularidade.
Seguiu-se o SC Braga, mas foi pela equipa B que mais te destacaste. Foi melhor do que estar no plantel principal e não jogar?
– Claro que sim. Quando se está numa equipa B, temos sempre esperança de jogar na equipa principal mas, com o passar do tempo, vemos que não é bem assim. Apesar disso, gostei muito de lá estar, sendo que fui capitão em duas das três épocas. Hoje sinto que estou mais preparado para o que quer que seja. Foram momentos complicados, mas que me fizeram crescer.
FELIZ NO RESTELO
No início desta época assinaste pelo Belenenses. Não hesitaste quando soubeste que havia essa possibilidade?
– Nem queria acreditar. Fiquei radiante, ainda por cima tratando-se de um clube histórico. Estando perto de casa também é muito importante, porque os três anos em Braga longe da família custaram-me muito. Foi muito bom, porque sabia que vinha para um clube espetacular e tinha a certeza que ia ser bem recebido.
É o sítio certo para evoluíres e dares continuidade à tua carreira?
– Sem dúvida. Pelas pessoas que nos rodeiam, pela SAD que sempre nos proporcionou tudo para termos um bom desempenho e também pelo grupo fantástico que encontrei. Sempre me apoiaram desde a minha chegada. Foi a melhor decisão que tomei e o melhor que me podia ter acontecido. Estou mesmo muito contente aqui.
Também tens uma legião de fãs que te acompanha em todos os jogos, seja em casa ou fora…
– São amigos do coração, que me acompanham sempre que podem e têm orgulho em mim. Fico muito feliz com isso, às vezes até me emociono com tanto apoio…
Recentemente, há cerca de um mês, renovaste contrato até 2019, numa ocasião em que o presidente Rui Pedro Soares fez questão de te elogiar: “É um excelente profissional e um líder pelo exemplo”.
– Foi muito importante. Vinha da Segunda Liga e não tinha provado que merecia estar aqui. Não estava à espera dessa renovação tão cedo, mas fiquei muito feliz e só me incentiva a trabalhar cada vez mais e melhor. Palavras do presidente? É sempre bom sentir esse reconhecimento, mas é para isso que dou o máximo todos os dias.
AS ESTREIAS, OS GOLOS E A TITULARIDADE
Esta temporada, praticamente não foste opção nos três primeiros meses. De repente, estreia pelo Belenenses na Taça da Liga, Taça de Portugal, Liga Europa e campeonato no espaço de 15 dias. Como viveste essas duas semanas?
– O que senti foi inexplicável. Sabia que tinha de aprender algumas coisas, adaptar-me ao grupo e ao futebol da Primeira Liga. Os primeiros tempos foram complicados, mas importantes para o meu crescimento. Essas duas semanas foram um sonho tornado realidade. A estreia no campeonato foi espetacular, mas na Liga Europa foi fantástico. Foi tão emocionante que nem tenho palavras para descrever…
Além disso, nesses quatro jogos foram quatro vitórias e zero golos sofridos.
– Foram boas estreias, mas não podia ter corrido dessa forma sem a ajuda dos meus colegas, porque não faço nada sozinho.
Pouco tempo depois, começaste também a descobrir a tua veia goleadora, que mais tarde confirmaste em dois jogos consecutivos. Imaginavas marcar três golos, por enquanto, no primeiro ano?
– Longe de pensar nisso, nem sequer ter 26 jogos realizados. Não esperava, mas felizmente tenho jogado com frequência. Quanto aos golos, foi a época em que marquei mais. A média era de um golo e este ano já levo três. Para qualquer defesa-central também é importante marcar, porque somos mais reconhecidos.
A meio da época, seguiu-se um período com alguma irregularidade em termos de utilização mas, a partir daí, conquistaste o teu espaço e somaste oito jogos consecutivos a titular. Sentes-te confiante e num grande momento de forma?
– Sem dúvida. Tive uma fase menos boa, mas consegui ultrapassá-la. Estes últimos jogos têm-me corrido bem, porque o ‘mister’ Julio tem-me transmitido confiança para ser titular. Sinto que estou numa boa fase da época, tenho crescido muito como jogador e que estou no melhor momento da minha carreira.
CONFIANÇA DE VELÁZQUEZ E APOIO DOS COMPANHEIROS
Tendo em conta o início da temporada, imaginavas acabar o ano como titular?
– O futebol dá muitas voltas. Sabia que era difícil, mas tinha fé e esperança que isso pudesse acontecer. É para isso que trabalho todos os dias e tento sempre dar o meu melhor para conquistar a confiança do treinador.
E conseguiste?
– Acho que sim. O ‘mister’ Julio tem-me passado ideias importantes para evoluir o meu jogo, que eu não tinha antes da sua chegada. Por isso, tem sido fundamental no meu crescimento e na minha afirmação na equipa. A ajuda dos meus colegas também tem sido essencial neste processo.
A nível coletivo, que balanço fazes desta temporada?
– Penso que foi uma boa época. Conseguimos o apuramento para a fase de grupos da Liga Europa e fizemos um campeonato tranquilo. Tivemos uma fase em que estávamos perto dos lugares de descida, mas a chegada do ‘mister’ Julio ajudou-nos a equilibrar e a atingir o principal objetivo. Nós e os adeptos queremos sempre mais, mas o balanço é positivo.
És sempre o primeiro jogador a chegar ao Restelo todas as manhãs. Essa forma de estar na vida foi o que te fez chegar a este patamar?
– No Barreirense e no Braga também era sempre o primeiro a chegar. Gosto disso. Prefiro chegar uma hora mais cedo e esperar, do que chegar em cima da hora e fazer tudo à pressa. Gosto de fazer as minhas coisas com calma e ir ao ginásio antes do treino.
Aos 24 anos, como projetas o teu futuro?
– A vida já me ensinou que não vale a pena fazer planos. Há sete anos atrás estava neste estádio a fazer provas para entrar na Polícia, no curso de Oficiais, e não aconteceu. Hoje estou no Belenenses e a jogar na Primeira Liga. Por isso, só tenho de continuar a fazer a minha parte e trabalhar todos os dias.
“NACIONAL? É A NOSSA HONRA QUE ESTÁ EM JOGO!”
Depois de dois resultados negativos no campeonato, com que espírito é que a equipa encara o jogo de domingo frente ao Nacional?
– Vamos entrar com tudo para vencer. Já não temos objetivos concretos, mas é a nossa honra que está em jogo e temos de dar o máximo para conquistar os três pontos. Quando entramos em campo, não é só por nós, mas também pelos adeptos, pela estrutura que nos rodeia e pelo símbolo que levamos ao peito. O nosso objetivo é conquistar duas vitórias nestes últimos dois jogos.
CURIOSIDADES
– Melhor momento da carreira? Estreia na Primeira Liga e na Liga Europa.
– Pior momento? Quando rescindi contrato com o Vitória de Guimarães.
– Jogadores de eleição? Ricardo Carvalho (Mónaco), Raphael Varane (Real Madrid) e Diego Godín (Atl. Madrid).
– Jogador mais difícil de defrontar? Islam Slimani (Sporting) e Nico Gaitán (Benfica).
– Número 37? Foi uma junção dos dois números que mais gosto.
– Alcunha? Gonguinhas.
– Superstições / Rituais? Orar antes dos jogos e quando entro em campo.
– Melhor amigo no futebol? Jorge Mendes (amigo de infância).
– Se não fosses futebolista? Professor de Educação Física ou Militar.
– Sonho? Representar a Seleção A.
Fonte: Os Belenenses SAD