“Escape At Dannemora” é a recente minissérie realizada por Ben Stiller e protagonizada por Patricia Arquette – que se saiu vitoriosa do Globo de Ouro de Melhor Atriz em Minisséries devido à sua incrível prestação -, Paul Dano e Benicio Del Toro.
Se à partida o nome pode parecer-nos familiar, isto deve-se ao facto de o tema ser algo bastante recente: a fuga de uma prisão de alta segurança que ocorreu em 2015 nos Estados Unidos e que na altura foi uma grande notícia. No entanto, logo por aqui sentimos que não temos uma história nova, pois já vimos imensas séries e filmes com este tema, como é o caso, por exemplo, de “The Shawshank Redemption” ou “Prison Break”. Então, o que faz com que “Escape At Dannemora” se torne diferente e mereça a nossa atenção?
Dividida em sete episódios com aproximadamente sessenta minutos cada (exceto o último, que tem 1h30m e que poderia perfeitamente funcionar sozinho como se fosse um filme), “Escape At Dannemora” apresenta-nos o trio Tilly, Richard Matt e David Sweat; a mulher trabalha na prisão e os dois homens são prisioneiros com os quais ela mantém um relação “amorosa” (entre muitas aspas, pois carece totalmente de afetos) e pelos quais é atraída ao ponto de ser um meio para que eles consigam escapar. Ao longo dos episódios é precisamente isto que vemos: o a criação do plano de fuga por parte de Matt e Sweat, a preparação do caminho para a liberdade e as consequências da fuga.
O primeiro episódio é capaz de nos agarrar com força, especialmente porque consegue mostrar as coisas de uma forma bastante crua, que, por muito estranho que pareça, nos deixa curiosos e interessados em continuar a ver.
Vemos, desde logo, a aproximação existente entre Tilly e Sweat e sentimos uma certa repulsa. No entanto, no segundo e terceiro episódio a nossa repulsa aumenta ainda mais, quando Matt e Tilly começam também a aproximar-se. Ganhamos nojo por Tilly, mas achamos que ela apenas não tem noção do que faz, e detestamos Sweat e Matt porque percebemos facilmente que estão apenas a usar Tilly para atingir um objetivo.
Depois do arranque incrível do primeiro episódio é preciso dizer que a série fica um tanto enfraquecida e perde velocidade, com dois episódios em que apenas temos o trio entre relações sexuais e pouco mais. Ao mesmo tempo, claro, o plano vai sendo preparado, mas não são visíveis grandes avanços.
Já no quarto episódio começamos finalmente a sentir um pouco do cheiro a liberdade, mas é só no quinto que vemos a luz do dia, com os dois prisioneiros a conseguirem escapar, apenas para perceberem que não sabem muito bem o que fazer daí em diante.
É, então, que levamos uma espécie de tiro, um perfeito murro no estômago com um sexto episódio incrível que está perfeitamente situado. Quando damos por nós a torcer para que os dois homens consigam escapar, é-nos apresentado o passado de cada um e vemo-los a cometer grandes crimes, que nos deixam a querer que eles sejam apanhados o mais rápido possível e que sejam arrastados para a prisão novamente. Também aqui vemos o passado de Tilly e se acreditávamos que ela era apenas inocente nas suas ações, perdemos todas as nossas dúvidas e temos a confirmação de que Tilly é apenas uma mulher horrível. Este episódio funciona bastante bem, porque apresenta o crescimento das personagens e mostra quem os três verdadeiramente são, pois dentro da prisão até não pareciam ser assim muito maus, apesar de cometerem algumas heresias…
O último episódio centra-se, como seria de esperar, nas buscas feitas pela polícia para encontrar os prisioneiros e também no modo como descobriram como estes conseguiram escapar, chegando, assim, até Tilly.
Se por alguns episódios pensamos em desistir de “Escape At Dannemora” por começarmos a achar que vai ser sempre tudo igual, no final dos sete episódios percebemos toda a demora nos episódios principais.
Ben Stiller revela aqui ser um realizador bastante perspicaz e apresenta sequências excelentes e muito inovadoras (como é o caso da sequência que mostra o tubo por onde os homens escaparam).
Os atores brilham e é uma pena que o trabalho de Benicio e Dano não tenha sido tão reconhecido como o de Arquette, ainda que, de facto, e talvez por o papel desta ser diferente, esta brilhe um pouquinho mais – até porque se apresenta completamente diferente daquilo a que estamos habituados a vê-la, com uma maquilhagem que a envelhece, uma dentadura e, claramente, mais alguns quilinhos.
O resultado desta série consegue resultar em algo memorável, especialmente para quem acompanhou realmente os acontecimentos de 2015 e foi capaz de encontrar algumas semelhanças (por exemplo, entre atores e pessoas reais). Claramente foi tudo pensado ao pormenor, de modo a não parecer demasiado ficção, como é até notável pela naturalidade dos diálogos.