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Entrevista com Gonçalo Lírio Batista, diretor da modalidade Andebol do Belenenses

Entrevista com Gonçalo Lírio Batista, diretor da modalidade Andebol do Belenenses

A Comunidade Azul esteve à conversa com Gonçalo Lírio Batista, um sócio de família Belenenses que quando nasceu já tinha uma proposta de sócio para ser preenchida, acabando por se efetivar quando tinha um ano de idade (1977). Foi durante muitos anos sócio/atleta tendo praticado andebol no belenenses desde infantil até ao escalão sénior, não dando continuidade à carreira de atleta por razões pessoais, mas nunca deixando de participar na vida ativa do clube na qualidade de sócio, nunca como dirigente até agora que aceitou o convite para dirigir o andebol do Belenenses como diretor da modalidade.

Comunidade Azul (CA) – No que respeita ao andebol de forma geral, como vê o estado da modalidade em Portugal?

Gonçalo Batista (GB) – Essa é um pergunta muito sentimental  porque acho que o andebol teve uma fase nos finais dos anos 90 em que teve realmente um desenvolvimento franco durante uma década e meia mas regra geral o andebol é uma modalidade não muito protegida, acarinhada. É óbvio que nós aqui temos que fazer a distinção daquilo que é o panorama nacional e aquilo que é o panorama Belenenses. No panorama nacional o andebol sempre foi uma das modalidades de pavilhão com mais praticantes mas, no entanto, a visibilidade da modalidade nem sempre foi a melhor, não sei se por razões na altura de dirigismo se por razões culturais. O que é facto é que o andebol em geral não é uma modalidade muito divulgada. É curioso e mais uma vez repito, que a nível de praticantes já não seja bem assim.  O andebol tem de facto um numero de praticantes muito grande, tenho que dizer que do Mondego para cima muito mais. Existem, por exemplo, na região do grande Porto clubes só de andebol, que têm andebol masculino e feminino desde as escolinhas até aos seniores. Existem culturas muito diferentes, diria eu, geográficas. Já na grande Lisboa tem obviamente os três grandes e quando digo os três grandes, é Benfica, Sporting e Belenenses. Depois o Belenenses, a seguir ao Sporting na área de Lisboa, será quem tem mais títulos. As coisas têm mudado muito nos últimos tempos, nomeadamente na formação que também é um assunto que me preocupa bastante. Por outro lado, no Belenenses atravessamos uma fase muito delicada da nossa vida, a modalidade tão acarinhada e tão vivida pelos sócios do belenenses está a passar grandes dificuldades, temos um orçamento muito deficitário e, muito honestamente, é um dos maiores desafios da minha vida. Obviamente que sabíamos que a anterior direção assumiu o andebol como uma modalidade do clube portanto, uma modalidade que não era autónoma e neste momento temos que viver com isso. Agora o objetivo é tornar a modalidade autónoma, é fazer renascer a alma dos fundadores do Belenenses projectando-a na modalidade, criando uma diferenciação na gestão, vamos ter uma visão, uma missão e valores para a modalidade. Vamos ter, pela primeira vez, um organograma para a modalidade onde toda a gente vai saber o que esta a fazer e o que pode fazer. Vamos ter cinco áreas funcionais e vamos criar uma coisa que eu acho que é única na história da modalidade que é aquilo a que eu chamo “advisory board”, ou seja, fora da modalidade e fora do organograma nós estamos a convidar ilustres Belenenses, que já tiveram responsabilidades na gestão da modalidade, para pontualmente darem o seu contributo, para que nós possamos todos, e quando todos digo nós Andebol e nós Clube, sócios e adeptos conseguir os sucessos que todos nós aspiramos para o andebol do Belenenses.

CA  Como é que pensa poder levar a bom porto esta secção na projeção do futuro tendo em conta que é uma das modalidade com maior tradição no clube?

GB  Para já uma coisa que é básica em gestão, que é ter um orçamento, ninguém sabe muito bem qual é o orçamento, não estou a aqui para criticar a anterior gestão estou aqui para fazer o que me compete que é dirigir o andebol e aquilo que tem que se fazer desde já é definir um orçamento para a modalidade. Depois há que saber com rigor quais são os custos que estão envolvidos com a nossa atividade diária, estou a falar de inscrições, policiamento, equipamentos, salários, aluguer de pavilhões, de tudo o que é a nossa gestão diária. Depois de identificar isto que é uma coisa que estamos a terminar de fazer,toda a estratégia da secção vai passar por uma coisa que é básica, que é devolver o Pavilhão Acácio Rosa aos sócios, ou seja, é de todo desolador ver as assistências do pavilhão e para isso nós sabemos que temos de ter uma equipa de seniores que ganhe jogos e para isso temos que ter um orçamento que não seja deficitário; temos que desenvolver uma dinâmica da modalidade que seja agradável, que seja atrativa não só para os sócios mas para as suas famílias. Aquilo que está preconizado é que haja uma radical mudança no marketing da modalidade, da comunicação da modalidade com o Clube e da comunicação da modalidade com os adeptos. Vai obviamente levar tempo, hoje o que lhe digo é que até ao final da época nós vamos fazer um “bocadinho de bombeiro” apagando os fogos que vamos encontrando, vamos obviamente a montante trabalhar para preparar já a próxima época para não termos nenhuma surpresa desagradável. Obviamente que a formação está a passar por um período complicado, é verdade que nos últimos três, quatro anos houve alguma fuga de talento da nossa formação para outros clubes quiçá uma politica muito centrada nos seniores terá feito também com que não se tenha desenvolvido ações que permitam captar talentos noutros sítios e trazê-los . Vou dar-lhe um exemplo muito claro: uma das ideias que temos para esta modalidade é desenvolver, ainda que em pequena escala aquilo que França fez há 25 anos ehoje em dia, França é Campeã, Europeia, Mundial, Olímpica e fez uma coisa muito simples que foi, aproveitando o andebol que é um desporto escolar em França, tal como o é em Portugal, identificou talentos nas escolas e em regime de internato trabalhou-os diariamente, obviamente que nós não podemos fazer isto, nem o Belenenses nem a sociedade portuguesa tem condições para fazer um projeto desta envergadura, no entanto, podemos sim, trabalhar com as escolas, temos dois agrupamentos limítrofes aqui, junto do Restelo, depois podemos e quem sabe, até porque já temos um protocolo feito pela equipa que estava anteriormente com o Sassoeiros, ou seja viramos para ocidente, ou seja quem sabe concelho de Oeiras, Cascais também pode ser uma boa sinalização e crescermos exponencialmente o nosso universo e ai vamos ter que obrigatoriamente recrutar e captar os jovens talentos para o Belenenses e dizer-lhes que é melhor jogar no Belenenses que no Benfica, Sporting, Boa-Hora, Sassoeiros, sem desprimor para os clubes, mas o Belenenses tem uma história nesta modalidade, foi a primeira equipa a quebrar a hegemonia do Sporting, nos anos 70/80, depois disso fomos só campeões em 93/94, eu na altura era juvenil, salvo erro, juvenil de ultimo ano ou júnior de primeiro ano, mas lembro-me que o Acácio Rosa estava cheio e isso é muito importante. Tudo passa pela dinâmica que nós possamos imprimir na modalidade, chamar os adeptos chama patrocínios porque a visibilidade é maior e entramos aqui numa economia de marketing normal, que é, maior visibilidade, maior capacidade de captar patrocínios, com maior capacidade de captar patrocínios, maior orçamento e mais investimento, com mais investimento supostamente maior sucesso desportivo. É bom dizer que o Sporting há 10 anos que paga a uma equipa a peso de ouro para ser campeão e não foi ainda, por isso temos que ter alguma cuidado quando fazemos estas avaliações. O que se pode dizer é que o Sporting, não é primeiro é segundo, ganhou uma Taça Chalange, ganhou duas ou três Taças de Portugal, mas a verdade é que tudo passa por uma radical mudança de cultura dentro da modalidade, foi aquilo que o Porto fez há 12/13 anos e há uma coisa que eu costumo dizer muitas vezes: Nós não temos que ter receio, nem falsa humildade por copiarmos os bons exemplos! Já dizia o poeta: «O plágio é o motor do mundo» e nós vamos copiar aquilo que é bom e evitar aquilo que é mau. Basicamente e resumindo em uma ou duas frases é: Mudança de cultura; mudança de mentalidades; cultura de exigência (obviamente que só podemos exigir se cumprirmos).

CA – Falou numa mudança radical no marketing da própria modalidade perante os sócios de forma a “devolver” o pavilhão aos sócios e adeptos que antigamente enchiam este pavilhão. Já tem, com certeza, algumas ideias para pôr em prática que deseje partilhar de forma a que percebamos aquilo que podemos esperar do andebol para o futuro?

GB – Para já a minha visão do desporto: é um desporto espetáculo e a Federação Portuguesa de Andebol teve, durante vários anos, um lema que era: « O andebol é um espetáculo» e é verdade, o andebol é um espetáculo, nós vamos a uma “Final Four” da Liga dos Campeões e vemos que a “Final Four” é disputada com um pavilhão cheio mas mais do que isso, para além do andebol existem vário espectáculos  ao mesmo tempo, a “Final Four” abre com um espetáculo de musica, no intervalo tem uma outra atuação, à parte daquilo que é o desporto existe obviamente a preocupação de atrair o publico e o andebol do Belenenses não pode ser diferente. Aquilo que está previsto é que se arranje um animador que irá ter a responsabilidade de, não só dar o “line up” das equipas tanto de arbitragem como dos jogadores mas terá também a responsabilidade de dinamizar o apoio das bancadas para dentro do recinto. Já nós sabemos que a mente humana é magnifica e o que nós conseguimos perante as adversidades, perante o estímulo exterior, conseguir com que as nossas adversidades se transformem em forças e as forças se transformem em sucesso.

Portanto uma das ideias é,para já, ter um animador para os jogos de andebol sénior e criar eventualmente um micro espetáculo quando os jogadores entram, isto é recriado principalmente na Europa Central e no Norte da Europa, por exemplo na Bundesliga, quer na primeira quer na segunda divisão, os jogadores entram com fogo de artificio, fumos, espetáculos de musica e isso mais uma vez faz com que alguém que está em casa diga «Eu vou ver um jogo de andebol», não, não vai ver só um jogo de andebol, vai ver um jogo de andebol mas vai ver todo o espetáculo que está à volta do jogo de andebol e eu acho que é por aí que nós temos que ir, acho que o próprio pavilhão tem que mudar, nós temos que tornar o pavilhão mais apelativo. É justa uma homenagem aos antigos campeões do Belenenses, provavelmente conseguiremos fazer ou ter algumas imagens dos antigos campeões do clube que dará outra estética ao pavilhão e que fará para já, com que essas pessoas se sintam reconhecidas, mas com que quem vem ao Belenenses se recorde da mística que existia nos anos 80 e 90 e que seja também um estímulo para os adeptos e que possam capitalizar isso em apoio para os jogadores que estão dentro de campo. Temos obviamente mais ideias, vai haver em principio em dezembro um torneio inter-escalões, que para além de ter como objetivo angariar fundos para a modalidade, vai servir para apresentar uma surpresa (não vou já dizer o que é), que eu acho que os miúdos mais pequenos e as famílias vão gostar. Tem tudo a ver com a cultura que se quer dar ao andebol, mas não posso dizer o que é senão não seria surpresa naquele dia.

Obviamente que há outras iniciativas, eu acho que há uma iniciativa muito engraçada que é criar uma caderneta de época, onde cada sócio, simpatizante ou fã do andebol do Belenenses, pode no final de cada jogo tirar uma fotografia com o seu jogador favorito (ou não) para fazer uma caderneta de época, ou seja, através de uma foto poloroid personalizada que vai ser da pessoa com o jogador, irá haver uma caderneta própria para colar a poloroid; no final quando tiver as fotografias com todos os jogadores será oferecida uma camisola autografada por todo o plantel. Isto é uma das ideias que obviamente penso que vai fazer com que o andebol seja visto dentro do clube com outros olhos, como uma modalidade que tem a capacidade de cativar os sócios, há outras ideias, mas não quero nesta altura desvendar tudo, teremos outras oportunidades.

CA – Relativamente à parte financeira e para recuperar os sócios e adeptos que se foram afastando e uma vez que os sócios têm que pagar as cotas e outros valores, está previsto alguma tipo de conceito como algum cartão especifico?

GB – Há, é uma das outras iniciativas que eu não queria de uma só vez desvendar, mas sim vai haver um cartão de fã da modalidade, ou seja, não é obrigatoriamente uma pessoa que seja sócia do Belenenses, porque, por exemplo, nós temos a noção de que muita gente que passou por aqui, que era assumidamente de outro clube, no andebol não torce por mais ninguém sem ser pelo Belenenses e portanto para eles ex- atletas que nunca deixaram de viver o andebol do Belenenses vai haver um cartão de fã da modalidade sem obrigatoriamente ter que ser sócio do Belenenses. Para aqueles que são sócios do Belenenses e que eventualmente estarão a passar, como todos, como a sociedade, maiores dificuldades, obviamente que sim, eu acho que tem que haver uma preocupação, primeiro que tudo social, transversal ao cartão de fã, ou transversal ao ser sócio; eu acho que as modalidades têm que se unir para fazer uma cartão da modalidade, um dia da modalidade. Eu lembro-me de em pequeno vir ao Restelo e os jogos eram ao domingo á tarde, não havia televisão e se havia jogo antes de andebol nós vínhamos ver, se havia depois nós ficávamos para ver, basket, hóquei em patins e por isso acho que há que devolver ao Belenenses aquilo que eram as grandes romarias de domingo ao Restelo, não só ao campo de futebol 11, mas ao pavilhão, mas para isso o Belenenses tem que pensar nisso. E por isso acho que vale a pena haver um bilhete único para o dia das modalidades, eu lembro-me que a ultima vez que vim ver um jogo de futsal, acho que se pagava 5 euros como sócio e depois mais 2 euros para ir ao andebol, portanto eram  logo ali 7 euros e houve muita gente que não ficou com o andebol, não sei se por isso ou se por não lhe interessar o andebol. Eu acho que as modalidades devem ter esta preocupação, o andebol por si obviamente que terá esta preocupação que eu acho que faz todo o sentido.

CA – Acredita que enquanto diretor do andebol irá ter uma equipa campeã?

GB – Eu acredito, senão não estava aqui (risos), mas este ano os dados estão lançados, para o ano vamos ser nós a lançá-los, mas também não acredito que para o ano isso aconteça, mas acredito que em 2016/17 isso aconteça. Porque há uma coisa que nós não nos podemos esquecer, nada hoje em dia no desporto se faz sem dinheiro e portanto nós não nos podemos esquecer que o dinheiro, neste tipo de situações, advém de uma liquidez que o clube, neste caso tem ou não tem, ou que a modalidade tem ou não tem e também não nos podemos esquecer que o andebol do belenenses o ano passado passou por um período muito complicado. O arranque da época deu-se com cinco jogadores, isso foi publico, eu tenho conseguido alguns contactos para conseguir patrocínios em que as primeiras perguntas que me fazem é : «Então como é que estão as coisas?», «Se há, ou não estabilidade», «Qual é a visibilidade que vou ter?», «Se não vou ser associado a um clube que está sempre nas bocas do mundo pelas piores razões financeiras» e vamos ser honestos e coerentes, quem põe dinheiro aqui tem que ter retorno e portanto mais do que isso (a não ser que seja um mecenas que queira por 300 mil euros e este valor é um numero simpático e se alguém quiser dar 300 mil euros eu acho que se consegue fazer um orçamento para uma equipa que lute pelo titulo) aqui a questão é criar mais-valia a nível de modalidade, a nível de marketing aquilo que os patrocinadores ou potenciais patrocinadores têm que ver no Belenenses é que a marca “Belenenses” é capaz de vender e para isso nós temos que equilibrar a modalidade, deixar de estar na boca do mundo pelas piores razões, ter uma formação competitiva que passa por aquilo que já falei de manter e captar novos talentos, passa por ter uma equipa de seniores que lute pelos primeiros lugares e para isso há uma caminho a percorrer e eu acho que um ano e meio é o suficiente para o percorrer. Tem que ser assim, há que ser otimista, mas ao mesmo tempo, ser pragmático. Resumindo, criação de alicerces, estabilidade, captação de talentos e de dinheiro e eu penso que o Belenenses tem condições para ser campeão na época 2016/2017.

CA – Para terminar, tem alguma mensagem para deixar aos sócios ou algo que queira dizer a todos os adeptos da modalidade do Belenenses, daquilo que realmente acredita e que lhe vai na alma, sobre o Belenenses e daquilo que tem visto no nosso pavilhão?

GB  Bom aos Belenenses em geral, que estejamos unidos, que rememos para o mesmo lado, estamos numa altura muito delicada da vida do clube e acho que só com união e espírito de resiliência é que nós podemos mudar o presente que temos no clube. Queria obviamente ver o pavilhão cheio. Basicamente acabar a dizer para as pessoas acreditarem, acreditarem que, nós estamos a criar uma equipa e um modelo de organização que tem tudo para dar certo, que tem tudo para ter sucesso, mas que obviamente como tudo na vida, costuma-se dizer que o que conta são as pessoas e o que conta são as pessoas dentro do campo e fora do campo e se não houver apoio fora do campo vai ser muito complicado. Numa breve nota só para dizer que no jogo com o SP. da Horta tivemos um comportamento muito bom, jogámos muito bem, mas foi engraçado perceber que no Pavilhão Acácio Rosa estiveram quase tantos apoiantes do SP. da Horta que vem dos Açores, Faial, como estavam Belenenses, o que é uma coisa estranhissima. E portanto o apelo é que as pessoas participem, no andebol tudo faremos para que o pavilhão se torne num sítio de família, um sítio atrativo, um sítio onde se passe uma boa tarde e onde se conquistem muitas vitórias e muitos sucessos para o Belenenses.

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Comunicado: Bingo Belenenses

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