“Operação Entebbe” (7 Days In Entebbe) é a mais recente produção de José Padilha para o cinema. Neste filme o realizador brasileiro tenta apresentar uma visão dos aconctecimentos da Operação Entebbe, missão de resgate levada a cabo pelas forças israelitas em 1978 para resgatar os reféns do sequestro de um avião em Entebbe, Uganda
José Padilha, o responsável por obras como ‘Tropa de Elite’ (e a respectiva sequela), ‘Narcos’ ou a série que está a derramar muita tinta actualmente no Brasil, ‘O Mecanismo’, regressa ao cinema depois da sua recriação de ‘Robocop’ de 2014 com um filme inspirado nos factos reais do sequestro de um avião da AirFrance de Tel Aviv para Paris em 1978 e que pousou em Entebbe, Uganda. O sequestro foi organizado por 2 alemães e 2 palestinianos com o intuito de poderem negociar a libertação de presos da Frente de Libertação Palestina.
O filme apresenta-nos o momento do sequestro, seguido da missão de resgate por parte das forças israelitas, e por isso informa-nos logo de início da sua pouca vontade em tomar lados ou posições na discussão. O que parece uma política acertada para um diplomata, neste filme acaba por se tornar o seu tormento. Isto porque contribui para um filme pouco emocionante e que tem um “sabor” estranho na filmografia de Padilha. O realizador ainda agora colocou o seu país em rebuliço com a sua nova série ‘O Mecanismo’, e não tem por hábito não politizar e demonstrar as suas posições de forma vincada nas suas obras.
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É compreensível que não o tenha feito nesta obra, ainda por cima quando está em causa o conflito complicado entre Israel-Palestina, mas percebe-se que o realizador brasileiro não se sente à vontade com este tipo de política e não foi capaz de criar momentos de tensão na película. O momento com maior carga dramática chegou no final com a missão de resgate, mas que só suscitou interesse devido à boa interligação com a dança com coreografia de Ohad Naharin e representação da Batsheva Dance Companhy.
Ao longo dos 107 minutos de filme, ‘Operação Entebbe’ apresenta-nos os vários passos daqueles dias complicados e as personalidades mais envolvidas nas operações. Focando maioritariamente nos dois raptores alemães, Brigitte Kuhlmann (Rosamund Pike) e Wilfried Böse (Daniel Brühl), somos confrontados com as motivações e ideologias de cada uma das personagens, mas não sentimos uma grande ligação com nenhuma delas (culpa de diálogos desinspirados), apesar das boas prestações dos actores. Wilfried Böse tem no entanto uma citação marcante, quando um dos sequestradores palestinianos questiona a sua lealdade à causa: “Quero bombardear as consciências das massas”.
Visto que o filme se passa em Uganda, temos obviamente uma representação do ditador Idi Amni que comandou o país africano de 1971 até 79, embora que o seu retrato neste filme seja um dos seus pontos negativos devido a uma certa “cartoonização” da sua personalidade e que fica muito longe do que já vimos em representações anteriores como a de Forest Whitaker em ‘The Last King of Scotland’.
A música de Rodrigo Amarante e a oposição da beleza da arte (especialmente nos momentos de dança da personagem Patricia Martel) em relação ao ódio e guerra são alguns dos pontos positivos que mais se destacam neste filme.
‘Operação Entebbe’ (7 Days In Entebbe) infelizmente fica aquém das expectativas geradas em comparação com o registo de sucessos que Padilha apresenta na sua carreira, tal como dos actores principais Daniel Brühl e Rosamund Pike. Com o sequestro e resgate como pano de fundo para a narrativa, o filme desperdiça a sua potencialidade com alguma falta de ambição. A tentativa de justificar cada ponto de vista presente no filme, fez com que assistíssemos a um filme demasiado “insonso” que não parece ser obra de alguém como Padilha. Salvam-se as boas prestações dos dois actores principais, a música de Rodrigo Amarante e os momentos cénicos misturados com a acção principal.