Dois anos se passaram desde que Jordan Peele se estreou como realizador com “Get Out”, um filme surpreendentemente intrigante, capaz de deixar qualquer um agarrado ao ecrã. O sucesso desse filme é o grande motivo que levou a um certo hype em relação ao segundo filme de Peele, que se tornou, assim, num dos filmes mais aguardados do ano: “Nós”.
Protagonizado por Lupita Nyong’o, a trama acompanha uma família que se muda para o local onde a protagonista cresceu e onde viveu um grande pesadelo que a deixou para sempre traumatizada: enfrentou alguém igual a ela. É, então, depois da mudança, que esta volta a sentir a presença dessa pessoa e a serenidade da família não dura muito, pois rapidamente começam a ser ameaçados por um grupo de doppelgangers…
Sejamos honestos, este filme prometia ser um verdadeiro pesadelo e, pelos trailers e imagens divulgados, parecia ser chocante e aterrorizante. Infelizmente, de terror pouco tem, mas tem muito suspense (assim como “Get Out”), o que nos deixa curiosos para saber o que realmente se está a passar e quem são aquelas pessoas iguais aos protagonistas.
Logo desde início, e este é um dos primeiros aspetos positivos que saltam à vista (ou aos ouvidos) assim que o filme começa, é de destacar que “Nós” tem uma banda sonora arrepiante, com acordes vibrantes que correspondem exatamente aos momentos em que ocorrem, estando em sintonia com as ações das personagens. A escolha de algumas músicas também foi interessante, levando a momentos de verdadeiro humor.
Outro aspeto relevante é o excelente trabalho por parte dos atores, com destaque para Lupita, que sai aqui um pouco do seu regime normal de atriz e mostra-se ainda mais versátil. Ao interpretar duas personagens, assim como grande parte do elenco faz, mostra duas facetas completamente diferentes. Também os atores mais jovens estiveram bastante bem e é preciso referir isso.
Talvez por existirem grandes expectativas em relação ao filme e ao trabalho de Jordan Peele enquanto realizador e escritor, devo admitir que senti uma certa dispersão na história. É como se a determinado momento as ideias geniais tivessem desaparecido e a história começa a tomar um caminho mais vulgar. É uma pena, pois o fator-surpresa, ou seja, o motivo pelo qual existem aqueles “duplos”, parece ser um pouco precipitado e anti climático. Por sua vez, aquando do final percebemos que existem muitas pontas soltas.
Agora, apesar do que referi anteriormente, uma coisa é certa: “Nós” traz quase duas horas de puro suspense, entretenimento e, muitas questões (“mas o que raio se está a passar aqui?”) que nos deixam a pensar – e, quanto mais nelas pensamos, começamos a entender coisas que ao início nos tinham passado completamente ao lado. Isto a juntar a uma excelente cinematografia (tenho de destacar o plano da praia, em que a família vai a caminhar na areia com as sombras gigantes), torna este filme em algo memorável. Se é tão bom quanto “Get Out”? Muito provavelmente não, mas também não fica muito atrás.