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À conversa com a organização do Festival “Chapéus na Rua”

À conversa com a organização do Festival “Chapéus na Rua”

O CA Notícias esteve à conversa com Tiago Fonseca e Rita Sarzedas, membros da organização do Festival “Chapéus na Rua” – Lisbon’s Busking Festival, um festival de expressão artística que acontece nas ruas de Lisboa.

“Chapéus na Rua” inicia no dia 10 de setembro com workshops direcionados ao público com formação nas áreas do espetáculo, mas também para aqueles que queiram aprender mais sobre esta área.

De 14 a 16 de setembro, o festival estará em diferentes pontos da cidade com demonstrações de teatro, música, malabarismo, dança, mastro chinês e marionetas. O programa inclui 14 artistas nacionais e internacionais, estando representados países como a Argentina, Espanha, Inglaterra e Alemanha.

Tiago Fonseca e Rita Sarzedas, membros da organização do Festival, falaram connosco e partilharam um pouco da história e objetivos do evento, bem como do que será a 3.ª edição do “Chapéus na Rua”.

Como começou o “Chapéus na Rua” – Lisbon’s Busking?
Da união improvável entre um artista de circo e uma arquiteta nasce a ideia de trazer a Lisboa um festival de circo e artes de rua. Vivíamos no estrangeiro há mais de 10 anos e estávamos cheios de vontade de voltar a Portugal. Queríamos entrar no mercado de trabalho, criando trabalho para os artistas residentes cá e, ao mesmo tempo, estudar a cidade de forma a inserir o festival em zonas com necessidade de regeneração urbana e social.

Uma vez em Lisboa aliciámos outros profissionais para se unirem a nós nesta aventura e juntos, começámos por criar parcerias: abordámos a EGEAC, a Junta de Freguesia de Arroios, o comércio local, várias entidades culturais como o Chapitô e o Largo Residências. Não tínhamos qualquer financiamento e ninguém nos conhecia por isso, para conseguir produzir a primeira edição, recorremos ao crowdfunding onde angariamos um valor mínimo para levar o festival para a frente. Contámos com a ajuda de uma equipa de voluntários e artistas portugueses e juntos fizemos o primeiro “Chapéus na Rua”.

Quais os objetivos do evento?
Fomentar, valorizar e promover o novo circo e as artes de rua. Promover a participação e qualificação das comunidades e dos públicos na cultura. Promover a diversidade e qualificação dos profissionais das artes. Dar a Lisboa um marco social e cultural único. Mostrar que o capital social e cultural pode ser incubado de tal maneira em que a gentrificação cultural cure a cidade e a sua sociedade. Contribuir para a diversidade e qualidade da oferta artística em Portugal. Dinamizar a internacionalização das artes e da cultura portuguesa. Criar um HUB de circo e artes de rua em Lisboa. Promover a arte de rua como uma peça estrutural da expressão artística urbana, enaltecendo o artista de rua, ultrapassando as paredes dos museus, das galerias e das grandes salas de espetáculos, para levar ao público uma forma de arte de elevada qualidade artística e acima de tudo humana, próxima e surpreendente.

O que é o Busking e porquê este formato de festival?
O conceito Busking inspira-se na tradição milenar em que o teatro primava pelo contacto mais direto com os espectadores no centro da polis. Os artistas fazem as suas performances e no final passam o seu chapéu para que o espetador, consoante a sua opinião e dentro das suas possibilidades económicas, dê uma contribuição pelo espetáculo a que assistiu.
A passagem do chapéu contribui para a educação do público na medida em que incita o espetador a valorizar as artes de rua, criando uma bilheteira democrática onde o cada um decide o valor da doação.

Escolhemos este formato de festival por duas razões. Queríamos corrigir as assimetrias de acesso à cultura e o Busking, a tal bilheteira democrática, permite o acesso a qualquer público deste tipo de espetáculos que normalmente só é possível aceder nas grandes salas de espetáculo. Por outro lado ao sermos uma entidade recém-chegada a Lisboa e sem qualquer tipo de financiamento, foi uma fórmula para iniciar este projeto e garantir que os nossos artistas fossem remunerados pelas suas performances. No fundo foi um apelo à população para o seu apoio direto à cultura.

Qual a importância deste tipo de evento para artistas e público?
Este tipo de evento promove o reconhecimento das artes de rua pelas entidades governamentais e pela população. Existe uma grande diferença entre um artista de rua profissional e o que se entende em Portugal por artista de rua, e essa é uma das nossas grandes lutas. Enaltecer o artista de rua e promover oportunidades de mostrar que em território nacional existe elevada qualidade artística. O festival aposta na arte nacional, no trabalho com artistas emergentes e consolidados e na sua promoção.

No que diz respeito ao público, o nosso objetivo a longo prazo é conseguir descentralizar o festival, aproximando-nos das periferias da cidade onde a oferta cultural é reduzida e ativar espaços públicos em desuso ou subaproveitados. Permitindo assim que outros bairros da cidade tenham acesso a este tipo de evento que oferece programação diversificada, ao mesmo tempo que tentamos atrair turismo a estas zonas da cidade e promovendo o comércio local.

Os artistas e espetáculos de rua são ainda vistos como a ala pobre das artes performativas?
Achamos que esse estigma está mudar. Nos últimos 10 anos, o circo e as artes de rua têm-se afirmado no panorama cultural como uma das áreas emergentes no país. Isto pode verificar-se pelo aumento de festivais e eventos desta área, que contribuem para o reconhecimento destas artes. O nosso trabalho no festival passa também pela formação de públicos, que ainda não sabe reconhecer a qualidade do trabalho do artista nem quanto deve contribuir no seu chapéu. Para desenvolver este trabalho de formação de públicos iniciámos um evento dirigido às escolas, de forma a promover desde cedo o capital cultural e social para o apoio a esta arte.

O que falta fazer em Portugal para a promoção das artes circenses e de rua como parte integrante da cultura?
Este ano o governo incluiu o Circo e Artes de Rua no Modelo de Apoio às Artes. Um passo gigante na luta em que nos encontramos. É importante que os artistas, teatros e festivais se unam e que criem e trabalhem em rede, faz falta definir um estatuto de artista de Rua e um sindicato para ajudar e proteger os direitos do artista.

Como foi a recepção das edições anteriores por parte do público?
A receção do festival por parte do público foi notável. Da primeira para a segunda edição houve uma enorme evolução da adesão do público, quer em número de espetadores quer na sua contribuição para os chapéus dos artistas.

O que podemos esperar da 3.ª edição do “Chapéus na Rua” – Lisbon’s Busking Festival?
A 3.ª edição ocorre entre os dias 10 e 16 de setembro e as atividades realizadas nos três primeiros dias visam aumentar a oferta de formação profissional através de um workshop de clown. Dia 13 setembro realizaremos uma conferência com o objetivo de promover o diálogo e reflexão dos agentes artísticos, a ligação entre os agentes culturais, artistas e todos os interessados no desenvolvimento do circo contemporâneo e as artes de rua e da sua relação com a cidade. Outra das atividades fundamentais é o circo para as escolas, a realizar junto de um público mais novo. A utilização pedagógica do circo no desenvolvimento dos jovens é cada vez mais importante, sendo que o festival visa também criar, formar, educar e estimular os jovens das localidades onde nos inserimos. Dias 15 e 16 de setembro proporcionamos espetáculos das 15h as 20h no Largo do Intendente e este ano levamos o circo ao campo das cebolas ao evento Mercado dos Mercados. Sábado às 20h30 apresentamos um cabaret no remodelado Mercado das Culturas em Arroios. Domingo encerramos o festival na tenda do Chapitô às 22h00 com o espetáculo “Um Belo Dia” da Dulce Duca, malabarista portuguesa.

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