Foi perante mais de 300 sócios do Belenenses que o Presidente da Mesa da Assembleia abriu as hostes. Pedro Pestana Bastos, começou por esclarecer algumas questões antes de dar a palavra ao presidente do clube, Patrick Morais de Carvalho.
“Rui Pedro Soares nunca foi retirado de sócio porque nunca foi admitido”, começou por dizer. “Um dos deveres dos sócios é o de não cometerem actos lesivos para com o Belenenses e foi assente nessa premissa que rejeitámos a sua proposta”, conseguindo desta forma a salva de palmas inaugural.
Era então altura de falar o presidente do clube, Patrick Morais de Carvalho. O presidente, falou aos sócios durante mais de uma hora e meia, focando-se sobretudo na questão do conflito entre a SAD e o clube, não deixando ainda de frisar o Bingo.
“Quando aqui chegámos, havia 99% de perdermos o Bingo e mesmo assim conseguímos mantê-lo, garantindo a exploração e a concessão, assim como a manutenção de todos os contratos de trabalho”, abriu desta forma as hostes do seu discurso.
Após este breve apontamento relativo ao Bingo, Patrick passou ao que realmente tinha atraído todos os sócios ali: o conflito clube/SAD. “Esta Assembleia não é contra a SAD, é a favor do clube. Esta será a Assembleia de ressurreição do Belenenses”, deu desta forma o mote.
A contextualização relativa à chegada da Codecity ao Restelo foi o primeiro ponto a ser explorado pelo presidente. “Em 2012 era necessário vender 51% da SAD a um investidor e apareceu Rui Pedro Soares, que já pensava comprar a SAD há muito, apesar do que se diz. Dia 4/11/12 foi o dia escolhido para entregar o futebol profissional a um investidor, isto num acordo baseado em apenas duas folhas de papel”, atirou enquanto expunha essas mesmas folhas. Nesse mesmo papel mostrado por Patrick, estavam expostos três pontos essenciais:
- O clube pode recomprar a SAD
- O clube tem preferência numa eventual venda da SAD a terceiros
- O investidor teria de injectar dinheiro para atenuar o passivo
Este acordo sustentado em duas páginas, era regulado por um protocolo. Nesse protocolo constituído por, pelo menos, 5 documentos, estavam estes pontos referidos no discurso:
- Futebol de formação permanecia do clube
- Juniores podem treinar com os seniores mediante acordo com o clube
- A SAD pode utilizar o estádio, o relvado, os balneários, o parque de estacionamento, o campo 2 articulado com o futebol de formação, etc.
- A SAD é obrigada a respeitar os símbolos do clube, utilizando-os sempre
- Acordo parassocial
- De Outubro a Janeiro de 2014 e de 2017, o clube tem a possibilidade de recomprar a SAD caso assim o deseje
Foi aquando desta revelação que o presidente do Belenenses afirma ser “uma péssima altura, em virtude de existirem eleições nesse período”. Dizendo que “desta forma, no meu mandato, é possível que existam eleições antecipadas”, reiterou
Revelou que não existiam boas relações entre a direcção de António Soares e a SAD e abordou a questão da SAD querer rescindir unilateralmente o acordo parassocial assente em dois pressupostos: 1 – Um jogo frente ao Benfica no qual se proibiu a entrada de objectos alusivos aos encarnados para a bancada de sócios, afirmando que aludia à violência; 2 – relativo a uma dívida do clube com a FPF.
“Ele disse que nas próximas eleições iria apoiar um candidato, pois bem, eu não quero o apoio dele nas eleições!”, referiu antes de abordar a tónica das dívidas e do totonegócio.
Totonegócio: o Belenenses devia dinheiro ao fisco. Fernando Gomes pagou as dívidas dos clubes devedores mas a SAD necessitava de prestar um avalo. A dívida foi imputada à SAD quando foi o clube a contraí-la, numa altura em que SAD e clube eram um só. É um dos pontos em que a SAD se queixa e afirma que o Belenenses não pagou. Patrick afirma que “o Belenenses tem um PER e os credores recebem todos à mesma velocidade. A FPF só cativa 5 mil euros após acordo”, disse.
“A minha direcção tentou remar para o mesmo lado, mas ao longo do tempo constatámos que os nossos objectivos são distintos”; “esta SAD fez um contrato com o Dálcio em Outubro de 2014 nas costas do clube, foi de muito mau tom”, alertou relativamente à “não-relação” entre o clube e a SAD. Quanto ao acordo parassocial: “Para o clube esse acordo parassocial mantém-se em vigor, não quero outro acordo parassocial, quero este!”, reafirma Patrick.
O presidente do clube decidiu ainda enumerar todos os actos de “má fé” por parte da SAD, referindo-os singularmente e explanando-os. “O mau uso das redes sociais; a venda do Bluecard na SAD em vez de na secretaria; abertura de uma loja na SAD; oferta de autocarros, almoços, casacos e lanches; a rejeição de que os jogadores pagassem quotas se se tornassem sócios do clube; convites oferecidos a sócios de outros clubes; “roubo de dois jogadores do juniores”; entre outras coisas. Foram estas as razões enumeradas para o mau relacionamento, além de duas situações pessoais que o presidente fez questão de referir. Uma foi relativa à proibição de um vereador da Câmara de Lisboa de entrar no camarote; outra foi relativa ao “não convite” da SAD ao Presidente para festejar com os jogadores aquando da chegada à Europa, depois do jogo em Barcelos.
Contra-atacando a anterior entrevista de Rui Pedro Soares ao Record, que aludia para o “não pagamento de qualquer centimo” por parte da actual direcção, Patrick apresentou números. 1.6 milhões pagos desde que assumiu a presidência. Isto deu aso a que afirmasse em seguida: “Neste momento sou um presidente feliz, porque após apenas ano e meio de mandato, o plano eleitoral está quase cumprido. Só faltou o objectivo de nos conseguirmos relacionar bem com a SAD, mas isso será impossível”, constatou.
Em seguida, após uma enorme salva de palmas por parte dos sócios, apresentou dados históricos relativos ao futebol. “Em 96 anos de história estivemos 44 vezes nos 6 primeiros e ficámos 14 vezes em 3º lugar”, referiu.
Após a verificação de factos desportivos, foi tempo de voltar a números. “A SAD no último ano, não pagou um tostão a ninguém. Os credores pedem 8 mihões e só a SAD, desde que chegou, já contraiu 1.4 milhões dessa mesma dívida”, disse enquanto apresentava os vários credores da SAD. Entre os vários nomes de jogadores e treinadores expostos, estavam os quatro treinadores antes de Sá Pinto. A Lito a SAD deve 150 mil euros, segundo o exposto no slide. Posto isto, surge uma carta que a SAD mandou ao clube relativamente às suas dívidas, sugerindo a hipoteca de terrenos para as pagar.
Créditos da SAD: 124 mil
Créditos do Clube: 638 mil
Desses 638 mil estão as mais diversas coisas que são referidas pelo presidente que se queixa de que a SAD deve “água; luz; gás; refeições aos jogadores; dinheiros relativos a Abel Camará e André Pires e direitos de formação de vários jogadores”.
“Desportivamente não faz sentido o Belenenses não ser o elo de ligação no futebol profissional. O clube quer recomprar e acredita que os contratos estão válidos e que se pode recomprar a SAD”, afirmou.
“Ou compramos a SAD ou a SAD compra-nos a nós e o clube acaba”, referiu aquela que foi a frase da noite.
Por fim, Patrick Morais de Carvalho acabou a sua participação com uma frase de Acácio Rosa, um imortal Belenense. “Levem tudo que nós não negociamos a nossa honra nem a nossa dignidade”.
Após a extensa intervenção de 1h30, foi a vez do Presidente do Conselho Fiscal falar.
“A SAD será sempre devedora em função do clube, em virtude de usar mais recursos do que os que o clube utiliza”; “O presidente que associe a via legal para devolver o clube aos associados”, foram estas as frases mais marcantes de um discurso longo que teve o enfoque nas negociações referentes à compra da SAD em 2012.
Após os membros da direcção se pronunciarem, foi a vez dos associados o fazerem.
Um dos primeiros sócios a pronunciarem-se afirmou que Rui Pedro Soares apenas queria os terrenos do clube e elogiou a requalificação do clube. Depois foi a vez de um sócio, ex-membro da direcção do Belenenses, que questionou o plano para recompra da SAD.
Como não poderia deixar de ser, também a Fúria Azul marcou presença e deu voz ao seu descontentamento por Mário Rodrigues, um dos mais antigos membros da claque. “Nunca abandonámos o clube, a não ser depois de nos terem desrespeitado. Foi proibida a entrada dos nosso símbolos e pior… Foram arrancadas bandeiras e cachecóis a crianças. A SAD está a mandar o nosso símbolo para o lixo. Não posso permitir que isso aconteça ao meu clube, que foi construído com a história dos meus pais e dos meus avós”, afirmou de forma emotiva.
Por ora ouviu-se uma enorme salva de palmas seguida de vários gritos entoados por membros presentes. “Belém! Belém! Belém!”, era a palavra de ordem.
Sérgio Camões teve a participação da noite, abordando várias questões fracturantes, mais focadas no futebol, mas também do clube no geral. Dessa forma, mereceu assim a maior salva de palmas das 5 horas de Assembleia e uma quase apoteose de quem assistia.
Quase no fim da Assembleia Geral, chegaram dois requerimentos à mesa. Um deles relativo ao repudio da entrevista dada por Rui Pedro Soares ao Record; a outra relativa à recompra da SAD por parte do clube, procurando a concessão de um mandato à direcção para que pudesse exercer todos os meios jurídicos para proceder à recompra. Ambos teriam de ser sujeitos a votação.
Antes de se proceder à votação dos requerimentos entregues à mesa; o presidente usou da palavra mais uma vez e respondeu às perguntas anteriormente colocadas.
A pergunta “qual será o plano para recomprar a SAD?” foi respondida da seguinte forma: “Será efectuado em duas fases. 1ª – garantir juridicamente que temos direito de recomprar em Outubro de 2017; 2ª – garantido esse direito, a direcção irá revelar a forma de comprar o clube, numa reunião/exposição aos seus associados”, disse não adiantando muito relativamente à forma de obtenção de fundos, remetendo mais explicações para um futuro próximo.
Para concluir a Assembleia, foi realizada a votação. Nenhum dos requerimentos teve votos contra, contando apenas com alguma abstenção. No segundo requerimento o “sim” ganhou com 200 votos e a abstenção contou com 9 votos.
Foram 5h muito intensas mas sem qualquer incidente, mostrando-se assim um clima de cordialidade e respeito.