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António Sacavém em entrevista ao CA Notícias

António Sacavém em entrevista ao CA Notícias

“Aprenda a dizer não sem culpas”, será lançado pela editora Manuscrito a 6 de julho na FNAC do Colombo. O CA Notícias conversou um pouco com António Sacavém sobre o tema principal da obra: o medo que muitas pessoas têm de dizer “não”.

1. Como surgiu a ideia de escrever este livro e quais os tópicos principais que aborda?

No decorrer de algumas formações que facilito no âmbito da comunicação e, em especial, no coaching executivo, comecei a aperceber-me que o tema da culpa associada ao “não” estava bastante presente. Nalguns casos, levava as pessoas a dizer sim, mesmo querendo dizer que ”não”. Existem um conjunto de motivos para que isto aconteça como, por exemplo, evitar uma discussão, prejudicar a relação com a outra pessoa, ferir os sentimentos de alguém próximo, etc.

Este livro aborda o receio de dizer “não”, os três tipos de “não”, as necessidade que procuramos satisfazer quando dizemos “não”, a oportunidade de dizermos o “não-positivo” a favor de um “sim” maior, o “não-assertivo”, entre outros temas.

Um dos maiores inimigos da produtividade, da capacidade de concretização, do equilíbrio trabalho/vida, da realização pessoal, somos nós próprios e a nossa falta de preparação para nos mantermos focados naquilo que é realmente importante. Se queremos melhorar o nosso foco é crucial apostarmos no desenvolvimento de uma competência fundamental: sabermos dizer “não” na altura própria e com a intenção certa. O “não”, partilhado com competência, pode ser uma auto-estrada para um “sim” maior.

​2​.​ O que é um «não-positivo» e como se aprende?

O “não-positivo” é um “não” especial. Permite-nos, simultaneamente, manter-nos focados naquilo que é realmente importante para nós e, ao mesmo tempo manter uma relação habitadora com o outro. Existem 3 passos para o “não-positivo”, o acolhimento e partilha, a compreensão expressa e o desfecho empático.

O livro aborda com extensão cada um destes passos, que devemos encarar como um processo, e contém inúmeros exemplos práticos de como podemos aplicar o “não-positivo” no trabalho e nas relações pessoais. Para nos tornarmos competentes a partilhar o “não-positivo”, é importante que o comecemos a aplicar na prática. A repetição consciente faz a mestria!

​3​. No seu ponto de vista, porque acha que há muita gente que não consegue dizer um “não”? Acredita que a educação tem uma certa influência neste receio comum a muitas pessoas?

O ser humano procura ativamente satisfazer um conjunto de necessidades. É, por isso, que fazemos aquilo que fazemos. Uma dessas necessidades é a pertença a um grupo. No decorrer do desenvolvimento da nossa espécie, nunca fomos os mais altos, os mais rápidos ou os mais fortes mas, porque aprendemos a viver em tribos, evoluímos e somos aquilo que somos hoje. Atualmente, também existem tribos, seja no trabalho, no ginásio, na igreja, no universo online, etc.

Talvez um dos maiores medos do ser humano seja, precisamente, a rejeição, porque pode implicar ficar sem tribo. Em suma, o medo de dizer “não” surge como um consequência de diversos fatores, em especial de sentirmos que pode ameaçar as nossas relações e que pode pôr em causa a necessidade que temos de fazer parte.

A educação é parte integrante do processo. Vivemos numa sociedade em que falhar ainda está associado a fracasso, ainda que hoje saibamos que falhar faz parte do sucesso e do processo de inovação. O “não-negativo”, por exemplo, pode ajudar-nos a manter na nossa zona de conforto e mitigar a falha, no entanto, também nos pode afastar dos nossos sonhos e do nosso processo de transformação pessoal.

​4​. Que tipo de consequências se manifest​a​m na vida de uma pessoa que não saiba dizer um “não”?

O Dalai Lama a certa altura disse que, vivemos a vida como se nunca fossemos morrer é morremos como se nunca tivéssemos vivido.

Não sabermos dizer o “não” de forma competente, pode afastar-nos dos nossos objetivos e de uma existência com mais significado. Em certos casos, podemos viver toda a nossa vida da forma como os outros querem para nós a vivamos, mas não aquela vida que corresponde à manifestação do nosso talento ao serviço de um bem maior. Nestes casos, é uma dinâmica de perder-perder, perdemos nós porque morremos com o nosso talento por explorar e perdem os outros porque não beneficiaram da “música” que apaixonadamente queremos tocar.

Silenciamos, por vezes, a nossa “música”, por receio de sermos rejeitados por alguma das nossas tribos. O “não-positivo”, porque está atento às nossas necessidades e também às do outro, tem a virtude de nos aproximar daquilo que nos faz mais felizes e, simultaneamente, manter uma relação de qualidade com aqueles que nos rodeiam. No entanto, por vezes, o “não-assertivo” é o mais adequado, pois é tempo de mudar de tribo, de grupo de influência, ou até de dizer “não” a algum tipo de processo de manipulação para o qual nos deixámos conduzir.

​5​. Qual considera ser a principal diferença entre saber dizer “não” numa situaçao de contexto profissional, e “não” numa situação de contexto pessoal? Qual das duas sente que é mais constrangedora para as pessoas?

Depende muito de cada um. Algumas pessoas, por exemplo, não suportam a ideia de ter que dizer “não” ao chefe, e quando dizem, por vezes, é sem a competência que desejariam e, existem outras, que têm receio de dizer “não” ao seu companheiro, porque receiam ferir os seus sentimentos. É importante partirmos de uma noção fundamental que nos ajuda a desbloquear o receio de dizer que “não”.

Nós somos responsáveis pelas nossas ações, mas não somos responsáveis pelos sentimentos dos outros. O livro ajuda o leitor a exercitar um conjunto de ferramentas que lhe permite superar o receio do “não”, de uma forma dinâmica e proativa.

​6​. Acredita que os portugueses são dos que têm mais receio em dar uma nega? Ou acha que este problema é universal?

Penso que é um problema universal. É verdade que existem culturas com um tipo de comunicação mais assertivo do que a nossa, no entanto, trata-se de um receio universal, ainda que atinja mais uns do que outros.

​7​. ​Como coach, abord​a​ este tema nas suas ações de formação? ​Qual a reação geral a esta questão de dizer “não”?

Como coach é um tema que surge recorrentemente ligado à produtividade, ao foco, à gestão do tempo, ao aumento da confiança e ao processo de transformação pessoal. No âmbito das formações que facilito junto das empresas, aprender a dizer “não” de forma mais competente, integra-se num dos programas mais requisitados que é a “Comunicação Mais: Transformar Conflitos em Produtividade”.

​8​. O António alguma vez passou por esse mesmo constrangimento? Como conseguiu dar a volta à questão?

Sim, mais do que uma vez, é por isso, também, que o tópico me atrai. Eu considero que tive que desenvolver esta competência (e existe sempre um nível seguinte) e que me trouxe vantagens em diversos aspetos da minha vida, até cito um exemplo no livro. Mas a primeira pessoa a quem temos que saber dizer “não” é a nós próprios, à nossa reatividade e ao nosso diálogo interno “distrator”.

Neste sentido, o livro procura ajudar-nos a dizer “não” aos nossos diálogos “distratores”, que emergem dentro da nossa mente e, muitas vezes, nos desfocam daquilo que é essencial. Só assim podemos dizer “sim” à criatividade, ao propósito, à manifestação do nosso talento e a sermos tudo aquilo que pudermos ser. Enfim, deixarmos o mundo um lugar um pouco melhor, porque por aqui passámos.

​9​. Gostaria de dar algum breve conselho sobre esta questão aos nossos leitores?

Parece-me importante recordar uma citação do Abraham Lincoln, o 16.º Presidente dos Estados Unidos, “tem que crescer por si próprio, por muito alto que tenha sido o ser avô”. Só um forte compromisso com o nosso crescimento e desenvolvimento pessoal nos pode ajudar a exercitar eficazmente o “não” competente, que pode ser “positivo” ou “assertivo”, e aproximar-nos daquilo que queremos ao serviço de um bem maior.

Mais do que conselhos, deixo o leitor com uma questão: qual o pequeno grande passo que quer dar hoje, para dizer um “não” mais positivo amanhã?

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