Desmultiplicando-se, Adriana Queiroz presenteia-nos com a sua versatilidade ao longo de vários projetos na sua carreia. Bailarina no Ballet Gulbenkian ou na Companhia Olga Roriz, representou no teatro e em filmes, onde também lançou um disco de originais intitulado Ariadne. Uma mulher do palco e das artes, vem-nos apresentar a sua segunda versão do concerto Kurt Weill de Adriana Queiroz, nos dias 16 e 17 de setembro no teatro Tivoli BBVA.
A CA Notícias conseguiu falar com a artista, que num espetáculo repleto de talento, procura passar-nos a mensagem do exemplo de coragem de Kurt Weill, obrigado a fugir sem nunca desistir, deixando-nos um legado maravilhoso que merece ser recordado.
Como é a pessoa por detrás da versatilidade de encenadora, da cantora e da bailarina?
Sou uma pessoa extremamente solitária que gosta do seu espaço e da sua independência. Obcecada tanto com o trabalho como com a minha calma. Mulher de hábitos que adora a sua rotina e que não gosta de surpresas. Vivo intensamente sempre à procura do próximo sonho ou do próximo projecto.
Como nasceu a ideia de criar este projeto de percorrer a vida e obra de Kurt Weill?
Numa simples conversa com o Maestro Cesar Viana há 3 anos atrás. O mundo de Weill e a vontade de o explorar e de o poder interpretar ganhou vida. Este espectáculo teve uma primeira versão com a Orquestra de cordas Concerto Moderno que estreou no Teatro São Luiz em Julho de 2014. Depois dessa primeira experiência passei todo este tempo a tentar voltar a repor o KW. Agora com outra maturidade e também com os arranjos extraordinários do Filipe Raposo consegui a cumplicidade da Orquestra Metropolitana e do Francisco Sassetti e o KW renasceu.
Qual foi o maior desafio na criação de um espetáculo que viaja por três países da vida de Kurt Weil? E porquê?
O meu maior desafio neste espectáculo não foi o viajar por estas 3 décadas e estes 3 mundos / países diferentes. Acho que essa parte é conseguida não só através dos ambientes criados como dos figurinos do José António Tenente. O meu maior desafio é cantar/ representar em alemão e conseguir ter a noção exacta do que estou a dizer quando não falo uma palavra de alemão. Esse é o meu maior desafio neste espectáculo.
O que é que nos pretende transmitir com este espetáculo de música, dança e de interpretação?
Acho que qualquer interprete ou criador quando está em cena ou cria um espectáculo deseja em primeiro lugar que a mensagem do mesmo chegue a quem a está a ver. Assim se conseguir passar a mensagem dos maravilhosos letristas que sempre acompanharam o Weill e as suas mensagens; se conseguir chamar a atenção para a riqueza da musica do Kurt Weill , já não conhecido das novas gerações. Se tocar em alguém que esteja a ver o espectáculo, o faça sentir ou pensar na vida deste homem que fugiu a vida toda e nunca desistiu; se isto fizer também pensar que este homem foi obrigado a ser um emigrante e um refugiado a vida toda e virmos o legado que eles nos deixou. Já é um ponto ganho e fico mais do que feliz.
As mudanças de participantes, como a Orquestra Metropolitana e Filipe Raposo, vão trazer mudanças ao concerto?
As orquestrações do Filipe Raposo trazem um olhar completamente diferente sobre o espectáculo e deram-me a mim a oportunidade crescer para um sitio de maior liberdade e de uma maior coesão com o mundo de Weill. A participação da Orquestra Metropolitana com o pianista Francisco Sassetti são a cereja em cima do bolo. E depois são 3 anos de vida , maturidade (espera-se) e trabalho vocal a juntar ao fio dramaturgo e encenação que já existiam.
O que é que pode partilhar sobre o próximo projecto com Pedro Jóia “Mulheres do Sul”? O que podemos esperar?
O projecto Mulheres do Sul já começou duas vezes e teve de ser parado por compromissos meus ou do Pedro Jóia. No entanto é daqueles projectos que sabemos que vai acontecer pois não é só a vontade de tal como as forças à sua volta que fazem com que ele continue. Mulheres do Sul é um projecto à volta das principais cantoras activistas da America do Sul do século passado. Mulheres que com a sua voz e as suas canções mudaram mentalidades e influenciaram povos e revoluções. Mercedes Sosa, Elis Regina, Violeta Parra, Chavela Vargas, Maria Bethania… E o resto fica para uma próxima entrevista.