A banda de Julian Casablancas é demasiado experimental para ser cabeça-de-cartaz dum festival tão grande. Se os The Voidz já não inspiraram muitos festivaleiros a deslocarem-se ontem ao Super Bock Super Rock, depois do concerto ter começado, poucos foram os que aguentaram a péssima qualidade de som na Altice Arena.
Sinto-me na obrigação de admitir desde logo que gosto bastante dos dois álbuns editados pelos The Voidz, e portanto era com natural expectativa que aguardava por este concerto no Super Bock Super Rock. No entanto, o facto de serem considerados como cabeças-de-cartaz do último dia do festival deixou logo várias dúvidas no ar. O facto da banda ser encabeçada por um herói do rock como Julian Casablancas não deveria dar automaticamente esse estatuto a uma banda que é se define de culto e alternativa. Os The Voidz não são os The Strokes de forma alguma e isso foi o principal erro cometido.
À medida que a hora do concerto se aproximava, a Altice Arena não se ia enchendo e conseguimos ver apenas 2 pessoas com t-shirts das bandas de Casablancas: uma rapariga a envergar uma t-shirt com o icónico logo dos The Strokes e um rapaz com uma camisola dos Voidz que mais parecia saída de uma equipa de futebol dos anos 80. Concluía-se que o público não estaria tão interessado no headliner como esteve nos dias anteriores para The XX ou Travis Scott.
Começando a actuação com “M.utally A.ssured D.estruction”, foi o suficiente para afastar logo algumas centenas da Altice Arena. Com as típicas dificuldades sonoras que continuam a assolar o pavilhão, iniciar o concerto com uma faixa tão barulhenta levou a que poucos espectadores aguentassem o som extraordinariamente alto que se ouvia até final.
Tanto banda como o público pareciam perdidos, não sabendo bem o que estava a acontecer ali. Julian bem tentava estagnar a hemorragia falando de Lisboa e como é uma cidade bela, ou vociferando frases como “Não consigo largar a Internet!” ou “Bem-vindos à arca de Noé”, mas era infrutífero. O som estava de tal forma alto e imperceptível que muitos dos presentes se queixam dos ouvidos várias horas depois do concerto. A ideia com que a maioria dos curiosos pela banda ficou é que são uma banda de noise, não entendendo a beleza escondida nos detalhes das músicas dos The Voidz.
Com uma assistência a rondar as mil pessoas, os The Voidz decidiram voltar para um encore que parecia não ser combinado, talvez para compensar os fãs que se mantiveram até ao fim. Julian Casablancas decidiu presentear os presentes com uma versão de “I’ll Try Anything Once”, a demo dos The Strokes que veio resultar numa das melhores músicas da banda, “You Only Live Once”. Segundos depois, Julian chama o resto da banda para oferecer a última prenda, a épica “Human Sadness”. Quando se esperava um momento catártico no encore, os problemas sonoros voltaram a afectar a actuação, impedindo que tal acontecesse. Julian ainda pediu desculpas e dirigiu-se ao pouco público para cumprimentá-los e agradecer por terem ficado até final.
Finalizada a edição deste ano do Super Bock Super Rock com um dos concertos que ficará na memória colectiva dos festivaleiros, pelas piores razões infelizmente. Julian Casablancas e restante banda fizeram aquilo que se esperava, deram um concerto diferente de tudo o que se ouve neste tipo de eventos e esforçaram-se para nos transportar para a terra de sonhos que a sua música evoca. Não identificando bem a origem dos problemas técnicos (se foi da banda, da organização ou da própria acústica do pavilhão), a verdade é que ninguém saiu satisfeito com este final. Reconhecer no entanto a coragem da organização em trazer uma banda tão diferente como os Voidz ao nosso país pela primeira vez. Apenas foi mal colocada no cartaz.
A CA Notícias esteve presente na edição deste ano do festival nos dias 19, 20 e 21 Julho. Pode consultar toda a informação sobre o Super Bock Super Rock 2018 aqui.