Diane Kruger regressa ao grande ecrã interpretando uma agente dos Serviços Secretos Israelita neste The Operative – Agente Infiltrada. O filme de espionagem chega amanhã às salas de cinema portuguesas.
Crítica feita por: Bernardo Freire (Visão de um Crítico)
O cinema de espionagem encontra-se dividido em dois segmentos principais: aquele onde as explosões e os gadgets dominam as cenas, frequentemente habitadas por homens hábeis em combate (pensem 007 ou Bourne) e, no outro lado do espetro, o mais cerebral, terra-a-terra, focado no dia-a-dia das operações de um espião (aproximado da veia de Tinker Tailor Soldier Spy (2011)). The Operative, escrito e realizado pelo israelita Yuval Adler, está totalmente voltado para esta última vertente, em busca de uma autenticidade que tanto fertiliza o tom apropriado para a protagonista brilhar como fragiliza o entretenimento no sentido mais lato.
Rachel (Diane Kruger), uma agente dos serviços secretos de Israel (Mossad), desapareceu. O único rasto da sua identidade é uma chamada misteriosa – “O meu pai está morto. Outra vez.” – para a pessoa que esteve responsável por ela em missões do passado, Thomas (Martin Freeman). Devido à sua estreita relação, Thomas é forçado a retraçar a sua parceria com ela, principalmente numa missão chave que a fez infiltrar no Iraque como professora de línguas. Encarregada de observar Farhad, o dono de uma empresa de eletrónica, cujo filho pertence à sua turma, ela acaba por se deixar enamorar. Desagradado com a situação, Thomas acaba por omitir a informação à Mossad e permite que Rachel continue a operação.
A história é contada através de uma mescla algo confusa de flashbacks dentro de flashbacks com o retorno esporádico ao presente. Interessa sobretudo documentar a jornada mental de Rachel no decorrer dos acontecimentos, assim como compreender os dilemas e contratempos que enfrenta. O seu passado incerto, a capacidade de encaixe e passar despercebida, assim como os seus instintos afiados, fazem com que Rachel seja a mulher certa para o trabalho. Parte do tempo deambulamos com ela pelas ruas iraquianas enquanto absorve os hábitos e cultura da sua gente. Estabelece relações e a credibilidade fundamental numa missão a longo-prazo.
Quando o filme não é comandado pela sua perspetiva, Thomas oferece a par e passo o contexto necessário para entendermos o conteúdo da missão. Enquanto a jornada de Rachel é subtilmente eficaz por enfatizar os detalhes de uma vida disfarçada, o enquadramento da missão diminui imenso o ímpeto do filme. É um equilíbrio imperfeito que estanca a narrativa quando esta precisava de maior fluidez. Isto faz com que certas cenas valham mais per si do que no grande esquema da história.
No entanto, aquilo que torna The Operative recomendável é a tremenda interpretação de Kruger no papel central. Com a câmara muitas vezes apontada à sua face hipnótica, a atriz é tão relacionável quanto misteriosa. Por vezes estóica e noutros momentos vulnerável. Uma personagem tridimensional capaz de energizar mais o filme do que qualquer série de explosões flácidas. Depois de Aus dem Nichts (2017), a atriz volta a provar que está no topo da sua carreira. Já no que diz respeito a Martin Freeman, a sua participação é prestável mas meramente expositiva.
A realização de Adler, apesar de pouco vistosa, tem a confiança necessária para deixar os atores trabalhar as cenas que habitam. Já o argumento que assina precisa de afinação e edição. Vale pelo desenvolvimento das minúcias do trabalho de um espião, contrariando os padrões narrativos mais fantasiosos em prol da compreensão da realidade de um trabalho exigente cujo destino muitas vezes não está nas nossas mãos.