Na passada segunda-feira, a formação dos Swans que se juntou em 2010 (com a excepção da troca em 2016 dos homens encarregues das teclas) actuou pela última vez em Portugal, mais concretamente no Lisboa ao Vivo, depois de se terem despedido do Porto no dia anterior.
Os Swans são uma das bandas mais influentes do rock alternativo e experimental, e mesmo não tendo o reconhecimento devido do público mais afastado do experimentalismo, a importância da banda liderada por Michael Gira não tem paralelo no meio, sendo citada como uma das maiores influências para bandas como Tool, Low ou Godspeed You! Black Emperor, também elas figuras de proa nos géneros musicais.
A banda nasceu em 1982 e teve o seu “primeiro” fim em 1996 e ajudou ao surgimento de géneros como o grindcore ou o sludge metal e estabeleceu outros géneros como o post-rock. Em 2010, a banda voltava, com um alinhamento diferente, para num período de apenas 7 anos editar três dos melhores álbuns já produzidos nesta década que ainda decorre. A qualidade e a novidade do som criado pela nova formação da banda não fazia antecipar a notícia divulgada no lançamento do álbum “The Glowing Man” em 2016 que seria o último registo de originais publicado com aquele grupo fixo de elementos.
Desta forma, a banda vai voltar a entrar num interregno sem fim previsto. O fio condutor dos dois ciclos da banda é (e sempre será) Michael Gira. É ele o guia sonoro dos Swans, o símbolo do experimentalismo rock. E o músico não deixa por mãos alheias esse desígnio. Antes do concerto, Gira verifica tudo em palco, tudo tem de estar sob a sua aprovação e mal iniciam a actuação no palco do Lisboa ao Vivo, a força maior dos Swans torna-se num autêntico maestro da orquestra composta pelos outros membros da banda. Vários foram os momentos em que Michael Gira vira-se para um elemento da banda e apontar o que deve ou não fazer.
“The Knot” é a música que abre o concerto, e se este concerto não fosse em nome próprio, sendo a audiência composta por inteiro por conhecedores da banda, e dificilmente captaria a atenção total dos espectadores, isto porque a música inicial teve uma duração superior a 40 minutos. Mas a música é bem representativa das ideias que Gira tem actualmente sobre o seu projecto. Longa, funcionando quase como uma paisagem sonora pela qual o ouvinte é envolvido, que por vezes tem um padrão e ritmo perceptível durante larga duração mas sempre à espera de uma interrupção momentânea com o recurso ao poderio sonoro, esmagando por completo as sensações anteriores. Dessa forma, o espectador fica desnorteado perante o que vê e ouve e mantêm-se intrigado pelo que será apresentado de seguida.
O concerto manteve esta intenção, com a excepção de “Screen Shot”, provavelmente a música mais reconhecida pelo púbico e claramente a mais “fácil” de ouvir. Mais de duas horas de concerto de grande qualidade, com alta intensidade, mas com algumas paragens que quebraram demasiadas vezes a ambiência do espectáculo. Paragens causadas por Gira que ou não estava satisfeito com o ar condicionado, ou havia algum problema com o som, ou a luz do palco o encadeava. Obviamente ele saberá melhor que eu e tem todo o direito de definir as condições em palco do concerto que vai dar, mas foram vezes a mais e que acabaram por tirar algum brilho à apresentação.
No final, uma despedida em glória de uma formação dos Swans que ficará ligada para muitos à fase mais interessante e produtiva da banda.
SETLIST:
The Knot
Screen Shot
Cloud of Unknowing
The Man Who Refused to Be Unhappy
The Glowing Man
“Screen Shot”: