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Sara Correia em entrevista ao CA Notícias

Sara Correia em entrevista ao CA Notícias

Desde muito cedo que Sara Correia é presença habitual nas melhores casas de fado da cidade. E, por isso, canta com a propriedade e força de quem cresceu no fado. A fadista lançou recentemente o seu primeiro álbum, intitulado “Sara Correia”.

Sara Correia tinha apenas 13 anos quando se consagrou vencedora da Grande Noite do Fado e, logo de seguida, é convidada para cantar numa das casas de fado mais míticas da cidade, a Casa de Linhares. Aí teve o privilégio de cantar e aprender ao lado de grandes nomes do fado, nomeadamente Celeste Rodrigues, Jorge Fernando, Maria da Nazaré, entre outros. Todos eles “foram e serão sempre a escola de se ser fadista”, afirma Sara.

Sara Correia

CA Notícias: O que te liga ao fado? O que define o “teu fado”?
Sara Correia: Eu sou uma pessoa muito emotiva, sou muito intensa e sou muito envolvente naquilo que eu canto. Eu vivo aquilo que canto. Este disco que lancei agora chama-se “Sara Correia” e a maior parte dos temas foram escolhidos a dedo, é quase como uma autobiografia. Eu sempre fui dos fados, não me lembro do primeiro dia que fui aos fados! A partir daí tenho uma conexão com a minha tia Joana Correia, que também canta Fado e eu fiquei presa a isso. O fado é sem dúvida a minha forma de estra na vida, é assim que eu vivo. Aquilo que eu vivo é o que eu passo para o meu fado.

CA: Lançaste recentemente o teu álbum de estreia. Para quem ainda não o ouviu, o que pode esperar?
Sara Correia: Este disco foi trabalhado durante três anos. Desde os meus 21 anos que estamos a pensar neste disco. Tive o cuidado de pensar no que iria cantar com 25 anos, porque acho que cada idade tem o seu posto para cantar certas letras. Tive a sorte de ter alguém a trabalhar comigo, o meu produtor Diogo Clemente, que conhece as histórias da minha vida e eu quis passar essas histórias para este trabalho. O álbum apresenta uma linha entre fados tradicionais e alguns fados mais irreverentes. Esta é linha que eu quero seguir e é com isto que me identifico. É um disco que me define como pessoa.

CA: Fala-nos um pouco dos dois singles que lançaste antes do álbum.
Sara Correia:
“Fado Português” e “Quando o Fado Passa” foram os dois singles que lancei em simultâneo. O “Fado Português” de Amália Rodrigues, com letra de José Régio e música de Alain Oulman. Na altura tive de pensar bem, pois é uma grande responsabilidade cantar um tema que é um ícone do fado. Quem vive dos fados sabe há sempre um cuidado especial quando se canta Amália. Quis gravar na mesma, não fazendo nada de novo, porque não estamos a inventar nada, simplesmente dar a alma que eu tenho e a forma como eu gosto de cantar. “Quando o Fado Passa”, com música de Valter Rolo e com letra de Cátia Oliveira, escolhi no estúdio. Depois de ouvir alguns temas do Valter, fiquei logo apaixonada pelo “Quando o Fado Passa”, porque está relacionado com a minha idade e com aquilo que estou a passar neste momento. Fala um pouco de uma regra de como se deve estar no fado. Decidi então gravar estes dois temas com os quais me identifico bastante.

CA: Para além da Amália Rodrigues, há alguma figura do fado que seja motivo de inspiração?
Sara Correia:
Sim, a Amália é uma inspiração e acho que para muita gente, até porque costumo dizer que ela é o fado em pessoa. A Amália fez tudo, cantou tudo, gravou tudo e é de facto inacreditável. Mas claro que há outros artistas por quem tenho uma grande admiração, como a Beatriz da Conceição, a Fernanda Maria. Também sou fã do Ricardo Ribeiro, um fadista atual que quando comecei a cantar ouvi muito. Também Carlos do Carmo, Camané, Max, Tony de Matos… são tantos! É um vasto leque de fadista de quem gosto.

CA: Há alguma figura atual do fado com quem gostasses de trabalhar?
Sara Correia:
Eu gosto muito de Ana Moura, gosto do seu timbre e da forma como ela canta. Outros fadistas atuais… a Mariza, sem dúvida é um grande marco no fado. Na verdade eu gosto de todos porque são todos diferentes e todos deixam cá a sua história. Mas a Ana Moura será talvez a pessoa que me marca mais, que me chega mais à alma.

CA: Quando se fala em modernização do fado, és mais a favor de manter a essência clássica do fado ou de lhe dar uma nova roupagem, mais moderna?
Sara Correia: 
Eu estou nos fados desde os meus 9 anos, tenho um respeito imenso pela tradição do fado e por aquilo que possa ser considerado o puro do que se faz no fado (a viola, a guitarra), mas também tenho a minha forma de pensar. Eu acho que nós estamos a viver outros tempos, esta geração é completamente diferente das gerações anteriores. Quando começou o fado, nem se tem bem a certeza de onde é que começou, terá sido numa altura muito triste. Como o “Fado Português”, em que os maridos iam para fora e as mulheres ficavam cá com os filhos e havia aquela saudade. Eu, aliás, vivi isso na minha família com a minha avó e o meu avô. O meu avô passava três e quatro anos fora do país e quando voltava era sempre uma felicidade. O fado é emoção, é a tristeza, é o amor, é o desamor, é a saudade. Nós não estamos cá a inventar nada, ninguém está a fazer alguma coisa que ainda não tenha sido feita no fado, mas a verdade é que estamos noutro tempo, as coisas vivem-se de forma diferente e é óbvio que tem de haver uma lufada de ar fresco. Estamos noutra fase, eu não vivo como a minha avó viveu ou como a minha mãe viveu, portanto não posso cantar como a minha avó cantava. Eu não passei por aquilo que a minha avó passou, portanto as coisas são diferentes e vivem-se de outra forma, portanto também se canta de outra forma.

CA: A geração mais jovem tende a interessar-se pelo fado?
Sara Correia:
 Esse é um dos meus grandes objetivos, mostras às pessoas que há malta jovem a cantar e que se interessa realmente pelo fado. Eu também entendo que as pessoas queiram ouvir outros tipos de coisas, nem sempre estão disponíveis para ouvir coisas que nos deixam talvez um pouco sem energia, como eu costumo dizer. Mas essa é uma das minhas missões, tentar mostrar o fado aos mais novos e mostrar que há aqui bom gosto e vontade. Eu acho que é importante chegar aos jovens e a esta geração. Não é fácil, mas esse é o nosso desafio. Como já disse, essa é a minha missão e vou continuar até não conseguir cantar mais, “até que a voz me doa”, como dizia a Maria da Fé.

CA: O teu álbum tem tido adesão por parte de alguma facha etária mais específica?
Sara Correia: 
É exatamente por isso que eu estou contente, por serem jovens que estão a querer falar comigo. Claro que há pessoa mais velhas que procuram pelo fado, mas também acho que há muita gente nova à procura e interessada no disco.

CA: Agora que deste este grande passo no mundo da música com o lançamento do teu primeiro disco, quais os teus planos para o futuro?
Sara Correia: 
Eu quero deixar às pessoas aquilo que eu melhor sei fazer, que é passar o fado para vocês. eu tenho muitos sonhos e muitas vontades, há muita coisa que gostava de fazer. Não penso só num sonho ou só numa coisa. Só há uma coisa que me define, que é o fado, mas gostava de cantar outras coisas, gostava de estar com outros artistas, quem sabe gravar com artistas internacionais. Outro sonho que tenho é pisar os grandes palcos do mundo, ter o prazer de estar em palcos em que é muito difícil chegar, mas vou trabalhar e cantar muito. Esse é o segredo, cantar muito e é isso que eu quero fazer, sem dúvida.

CA: Se não fosse o fado, qual seria o teu estilo de música?
Sara Correia: 
O problema é que isto não é uma escolha e é isso que é difícil passar para as pessoas. Eu costumo dizer que o fado é que me escolheu a mim, porque eu não tenho ideia de como apareci no fado. Não consigo dizer qual seria a outra música que gostaria de cantar.

CA: Queres deixar uma mensagem final aos nossos leitores?
Sara Correia: 
Gostava que as pessoas procurassem mais sobre o fado. Que tentem explorar e conhecer o que há no fado. É algo português e cheio de história. É isto que quero deixar para as pessoas.

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