Sandra Pires, jogadora do Belenenses, esteve “À Conversa com Carla Couto”.
Aos 26 anos, Sandra Pires entra agora na sua segunda temporada ao serviço do Belenenses. “À Conversa com Carla Couto”, a média revelou todos os desafios de começar a jogar enquanto trabalha e pratica uma arte marcial.
Como é que surgiu o interesse pelo futebol?
Eu tinha cerca de 15 anos. Na altura foi fundada uma equipa de futsal feminio. Experimentei, fiquei e joguei durante três anos. Mas depois o futsal feminino foi interrompido e acabei por desistir. Para mim, naquela época, estava fora de questão jogar fora da minha área de residência, na Margem Sul, e os meus pais não tinham possibilidade de me levar para outra zona.
E já tinhas jogado futebol de 11 antes desta experiência no Belenenses?
Não, esta é a primeira vez.
Além do futebol, também praticas muay-thai, uma arte marcial. Sendo ambas as modalidades tão distintas, há alguma interligação entre elas?
Compensam-se uma à outra, na verdade. Por um lado, o muay thai ajuda-me a ter flexibilidade e a manter os músculos consistentes, e o futebol complementa com a resistência física dada a necessidade de fazer sprints e mudanças de velocidade constantes.
E gostas mais do muay thai ou do futebol?
São paixões totalmente diferentes. O gosto pelo muay thai começou quando eu tinha seis anos e o futebol chegou um bocadinho mais tarde.
Como é que a tua família reagiu à mudança do muay thai para o futebol feminino?
Os meus pais sempre me apoiaram. À medida que eu ia tendo algum reconhecimento, tanto no futsal como no futebol de 7, eles viram que eu até podia ter jeito e estiveram sempre do meu lado.
As tuas duas irmãs também jogam, não é?
Sim, a minha irmã mais velha é minha treinadora, em conjunto com o meu cunhado. E a minha irmã mais nova também joga.
Então ter familiares ligadas ao futebol feminino acabou por tornar as coisas mais fáceis para ti…
Sim, sem dúvida. E os meus irmãos também jogam, portanto o futebol esteve sempre presente na minha família.
Gostavas de ser profissional de futebol feminino?
Claro que sim, é o sonho de qualquer jogadora. Quanto mais longe pudermos ir, tanto melhor. Em relação ao muay thai, já sou profissional, embora em Portugal não haja verbas para fazer disso vida. Mas já combato como profissional.
Onde sentes maior falta de apoios: no futebol ou no muay thai?
Provavelmente no muay thai. O futebol, hoje em dia comparado ao que era há uns anos, até porque as mulheres já deram mais que provas de que também sabem jogar à bola, está mais bem visto. O muay thai está por descobrir em Portugal, e a vertente feminina da modalidade ainda mais.
Tens uma filha. Como consegues conciliar os dois desportos com a vida familiar?
Não é fácil. Com a ajuda da minha mãe, que fica com a minha filha, é um bocadinho menos complicado, porque saio sempre tarde dos treinos.
Foste mãe com que idade?
Dezanove anos.
E na altura jogavas futebol?
Não, na altura só praticava muay thai.
E estiveste muito tempo parada?
Não, apenas três meses.
E trabalhas?
Sim, estou na EDP como vigilante, numa empresa de segurança.
Como tens visto o trabalho do SJPF na promoção do futebol feminino?
Pelo que tenho visto, e costumo acompanhar bastante o vosso trabalho, acho que é muito importante. O Sindicato sabe sempre a melhor forma de ajudar as jogadoras e evitar que os outros nos passem a perna.
Sentes o peso da camisola por jogares no Belenenses?
Claro que sim, muito mesmo. Não só por o clube ter uma grande história e por ter alcançado grandes feitos, mas também por ter começado a apostar no futebol feminino. Mas também acho que pode ser feito algo mais, já demos mais provas que com um bocadinho mais de apoios podemos chegar ainda mais longe…
Tens algum episódio marcante na tua carreira?
Acho que o mais marcante é mesmo a grande família que criámos aqui no Belenenses. A cada vitória e a cada jogo fomo-nos tornando mais unidas. Mesmo noutros clubes por onde passei não cheguei a sentir uma familiaridade tão grande como esta entre as jogadoras. Somos todas muito unidas. É uma realidade que não conhecia no futebol, até porque é habitual haver rivalidade entre as jogadoras.
Qual é o teu maior sonho enquanto atleta?
Representar a Selecção Nacional.
O que te falta para lá chegar?
Treino, muito treino. Mas é o que faço em todos os treinos, trabalhar muito. Para brincar, brinco em casa, com a minha filha.
Tens algum ídolo no futebol?
O Cristiano Ronaldo, claro. Também gosto muito da Cláudia Neto.
Se tivesses um convite para ir para fora e ser profissional, e mesmo sendo mãe, aceitavas?
Acho que sim. Era uma questão de ver e pensar na proposta.
O que achas que poderia mudar para melhorar o futebol feminino em Portugal?
Este ano foi o primeiro em que joguei futebol de 11 e não correu mal. Mas há muitas arestas a limar em vários sectores do clube. Quando o futebol é masculino, está tudo muito bem alinhavado. Mas com o futebol feminino, as coisas são mais desorganizadas e com menos condições, e essa iniciativa de melhoria deve partir do clube.
Queres deixar uma palavra para quem queira começar a jogar futebol feminino?
Independentemente da idade que tenham, se gostam, é uma questão de experimentar e nunca desistir de alimentar o sonho de jogar futebol feminino.
És feliz com a decisão de jogar futebol de 11?
Sim, muito. Ao início estava de pé atrás porque é longe de casa, mas estou a gostar e é para continuar.
Perfil
Nome: Sandra Marina Carrilho Pires
Local e Data de Nascimento: Barreiro, 1 de Fevereiro de 1988
Profissão: Segurança
Ano em que começou a jogar futebol: 2003
Clubes: Belenenses, Casa do Benfica da Baixa da Banheira, Grupo Desportivo Fabril, Selecção Distrital de Setúbal
Posição: Média
Fonte: SJPF