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Patrick Morais de Carvalho: “A relação com a Codecity tem os dias contados”

Patrick Morais de Carvalho: “A relação com a Codecity tem os dias contados”

Na passada Quinta-feira, dia 24 de Março, o presidente do Belenenses, Patrick Morais de Carvalho, deu uma entrevista ao Record na qual falou de toda a celeuma gerada com a SAD e dos seus planos de recompra do clube.

P.S – A Comunidade Azul não conseguiu transcrever a entrevista antes, em virtude da época festiva da Páscoa e da consequente falta de pessoal que daí adveio.

Record(R) – Uma das suas prioridades era normalizar as relações com a SAD e agora quer avançar para a recompra. O que correu mal?

Patrick Morais de Carvalho(PMC) – A coisa começou mal, porque o negócio consumou-se uma assembleia geral(AG) em que se vendeu encapotadamente a alma do clube. Hoje, apesar de termos feito tudo para pacificar as relações, 96% dos sócios mandataram a direcção no sentido de recomprar a SAD. A relação com a Codecity tem os dias contados.

R – Disse, já depois de eleito, que iria negociar pela via diplomática a denúncia que a SAD fez do acordo parassocial. Não houve vontade?

PMC – A Codecity, que detém 51%, entende que o clube não tem direito a comprar a maioria do capital da SAD e o clube entende, que não só tem, como quer encontrar a melhor forma de exercer a opção. A Codecity tem revelado falta de nobreza na relação com os órgãos sociais e com os sócios. Nunca teve capacidade para perceber a história do Belenenses e tem uma enorme incapacidade financeira.

R – Deu-se uma mudança radical, visto ter dito no início do mandato que não queria comprar algo que não estava à venda para não criar instabilidade…

PMC – Recuando a Novembro de 2012, altura em que o capital foi entregue à Codecity, nenhum sócio conhecia o processo, apenas o espírito. Ambas as partes declararam em comunicado a possibilidade de o Belenenses voltar a ser maioritário.

R – A verdade é que o acordo está denunciado, como vai ultrapassar juridicamente a questão?

PMC – Foi denunciado unilateralmente, argumentando que era falta de fair play não deixar entrar acompanhantes com adereços do Benfica para a bancada de sócios e alegando uma dívida de 338 mil euros, verba reclamada no PER do Belenenses que adivinha de receitas cativas ao abrigo do aval dado no âmbito do Totonegócio. O administrador de insolvência considerou esse critério subordinado e reduzi-o a zero. Nessa altura, António Soares respondeu a essa carta de uma forma que não deixa dúvidas e alegou dívidas da SAD ao clube no mesmo valor, incluindo contas de água, luz, gás, comissões de jogadores, direitos de formação, pequenos-almoços… Este é, no fundo, o “modus operandi” da SAD. A determinada altura pus como condição a necessidade de obter uma declaração da Codecity no sentido de dizer que o parassocial estava em vigor. Sem resultados práticos, mas não vamos facilitar.

R – Qual vai ser a estratégia utilizada?

PMC – A única forma de pacificar é o clube controlar o futebol profissional. Sem ele o clube está a seco. Perdi a paciência e quis ouvir os sócios, porque sou sério, e o resultado foi uma das AG mais concorridas de sempre a mandatar-me com 96% e sem votos contra para fazer tudo o que estiver ao alcance para recomprar a SAD. Esta devia retirar conclusões e sair pelo seu próprio pé, recebendo aquilo a que tem direito. Quanto à estratégia, mandatei uma sociedade de advogados e o dr. Raposo Subtil, um dos grandes advogados portugueses, está a traçar o caminho. Vamos garantir o direito à opção e encontrar, posteriormente, o melhor modelo financeiro para exercer a recomprar. A última AG foi a ressurreição do Belenenses.

R – Como vai conseguir 7/8 milhões para realizar a operação?

PMC – O valor que vier a ser determinado tem a ver com a gestão da SAD, que não apresentou contas de 2014/2015. Terá de ser apurado pela CMVM. Nada se sabe, a não ser que o primeiro acto público que tomou foi requerer um PER que não é mais do que a confissão pública de que não consegue pagar as dívidas. É ante-câmara da falência.

R – Mas o passivo foi reduzido…

PMC – O PER ainda não foi homolgado. Conhecemos os credores porque temos a lista, e o que isto quer dizer é que a SAD não paga na há ano e meio. São reclamados mais de 8 milhões, com a agravante de mais de 1 milhão ser dívida criada pela própria Sociedade. Entre os credores estão 20 ou 30 jogadores, Van der Gaag, Jorge Simão e Lito Vidigal. Há sócios que me dizem: “Tirem-nos daqui, desliguem a água e a luz e vamos começar nos Distritais”, mas eu quero a equipa na Liga NOS sem dever nada a ninguém. Quero que chego o dia em que a Codecity vá embora.

R – Tem algum parceiro para esta operação de recompra?

PMC – Não procuro parceiros. Importante é reunir condições para readquirir a maioria do capital e, posteriormente, encontrar um modelo de gestão adaptado ao séc. XXI. Imagine que a questão do parassocial até pode nem ser importante na nossa estratégia. No caminho jurídico abrem-se mil estradas e não vou levantar o véu sobre o caminho a seguir.

R – Mas os sócios quererão saber o mínimo…

PMC – O objectivo é avançar com meios próprios. O clube tem muito mais saúde financeira do que a SAD e a evidência é que a esmagadora maioria dos sócios quer ver a Codecity fora do Restelo.

R – Admitiu a hipótese de antecipar eleições- Tem medo de um candidato apoiado por Rui Pedro Soares?

PMC – A antecipação é um cenário que está em aberto, mas duvido que algum sócio de bem queira o apoio da Codecity. Eu não quero e, se o tivesse, repudiava-o. Aiás, não foi admitido como sócio por uma série de desrespeitos, incumprimentos e uma atitude de permanente de dividir para reinar. O Belenenses é credor e, a cada dia que passa, a conta-corrente pende mais para o clube , porque a SAD é que utiliza os recursos do Belenenses.

R – Como comenta o facto de o Banif ter uma penhora sobre os terrenos de mais de 5 milhões?

PMC – Não existe qualquer penhora! Recebemos uma acção executiva do Banif para o pagamento de 5 milhões de euros, o total da dívida, com base numa livrança assinada em branco de 2011. Imediatamente o juiz indeferiu o pedido, porque as livranças têm três anos de validade. O título executivo era ilegítimo e a execução foi logo sustida. O Banfi tem duas garantias. A saber: 180 meses de consignação da renda da BP, que são 800 mil euros, e a hipoteca da Repsol, avaliada em 700 mil euros, e não tem de ter um crédito garantido de 5 milhões. O processo está a ser julgado, porque nós deduzimos embargos a essa execução e os créditos garantidos são 1.5 milhões. Os outros 3,5 milhões devem ser considerados créditos comuns, iguais a todos os outros e com a redução de 95% do valor no âmbito do PER. Temos, aliás, um parecer de António Pedro Ferreira, um dos maiores especialistas portugueses em Direito bancário.

R – E o que espera que aconteça a seguir?

PMC – Neste caso, quem tem um problema é o Banif. Aliás, a estratégia que está a ser seguida por nós foi explicada aos sócios em AG e o próprio António Soares, que me antecedeu na presidência do clube, me deu os parabéns. Em resumo, acreditamos que vamos reduzir a dívida ao Banif para 1,5 milhões de euros.

R – O que não está a ser cumprido em termos de formação?

PMC – É uma aposta do clube e há uma receita da UEFA para apoio ao futebol de formação de cerca de 50 mil euros/ano que a SAD retém, além dos direitos de formação. Os jogadores são aliciados de modo camuflado pela SAD, que só pode ter contratos profissionais, e assim vínculos que não são registados. O Gonçalo Tavares, que se vinculou por seis anos, é um exemplo. Se formos ao cadastro de jogadores como Varela e Nuno Tomás, verificamos que são amadores na FPF. Desta forma não se vencem os direitos de formação.  Esta SAD nunca os pagou. O clube vai enviar esta conta-corrente para o Tribunal Arbitral. Isto para não falar das contas de água, luz e gás. Cobramos 10% e mesmo assim não recebemos.

R – Há uma parceria coma Bluedream na formação. Como se repartem os lucros?

PMC – Pareceria até aos sub-14. Os miúdos pagam 35€ por mês, as receitas entram no clube e daí são pagas as despesas com treinadores, o coordenador João Raimundo, inspeções médicas, inscrições, viagens, alimentação, etc. No final, o lucro é dividido em partes iguais entre o Belenenses e a Bluedream. A partir dos sub-15, verticalizei a estrutura e convidei João Raimundo para ser director do futebol de formação.

R – Uma das divergências com a SAD é a requalificação do Restelo?

PMC – Não, porque a Codecity e a SAD não têm nada a ver com isso. É um projecto do Belenenses. Fomos à Câmara, onde nos disseram existir um projecto com horas despendidas por técnicos em parceria com o arq. Miguel Saraiva. Quanto tivermos o PIP faremos o licenciamento de cada parcela. Haverá concurso internacional e os candidatos apresentarão uma maquete, um plano financeiro e propostas mediante um programa do concurso e um caderno de encargos.  Em todos pediremos contrapartidas desportivas. Vamos já avançar com o primeiro concurso, um colégio para o qual há autorização condicionada à aprovação do PIP. Nenhum promotor vai financiar-se à custa dos terrenos do Belenenses.

R – Garantiu, entretanto, a exploração do bingo…

PMC – Uma concessão sem prazo e encontrámos um parceiro que garante as melhores contrapartidas ao clube, que voltará a ter o seu nome na sala. O clube fica a receber uma retribuição fixa, acrescida de uma variável. Estou certo que esta será uma aliança duradoura.

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