Once Upon A Time In… Hollywood poderá dar o tão desejado Oscar de Melhor Filme a Quentin Tarantino. Será este o filme de Tarantino que será agraciado pela Academia com o maior prémio? Leia aqui a nossa crítica.
Crítica feita por: Bernardo Freire (Visão de um Crítico)
Conhecendo Quentin Tarantino como conheço, a ideia do seu nono filme girar em torno dos infames assassinatos da família Manson, que marcaram Los Angeles no verão de 1969, soava a um tempo sangrento no cinema. Surpreendentemente, acaba por ser a experiência mais leve, relaxada e introspetiva que o realizador e argumentista alguma vez transportou para o grande ecrã. Com pozinhos de humor negro espalhados por toda a narrativa, que culminam num clímax bombasticamente hilariante.
A narrativa de Once Upon a Time In… Hollywood segue a estrutura, ou falta dela, que filmes como Pulp Fiction (1994) e Inglorious Basterds (2007) presentearam. Tem uma natureza mais ou menos episódica, ainda que exista um tenro fio condutor. Desta feita, seguimos a estrela de entretenimento televisivo Rick Dalton (Leonardo DiCaprio) e o seu duplo-agora-motorista Cliff Booth (Brad Pitt) nas suas tarefas diárias. Dalton está a ter dificuldades em gerir a sua carreira de ator, enquanto na casa ao lado, a bela e talentosa Sharon Tate (Margot Robbie) começa a saborear a sua carreira ascendente enquanto atriz de cinema. Ninguém sabe o que o futuro lhes reserva.
É clássico Tarantino: A direção de fotografia aliciante e precisa, as cores vibrantes e lascivas (os laranjas aqui estão incríveis), a ausência do politicamente correto, a utilização gratificante de música dos anos 60 e 70, os diálogos que deambulam em vez de correrem e a violência que, embora menos preponderante, não falta quando é chamada à festa.
Ainda assim, o que mais se destaca em Once Upon a Time é a total devoção à invocação de uma cidade que está prestes a ver os seus dias dourados para trás. O detalhe na direção de arte é tão obsessivo como imersivo, desde a geografia de Los Angeles até aos placares luminosos, passando pelos carros e pelos cinemas. A nostalgia sempre foi um traço reconhecido no realizador, mas aqui é onde provavelmente o seu apreço pelos westerns, atores, e uma era de glamour e produções cinematográficas é mais palpável. E pés (sim, pés).
Também impressionantes estão os três protagonistas, assim como a maioria dos intérpretes secundários. DiCaprio, Pitt e Robbie fazem jus ao cenário vivido que habitam. De certo modo, é este brilhante pedaço de casting que eleva um filme que por vezes meandra demasiado. Outro problema é a falta de suspense e a inconsequência de um par de cenas, algo que é frequentemente contrabalançado com doses saudáveis de humor.
Por entre a azáfama das vidas das personagens, o trágico episódio da família Manson não fica esquecido, mas a abordagem de Tarantino é mais esperançosa do que a fatalidade que conhecemos. O que propõe um final de década mais otimista e sorridente para todos. Um gesto de estima que reflete exatamente aquilo que o realizador sente pela época que retrata: Carinho incondicional.