Um estudo recente sobre literacia financeira mostrou a realidade do mercado de capitais em Portugal e deu o mote de arranque para esta nova rúbrica no CA Notícias.
Este estudo mostrou alguns dados interessantes sobre os níveis de poupança e de investimento dos portugueses.
Resulta de uma iniciativa da Comissão de Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), no âmbito da comemoração dos 30 anos da entidade, apoiada pela Direção-Geral do Apoio às Reformas Estruturais, da Comissão Europeia.
Envolve uma amostra de 15.173 indivíduos, o que, apesar de ser uma amostra demasiado pequena do universo português (representa cerca de 0.14% da população residente em Portugal), revela alguns indicadores interessantes.
Destaco alguns dos principais pontos.
Poupança:
- Segundo o estudo, cada vez mais portugueses poupam dinheiro, mas são avessos ao risco.
- A parcela dos portugueses que não poupam decresceu continuamente de 48% em 2010 para os 38% em 2020 (representa uma melhoria de 20% em 10 anos)
- A percentagem de poupança em Portugal ronda os 7% (abaixo da média europeia que se situa nos 12%)
- >1/3 dos portugueses não poupou nos últimos 12 meses
Investimentos:
- 64% dos inquiridos nunca investiu o seu dinheiro
- 28% assumem-se como investidores atuais ou já investiram (o que compara com os 10% em 2010)
- maioria dos que investem vivem nas grandes cidades do país
- 57% dos investidores são do género masculino
- existe uma correlação positiva entre as habilitações académicas e a propensão para investir
- quanto maior o nível de rendimento, maior a propensão para ser investidor ou ter investido
- As decisões de investimento baseiam-se essencialmente nas dicas dos amigos ou dos funcionários dos bancos:
- 46% têm os funcionários dos bancos como principal fonte de informação
- 38% consideram as famílias e os amigos
- Apenas 14% lê relatórios financeiros das empresas, enquanto 60% dos investidores consulta informação na Internet (estando assim as suas decisões vulneráveis às notícias ou às opiniões de analistas)
- ¼ dos portugueses não lê os contratos de investimento contratados pelo Banco:
- porque confiam no funcionário ao balcão (13%)
- porque não consideram muito importante (11%)
- Motivos para não investir:
- A falta de liquidez é o motivo principal para não investir; a ter liquidez é o principal motivo para investir
- Os que não querem investir apontam os seguintes motivos para não o fazer:
- 47% falta de recursos
- 24% falta de confiança
- 23% aversão ao risco
- A maioria dos investidores que perderam dinheiro no passado rejeitam culpas:
- 62% consideram que perderam dinheiro por mudanças no mercado
- 26% por mau aconselhamento
- 13% por azar
- Notas finais:
- Os programas de formação, workshops e seminários são as iniciativas que os inquiridos mais recomendariam para aumentar a perceção dos concidadãos sobre os investimentos.
- No que diz respeito à procura de informação sobre dinheiro, poupança e investimentos, 46% procura informação na rádio; 43% na Internet
Considero que houve melhorias em alguns campos nos últimos dez anos. Por um lado, foram reveladas algumas lacunas do conhecimento que precisam de ser rapidamente corrigidas. Os portugueses continuam avessos ao risco e a entregar o sue dinheiro a entidades financeiras sem fazer perguntas. É preciso melhorar o conhecimento financeiro das famílias para tomarem melhores decisões.
Por outro lado, o interesse pelos investimentos em Portugal parece estar a aumentar. E isso é ótimo para um país que precisa de dinamizar o seu mercado de capitias e trazer a população civil para fazer avançar a economia.
Que esta nova rúbrica possa ser um contributo importante para a literacia financeira em Portugal. Acima de tudo, que possa ser contribuir para aumentar os níveis de poupança e investimento dos portugueses.