Noiserv vai comemorar os seus 13 anos de carreira com os fãs no Teatro Tivoli BBVA no dia 5 de Abril, concerto imperdível para os fãs do músico. Estivemos à conversa com Noiserv e falámos do concerto, do seu percurso, do futuro que se avizinha e até do Festival da Canção.
Criado em 2005 pelo músico David Santos, Noiserv é um dos mais criativos e estimulantes projectos musicais portugueses da última década, devido às canções capazes de atingir cada indivíduo na sua intimidade, relembrando-lhe vivências, momentos e memórias intrincadas entre a realidade e o sonho.
Noiserv, a quem já chamaram “o homem-orquestra” ou “banda de um homem só”, conta no seu currículo com o bem sucedido disco de estreia “One Hundred Miles From Thoughtlessness” [2008], o EP “A Day in the Day of the Days” [2010] e o galardoado “Almost Visible Orchestra” que foi distinguido como Melhor Disco de 2013 pela SPA, Sociedade Portuguesa de Autores.
Em 2016, edita “00:00:00:00” que é descrito pelo músico como “a banda sonora para um filme que ainda não existe, mas que talvez um dia venha a existir”. É um disco diferente dos anteriores, em que a “orquestra de sons” habituais deu lugar ao som de um piano tocado a muitas mãos, enquanto a sua voz, nos temas não instrumentais, canta histórias em português.
Após uma digressão intensa dentro e fora de Portugal, dia 5 de Abril Noiserv apresenta-se no Teatro Tivoli BBVA. Os bilhetes já estão à venda e custam entre 10 a 15 €.
Fiquem com a entrevista com Noiserv:
CA Notícias: Este concerto marcará os teus 13 anos de carreira. O que podemos esperar do concerto a 5 Abril?
Noiserv: Espero conseguir tocar as minhas músicas da melhor maneira possível e que as pessoas fiquem satisfeitas com o que ouvirem e que no final as músicas lhes tenham de alguma forma tocado. Para mim isso será o suficiente para ficar satisfeito. Ainda não tenho o alinhamento fechado nem sei as músicas que quero tocar, mas tenho a ideia de percorrer toda a minha discografia. Fazer uma viagem por esses discos todos, mostrar que os 13 anos podem-se todos fundir num só e fazer sentido tocar uma música de 2005 e logo a seguir uma de 2016 e tudo é a mesma pessoa.
CA: Tens medo de que isto um dia irá acabar?
Noiserv: Na faculdade eu tirei engenharia, e a música era sempre algo que eu queria fazer, mas que acreditava ser muito difícil. Quando de repente as coisas começam a acontecer e começo a conseguir viver da música, pode-se dar o caso de algum dia não o conseguir fazer, chegando um dia em que já não tenha gozo em escrever música ou não consiga escrever. E como não quero que isso aconteça, tenho sempre esse medo. Bandas que gosto e oiço muitas vezes têm últimos álbuns piores do que os anteriores porque não souberam acabar a tempo. Não é que eu vá fazer isso, mas gostaria de ter a noção de quando não faça sentido, querendo eu que faça sentido para sempre.
CA: Quais foram os momentos mais marcantes do teu percurso?
Noiserv: Felizmente há muitos marcantes, todos os concertos que correram bem e que as pessoas gostaram e em que eu me senti bem a tocar, esses são todos os momentos fortes. Tal como lançar um disco. É complicado escolher um momento em específico, porque tocar numa sala para 200 pessoas ou num festival com 30.000 pessoas não é mais ou menos importante. Seria injusto, até para mim próprio, escolher algum momento em particular. Todos os momentos bons são marcantes e que me levam a querer continuar.
CA: Como foi a passagem da engenharia para a música?
Noiserv: A música vem até antes da engenharia, nas bandas de liceu com 14, 15 anos e mais a sério quando comecei a faculdade. A passagem para a música por completo aconteceu quando já não conseguia conciliar o Noiserv com a engenharia. A música sobrepôs-se ao trabalho que ia tendo de engenharia, e eu precisava de tempo para fazer aquilo que mais gostava.
CA: Poderás revelar se tens novos projectos em calha e se sim, poderás desvendar se serão em Inglês ou em Português?
Noiserv: Tenho alguns rascunhos de um disco novo mas não tenho ideia de qual a língua em que irei escrever. São duas línguas em que gosto de cantar. Dependendo das melodias, uma língua ou a outra fazem mais sentido. Por norma não gosto de misturar Inglês e Português no mesmo disco. Mas ainda não percebi dos rascunhos que tenho se o novo disco será totalmente em Português ou em Inglês. Mas será cantado (risos).
CA: No ano passado, antes da edição do Festival da Canção, referiste que “o mediatismo em volta do festival da canção foi caindo”. Hoje já poderás dizer que houve a recuperação desse tal mediatismo?
Noiserv: Estes últimos 2 anos mostram a recuperação do interesse das pessoas de todas as gerações em relação ao Festival da Canção. Essa identidade regressou, mas não sei por quanto tempo. Porque neste momento ao mínimo desinteresse as pessoas podem desligar-se do evento, tal é a quantidade de conteúdo oferecida em comparação com o tempo em que só havia um canal. Este ano foi um sucesso em parte pela vitória do Salvador no ano passado, não sei como vai correr esta música na Eurovisão, mas se ao fim de 2, 3 anos não correr bem, as pessoas podem, injustamente, perder novamente o interesse. Em relação às músicas desta edição do Festival da Canção, as canções só são ouvidas durante o programa, e aquilo é um momento televisivo e isso depende de muitos factores, ficando por vezes a música como secundária na avaliação. Para avaliar uma música, teria de a ouvir sem existir no programa. Em relação aos três, quatro primeiro classificados desta edição foram aqueles que mais se destacaram em termos de momento televisivo.
CA: “00:00:00:00” será um filme no futuro?
Noiserv: Gostava de um dia fazer um filme, mas a banda-sonora não teria de ser necessariamente com as músicas deste álbum. Estas músicas não foram pensadas com a ideia de virem a integrar um filme, mas quando oiço o álbum de uma ponta a outra sinto que as músicas poderiam estar num filme, e esse conceito vem daí. Ao ouvir o disco, as imagens criadas pela nossa cabeça servem de filme e essas músicas seriam a banda-sonora. Mas produzir um filme em concreto com estas músicas, para já não tenho um plano.
CA: Tocas mais de 100 instrumentos, verdade?
Noiserv: Sim, muitos destes instrumentos são teclados e sintetizadores em que a base é o piano, depois todos eles têm é sons particulares que os distingue. Em 100, se calhar 50 são teclados, e isso só implica “habituar-me” a logística de como o tocar.
CA: Para finalizar, sentes que o teu percurso poderá servir de inspiração para os mais jovens que pretendem seguir a música no seu futuro?
Noiserv: Quando às vezes me vêm dizer pelo Facebook ou no final dos concertos que as minhas músicas os inspiraram para fazerem as suas próprias músicas é a melhor coisa que podes ouvir, mas não gosto de tentar assumir essa responsabilidade. Acho que cada um vai tentando fazer as coisas da melhor maneira possível e se isso conseguir fazer parte da vida dos outros melhor ainda.
Informações Úteis
5 Abril, Teatro Tivoli BBVA
Noiserv: 21h30
Preços: entre 10 e 15€