RECORD – Como é que começou o futebol para si?
MATT JONES – Tenho um irmão quatro anos mais velho, que me levava a jogar na rua com os amigos. Apesar de não querer, jogava à baliza, porque era o mais novo. Não me queixei e, desde essa altura, fui sempre guarda-redes, até porque lá no fundo sabia que não tinha jeito para ser jogador de campo. Mais tarde fui treinar a Stoke e assinei um contrato com 7 anos e, aos 14, vinculei-me ao West Bromwich.
R – Estudando simultaneamente?
MJ – Não era fácil conciliar, mas eu sabia a importância que os estudos tinham. No futebol nunca se sabe o que vai acontecer e é sempre preciso ter um plano B. Eu tenho um diploma tirado nos Estados Unidos e, se alguma coisa correr mal, há outras coisas a que me posso dedicar. Foi difícil, porque havia sempre festas, muita gente a sair à noite, mas eu tinha de me lembrar que, além de estudante, era também jogador de futebol. Ao fim do dia, tinha de ter a consciência de que tinha de treinar.
R – Quer dizer que a ida para os Estados Unidos foi mesmo por causa dos estudos?
MJ – Um pouco pelas duas coisas. Aqui é preciso decidir entre estudos e futebol. Em Inglaterra, quando estava no West Bromwich, havia um dia por semana para estudar e a perspetiva era tirar um curso sem grande valor. Quando recebi a proposta dos Estados Unidos, vi que era possível fazer as duas coisas ao mesmo tempo e isso foi uma vantagem. Não é preciso optar por isto ou por aquilo logo aos 18 anos.
R – O maior sacrifício foi privar-se das festas e das saídas à noite?
MJ – Aos 18 anos e muito longe de casa, é claro que gostamos de sair…
R – Mas acabou por encontrar a sua mulher nos Estados Unidos…
MJ – É americana, era minha colega na universidade e também jogava à bola. Ela era a capitã da equipa feminina e eu da masculina. Começámos a namorar logo no primeiro ano e acabámos por casar.
R – Entretanto, acontece a sua vinda para Portugal e, ao que se sabe, o destino era o Belenenses.
MJ – O meu treinador nos Estados Unidos era português e tinha um contacto que, por acaso, era em Belém. Encontrou-se uma maneira de treinar uns dias no Belenenses, que estava a preparar-se para realizar o estágio de pré-época em Gouveia. A verdade é que fiquei a treinar com os juniores sob as ordens de Rui Jorge e nada aconteceu.
R – Como se sentiu a treinar com os juniores?
MJ – Tive muita paciência. Trabalhei durante três dias e pensei sempre de forma positiva. Hoje penso que se isso não tivesse acontecido, talvez não estivesse agora aqui. Sei, por outro lado, que aquela foi também uma altura difícil para o Belenenses. Havia a hipótese de vender o Júlio César para o Benfica, mas sem certezas. De qualquer forma, tudo acabou por me correr bem.
R – Qual foi o episódio seguinte?
MJ – O meu empresário falou-me, posteriormente, que o Vítor Pereira, na altura a treinar o Santa Clara, estava à procura de um guarda-redes. Acabei por integrar o estágio da equipa açoriana e fiz um jogo-treino, mas a representar o Tourizense…
R – E, segundo sei, realizou uma ótima exibição?
MJ – É verdade. Defendi, inclusivamente, uma grande penalidade. Assinei logo um contrato de dois anos com o Santa Clara.
R – De qualquer maneira, parecia estar escrito que viria um dia parar ao Belenenses, uma vez que a transferência acabou mesmo por consumar-se?
MJ – É estranho mas o mundo do futebol tem estas coisas. Foi uma surpresa, mas o treinador era novo, a direção também e tratou-se de uma oportunidade. Nem pensei duas vezes. Falei com o meu empresário e a negociação foi fácil e rápida.
R – Tem sido providencial em vários jogos, garantindo muitos pontos. Já se sente um guarda-redes maduro?
MJ – Tenho muito mais para dar. Nunca fico contente com as minhas prestações, mesmo que tenha realizado um grande jogo. Quero melhorar sempre. Sou titular na Liga portuguesa, mas isso não me chega. Quero ir o mais longe possível.
R – O seu principal objetivo é chegar à Premier League?
MJ – É um sonho que tenho. Fiz a formação no West Bromwich, mas não tive essa oportunidade. Fiz muitos jogos nas reservas e já foi espetacular, mas se não acontecer, não vou ficar triste. Não tenho uma meta definida em termos de carreira, mas quero chegar ao mais alto nível e trabalho todos os dias para isso. Voltar aos Estados Unidos também seria muito bom, mas se permanecer no Belenenses, também vou estar sempre satisfeito.
R – Tem algum clube preferido na Premier League?
MJ – Sempre fui adepto do Manchester United, mas qualquer equipa do campeonato inglês é grande e tenho de trabalhar muito para lá chegar.
R – No ano transato falou-se que esteve a ser observado para uma eventual chamada à seleção inglesa. Aconteceu, de facto, alguma coisa?
MJ – Soube pelos jornais. A seleção inglesa é muito forte, mas nunca vai deixar de ser um objetivo para mim.
R – Uma qualificação europeia do Belenenses dar-lhe-ia mais visibilidade…
MJ – Mais visibilidade, tornando o currículo mais rico, mas o mais importante é continuar a trabalhar todos os dias para melhorar e aperfeiçoar as minhas qualidades.
R – Até quando está vinculado ao Belenenses?
MJ – Tenho contrato assinado até ao final da temporada 2015/16.
R – É para cumprir ou a sua grande ambição pode levá-lo a abandonar mais cedo o clube?
MJ – Não estou a pensar sair antes de terminar o contrato. Posso até vir a permanecer muitos anos no Belenenses. Obviamente que vou estudar qualquer proposta que apareça. Estarei sempre aberto a experimentar outros campeonatos, mas não vivo a pensar nessa possibilidade, até porque, como já disse, sinto-me muito contente a representar o Belenenses.
Fonte: Record