Maria Reis
Música & Festivais | Concerto
Sala Principal
Classificação Etária
Maiores de 6 anos
Bilhete Pago
A partir dos 12 anos
Promotor
Jazz ao Centro Clube
Breve Introdução
Uma noite, no Porto, Maria Reis ouviu alguém dizer que “o amor sem imaginação é um estado”. Encontramos estas palavras no poema que figura na contracapa de Benefício da Dúvida. Ao longo de sete músicas, Maria conduz-nos pelo estreito e inebriante caminho que o amor desenha sobre o abismo, equilibrando-se entre o risco das certezas vazias de imaginação e o risco da queda. Depois da colorida tristeza e raiva que encontrámos em Chove na Sala, Água nos Olhos, álbum em que colaborou com vários músicos e produtores, e da ternura e ironia de A Flor da Urtiga, produzido por Noah Lennox (Panda Bear), Benefício da Dúvida aparece consideravelmente mais despido, com arranjos simples e crus criados no seio de um grupo íntimo: Júlia Reis, na voz e no pandeiro, e Leonardo Bindilatti que, com Maria e Júlia, assina a produção. O uso de meios mínimos espelha um longo período de digressão a solo, que incluiu duas residências de criação (no Teatro Viriato, em Viseu, e no Gnration, em Braga), onde nasceram algumas destas músicas, depois gravadas entre Braga e Lisboa.
Benefício da Dúvida traça um arco entre a primeira e a última faixas, mais sombrias e interrogativas, que abertamente citam o grunge. A primeira, “Lobisomem”, rasga o silêncio com feedback, distorção e uma batida dupla de tambor, que evoca o bater do coração. As palavras apresentam o amor como jogo de reconhecimentos e enganos (afinal, os lobisomens são apenas “todos cães”), questão que se desdobra ao longo do álbum, não só a propósito do amor, mas também da relação consigo mesma, bem expressa no grito de “Desaparece” (que evoca “Akon”, canção das Pega Monstro que integra o disco homónimo de 2012) ou na melancólica “Fórceps”. Mas as faixas que compõem o núcleo do álbum são igualmente marcadas por uma tonalidade solar, que parece insistir na acção, na afirmação e no cuidar, apesar da dúvida. Assim o mostram “Virgem Maria”, calmante hino de liberdade tocado com a viola campaniça de Maria e o pandeiro de Júlia (em lugar da habitual bateria) e “Benefício da Dúvida”, faixa habilmente plantada no meio do disco, pontuada pela urgência do ritmo e pelos arranjos de vozes exuberantes que celebram o puro êxtase de escolher arriscar.
O rush alegre de provar o desconhecido e os perigos do caminho estão ambos igualmente plasmados na capa do disco que, como nos dois anteriores, é da autoria de Sara Graça. Benefício da Dúvida termina em modo crepuscular, com “Elefante na Sala”, bela canção que faz pensar nos sussurros de Elliott Smith, e poema que não hesita em conviver com o desconforto. Como escreve Maria, dar o benefício da dúvida é “prosseguir, no limite desta jogada desconhecida”. Porque, afinal, “quem não tenta, desiste”.
Filipa Cordeiro
Preços
- Geral – 10€
Sessão
10 jun 2022 21:30
Duração
60 minutos