O pianista britânico James Rhodes com 42 anos, é um caso de sucesso na musica clássica. Apaixonando-se pela música aos sete anos, iniciou a sua formação musical aos 14 anos, que acabaria por abandonar pouco tempo depois, ficando dez anos sem tocar piano.
Em 2008, após o seu primeiro recital público, assinou contrato com a Warner Bros, e desde aí já editou sete álbuns, escreveu cinco títulos, é cronista do jornal The Guardian, apresenta programas televisivos e radiofónicos e promove programas de sensibilização musical para escolas.
“Instrumental” é o titulo que atribui a memórias delicadas que partilha sobre a sua infância, não somente por considerar que estes temas carecem de uma maior divulgação, mas para ajudar todos aqueles que viveram historias semelhantes mostrando-os que não estão sós. Também fala e critica opções tomadas pela maioria dos Governos da Europa Ocidental, que relegam as Artes e a Cultura para valores ínfimos dos seus orçamentos.
O livro “Instrumental” foi publicado em 2015 só depois de um tribunal o ter autorizado, sendo que a sua ex-mulher temia que a divulgação da sua história pudesse prejudicar a vida dos seus filhos.
Agora, em entrevista à CA Noticias, o artista fala-nos sobre a motivação e a expetativa da divulgação do seu novo livro em Portugal.
CA (CA Notícias) – “Instrumental” foi inicialmente publicada em 2015. O que o motivou a contar a sua a sua historia e porquê?
Rhodes – Eu queria escrever uma carta de amor para o meu filho e também para a música. E, mais importante, queria escrever com as minhas próprias palavras sobre temas difíceis e dos quais precisamos de falar mais – doença mental, automutilação, estupro, suicídio – ainda há muito estigma em torno desses assuntos.
CA – Acha que a sua relação apaixonada com a música clássica vai fazer com que outros se apaixonem por ela, sabendo o que ela fez por si?
Rhodes – Ah, espero que sim. O que mais me entusiasma com “Instrumental” é a lista de reprodução do Spotify que a acompanha – mais de 20 das maiores peças de música já compostas. É uma introdução perfeita ao conjunto maravilhoso do mundo da música clássica.
CA – Como é que compartilhar as suas memórias com o mundo através deste livro o faz sentir?
Rhodes – Exposto. E à vez desconfortável. Mas, novamente, acho que é importante falar. Eu sempre prometi a mim mesmo que se eu tivesse um microfone, mesmo que fosse um pequeno, eu me certificaria de que, se eu me achasse pronto, uma das coisas que iria falar era a minha infância, na esperança de que outras pessoas que passaram por coisas similares não se sentissem tão sozinhas.
CA – Acha que depois de dar a conhecer sua história, a sua música possa ser melhor interpretada?
Rhodes – Não, não penso assim. O truque de magia com música clássica é que ela é como um idioma em que – todo mundo – nasce fluente. Todos nós respondemos a isso e ela se transforma dentro de nós, debaixo de palavras, para uma parte de nós mesmos que muitas vezes é coberto pelo dia a dia e que todos temos que lidar com.
CA – Esta é a primeira vez que vem tocar em Portugal no Misty Fest, em Lisboa e no Porto. Quais são suas expectativas?
Rhodes –Boa comida, clima decente, uma calorosa receção. Eu espero! A minha experiência em Portugal tem sido maravilhosa até agora e mal posso esperar para voltar a tocar o piano lá.
“Instrumental” estará disponível nas bancas esta semana pela editora Alfaguara numa tradução de José Remelhe. Em Portugal, estreia-se em novembro no Misty Fest, com concertos marcados para o dia 13, na Casa da Música, no Porto, e no dia seguinte, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa.