Hoje, durante hora e meia terás milhares de corações a bater por ti, milhares de pessoas que vão abdicar daquilo que normalmente fazem para te ver jogar, pessoas que vão abdicar de estar à mesa, com a família, a jantar, para ir para um qualquer café da capital, para vibrar por ti, rodeadas de amigos, pessoas que normalmente chegam, a essa hora, a casa, cansadas do trabalho e que normalmente só querem descansar e que hoje chegam cheias de energia, porque jogas tu, pessoas que, apesar das dificuldades que todos passamos, fizeram o esforço de te acompanhar até Itália. Hoje, durante hora e meia, terás sobre ti, milhares de olhos de esperança, de querer, de ambição.
Hoje, durante hora e meia, serás tudo. Serás o ponto exato entre a alegria e a tristeza, entre a expectativa e a desilusão.
Hoje, durante hora e meia, não haverá crise, não haverá fome, não haverão dificuldades, não haverá mais nada, a não seres tu. Tu que vestes esse manto sagrado. Esse manto que já viveu muitas noites históricas. Esse manto,azul, como a esperança, como o mar que nos levou à conquista, como o céu que hoje, às 20 horas, tentaremos alcançar.
Acreditar é a razão porque escrevo aqui, acreditar é a razão porque eu e mais uns milhares vamos ver o jogo na televisão, acreditar foi o que levou dezenas de pessoas a irem-te acompanhar até Florença. Acreditar, hoje, é palavra de ordem.
Nós somos Belenenses, somos habituados desde cedo a sofrer, a não virar a cara à luta e às adversidades, somos da raça daqueles que nunca desistem, mesmo quando parece impossível, daqueles que não viram a cara à luta, daqueles que, quando as coisas apertam e somos chamados, dizemos sempre presente. Somos da raça daqueles que nunca se vergam às dificuldades.
Este ano, já me deste uma das noites mais bonitas da minha vida: Basileia. Dá-me outra, por ti, por mim, por nós e por todos aqueles antepassados que eu sei, que estejam onde estiveram, hoje, acenderão uma velinha por nós e irão pôr o cachecol ao pescoço, porque esses nunca falham.
Quando, em 89, Chico Faria, num rasgo de força e raça, pegou, em pleno Jamor, na bola, a meio-campo, driblando Veloso e correndo como uma seta mais de 45 metros até à glória, ele acreditou que seria golo.
Quando, em 87, Mladenov, numa jogada de insistência, rouba a bola a um defesa do Barcelona e cavalga até à linha final para centrar para Mapuata, ambos acreditaram.
Quando o mesmo Mladenov, pega, na Alemanha, frente ao Bayer, a bola a meio campo, ele acreditava que aquilo que estava a fazer seria um grande golo.
Gostava que, ao menos, soubesses esta doença que nós temos por ti.
Termino, com uma frase de Roberto Benigni no seu filme “O Tigre e a Neve” e que se encaixa, na perfeição, a esta paixão: “se ela morrer, este espetáculo mundano pode bem encerrar as portas. Podem demonstrá-lo, retirar as escadarias, enrolar o céu e coloca-lo num atrelado com um reboque e podem apagar tudo. Podem apagar a lindíssima luz do Sol que eu tanto amo. E sabes porque amo tanto? Porque a amo quando o Sol recai sobre ela. Eles podem levar tudo, estes carpetes, estas colunas, estas palácios, a areia, o vento, as rãs, as melancias maduras, a saraiva, as seis da tarde, Maio, Junho, Julho, o basílico, as abelhas, o mar, as abobrinhas…”
Acredita Belém, nós acreditamos contigo!
Força Grande Belém!