RECORD – Como encontrou o clube?
PATRICK MORAIS DE CARVALHO –Nem consigo qualificar e quantificar, porque a informação não foi disponibilizada convenientemente. Apesar de termos objetivos primordiais, o que podemos fazer são atos de gestão corrente que assegurem o normal funcionamento do clube. Vamos perder muito tempo para perceber qual é o ponto de partida, principalmente na vertente financeira.
R –Tem tentado falar com o anterior presidente para lhe passar os dossiês?
PMC – Estamos perante uma estrutura completamente amadora em que a maioria dos ex-vice-presidentes alegam desconhecer os factos. As chamadas que tenho feito não têm tido êxito e as pessoas têm de vir explicar como é que a documentação desapareceu, porque virámos as instalações e não encontrámos nada de relevante. Contratos que podem determinar o sucesso ou insucesso do clube não são encontrados. Andamos às apalpadelas.
R – E a documentação relativa ao PER, que não pode deixar de ser cumprido?
PMC – Foi-nos dito que havia um valor mensal a pagar, mas o PER não está a ser cumprido. Ainda recentemente recebi um telefonema de uma advogada a pedir o pagamento de pouco mais de 200 euros no âmbito desse plano, ameaçando pedir a insolvência do clube, porque inicialmente tinha mais de 200 mil euros de crédito que foi reduzido em 95 por cento…
R – Pensa pedir uma auditoria?
PMC – Vamos determinar qual foi a herança que recebemos e a informação será disponibilizada aos sócios. Quanto ao pedido de uma auditoria, que devia ter sido feita pela anterior direção ao abrigo dos estatutos, trata-se de uma operação com custos. Com certeza que vai ter de ser feita, mas temos de medir as consequências para o clube. Se verificarmos que existiu gestão danosa, teremos de atuar e a verdade é que, em tão poucos dias, deparámos com algumas situações negativas. Chegou-nos uma fatura da EPAL de 17 mil euros, o que significa que não se pagava há meses, as inscrições na AF Lisboa não estão pagas no seu grosso e foi preciso deixar cheques de caução sob pena das equipas não jogarem no fim de semana. Por outro lado, todo o dinheiro que havia nas contas desapareceu antes da nossa entrada em funções. Desapareceu o dinheiro e toda a documentação.
R – Pensa agir juridicamente?
PMC – Está tudo em aberto.
R – Como vai viver o clube durante todo este período de busca de informação?
PMC – Quero concentrar-me naquilo a que me propus e aumentar receitas. Sinto que a minha direção pode ser importante nesse aspeto, mas está difícil pela pouca informação disponível.
R – E relativamente à requalificação do Restelo? Rejeitou o projeto “Cidade Belenenses”, mas assumiu que ia lançar concursos para arquitetos e promotores. Para quando?
PMC – Não vamos seguir o projeto do The Edge Group “Cidade Belenenses” nos moldes em que estava definido no memorando de entendimento, porque o tipo de investidor que procuramos terá de possuir capacidade financeira ou para se endividar na banca através de garantias próprias e não fornecidas pelo clube. O que estava previsto era uma expropriação encapotada, visto que permitia ao investidor constituir um direito de hipoteca sobre o terreno e, posteriormente, constituir outra sobre esse direito de superfície.
R – Quer dizer que os sócios podem estar descansados a esse respeito?
PMC – Claro, porque vou alterar imediatamente o artigo 64 dos estatutos que prevê a aprovação de dois terços dos sócios presentes em AG para onerar ou alienar os terrenos. Nós vamos apresentar uma proposta em que passa a ser vedada a qualquer direção a hipótese de onerar ou alienar a favor de terceiros que se financiem com o nosso espaço para construir.
R – … Mas voltando ao seu projeto…
PMC – Se por um lado estou pessimista, por outro estou otimista, porque já recebi contactos de duas instituições que me merecem grande credibilidade. Um grande grupo hospitalar português e talvez o maior grupo de colégios do país…
R – … Está a falar da CUF e do Parque…
PMC – Não menciono nomes, mas é para construir uma clínica de fisioterapia no topo norte ou na zona das piscinas e um colégio, ambos querendo saber as condições do Belenenses, mas vamos, em primeiro lugar, falar com a Câmara de Lisboa, dizendo qual a nossa ideia, que pode passar por termos um healthclub, piscinas, clínica de fisioterapia, supermercado… É possível? A Câmara é que tem de responder e, em caso afirmativo, podemos fazer a requalificação de forma segmentada, mas sempre com o Belenenses como senhorio.
R – Criticou o seu antecessor e assegurou que o seu projeto era desportivo, mas está a falar-me maioritariamente de infraestruturas não desportivas que o seu opositor também previa. Em que ficamos?
PMC – Havia um memorando de entendimento que contemplava um projeto. É o que está escrito e assinado e, posteriormente, apareceu uma segunda ideia, uma fantasia que foi explicada a 24 sócios sem que nada tivesse escrito, mas que está mais próxima daquilo que defendo. Foi uma alteração feita por conveniência eleitoral.
R – Por que não aproveita então essa segunda ideia?
PMC – Porque esse grupo não tem dinheiro. Posso aproveitar uma ideia parecida com quem consiga financiar-se com meios próprios e terá de haver concurso público. O Belenenses tem de dizer o que quer e os promotores têm de saber se aceitam e se os seus interesses são compatíveis com os do Belenenses.
R – A anterior direção garantia 1 milhão de euros em receita anual. Como será consigo?
PMC – O valor do metro quadrado de rendas nesta zona para serviços, e estou a falar por baixo, é de 9 euros, o que significa que iriam pouco mais de 4 milhões para o The Edge Group. Desse montante, o Belenenses iria receber apenas 1 milhão de euros. Diria que posso garantir, pelo menos, o dobro dessa verba em receitas para o clube, partindo do princípio que teríamos autorização camarária para construir 40.600 metros quadrados como estava previsto.
Fonte: Record