Otis, Maeve e o resto da malta da escola secundária de Moordale estão de volta para a segunda temporada de Sex Education que chega hoje à Netflix. Conheça aqui a nossa opinião da temporada.
No ano passado estreou na Netflix a primeira temporada de Sex Education e rapidamente se tornou um dos maiores sucessos do ano da plataforma, e facilmente se percebe o porquê. Os oito episódios iniciais ofereciam oito das horas mais fáceis de ver em todo o catálogo da Netflix, sendo em simultâneo disruptivas perante um dos tópicos que mais tabu existe: o sexo.
É clara a aposta da Netflix em conteúdos mais direcionados para o público juvenil-adolescente e se séries como “13 Reasons Why” (outro sucesso) tiveram uma continuação muito atribulada após a primeira temporada, “Sex Education” tinha aqui uma boa hipótese para ser diferente. Para continuar a mudar o panorama deste género de conteúdo, como o fez inicialmente. Conseguiram-no ao falar dos mais variados sub-tema relacionados com a sexualidade, enquanto contavam com actuações fortes principalmente de Asa Butterfield (Otis), Emma Mackey (Maeve) ou de Gillian Anderson (Jean Milburn) que se demarca assim da imagem de Scully. Para além disso a série vivia de uma componente criativa rica e de um enquadramento estético que combinava os dias de hoje com a indumentária dos anos 80.
Ou seja, tocou em todos os pontos fulcrais para ser um sucesso. O problema para esta temporada é que todo o conteúdo feito à volta de adolescentes e o seu quotidiano vai sempre acabar por bater na mesma tecla: quem gosta de quem e quem anda com quem. Se em oito episódios não se sente fadiga, agora com mais oito capítulos em cima, é difícil não pensar que grande parte dos arrufos e dos cliffhangers da série são apenas coisas de adolescentes que acabam por passar, não explorando, pelo menos nesta temporada, problemas de maior. E quando os há, são lidados de forma demasiado leviana para nos importarmos.
Todos os arcos parece que sofrem de não haver um peso por trás, porque apesar de já conhecermos as personagens da primeira temporada e de até gostarmos e conseguirmos relacionar-nos com elas, nesta temporada são poucas as histórias que prendem o espectador. Enquanto que a primeira temporada se centrava em Otis, Maeve e a clínica de aconselhamento sexual que geriam, nesta temporada isso não acontece. Agora o foco de ambos é repatido entre a viragem de Otis para o amor e para a sua primeira vez, enquanto que Maeve tem de lidar com uma chegada surpreendente na sua vida: a sua mãe. Esta mudança de vontades acaba por alterar a dinâmica que funcionava tão bem na primeira temporada, sendo agora um par muito mais distante do que aquilo a que estávamos habituados. E se inicialmente isso poderia ser visto como um sinal de liberdade criativa dos argumentistas, a verdade é que ao longo dos oito episódios é rara a vez em que a série não tenta mostrar que Otis e Maeve tem de ficar juntos eventualmente, e sinceramente, não creio que esses momentos acresenctem algo à série, acabando por empobrecendo a sensação geral com que se fica.
É claro que o universo de Sex Education não se restringe apenas à relação de Otis e Maeve (ainda bem) e nesta segunda temporada sempre se encontram motivos suficientes para continuarmos a ver a temporada até ao fim. Há que destacar a família do director da escola Mr. Groff pois as três personagens são bastante interessantes, cada uma com as suas dificuldades e que têm mais tempo de antena desta vez. A relação de Jean Milburn, a mãe de Otis, com Jakob, o pai de Ola, é também bastante explorada nestes novos episódios, e é interessante assistir ao paralelismo que existe entre a relação de Jean e a de Mrs. Groff e ver como ambas acabam por aprender uma com a outra naturalmente.
Onde Sex Education continua imbatível é na maneira como fala tão abertamente e divertidamente sobre sexo, e para isso muito contribui as personagens e situações, quase caricaturizadas, da série. São esses momentos humorísticos que levam a série a bom porto, e que continuam a existir em grande quantidade nos novos episódios. A peça de teatro no último episódio é o melhor exemplo disso.
A segunda temporada de Sex Education tinha a difícil tarefa de proporcionar não só o entretenimento que a primeira ofereceu, mas também continuar a ser disruptiva como a primeira foi. Infelizmente só o primeiro desafio foi passado com distinção. Esta segunda temporada não é mais do que uma série de adolescentes. Mas é, provavelmente, a melhor que existe.