David Irving nega o acontecimento do Holocausto. O historiador britânico acredita que o extermínio sistemático do povo judeu durante a segunda grande guerra não passa de uma conspiração para cimentar o poder dos mesmos. Quando Deborah Lipstadt, uma professora universitária especialista no mesmo tema, o acusa de deturpar e manipular factos históricos para sustentar as suas ideologias, Irving coloca-a em tribunal por difamação.
O caso que deveria ser relativamente simples toma de imediato proporções gigantescas quando são colocados em causa factos históricos que temos por garantidos. Cabe então à defesa não só provar que a falsa representação dos factos por parte de Irving é intencional, mas também que o Holocausto de facto aconteceu. O filme segue o caso ao longo dos anos, desde a investigação inicial pela equipa legal até às salas do Supremo Tribunal Britânico.
Rachel Weiss interpreta a protagonista. Directa e despachada, Lipstadt, sendo a única personagem americana, destaca-se do resto elenco pela sua emotividade. No entanto, Deborah é relegada a um papel passivo quando o caso é entregue a uma equipa de advogados tipicamente ingleses, dos quais se destaca Richard Rampton (Tom Wilkinson), o representante de Lipstadt na Sala de Audiências e um dos poucos personagens desenvolvidos ao longo do filme.
Timothy Hall executa um papel distinto como David Irving. Com um ego de dimensões hiperbólicas, Irving apresenta respostas para todos os ataques racionalizando os factos e os seus argumentos das formas mais impressionantes.
É no tribunal que o filme se eleva, protagonizando Irving e Rampton, com diálogos retirados directamente da transcrição do processo – uma decisão bastante acertada que acaba por conceder um certo realismo e autenticidade às cenas em que o filme culmina.
Pelo contrário, fora da sala de audiências, o filme perde-se. Lento e metódico, parece seguir muito à risca um filme de sábado à tarde. Todas as tentativas de desenvolver os personagens, salvo raras excepções, fracassam. É difícil estabelecer uma ligação com personagens que com tão pouco desenvolvimento que passam por simples estereótipos ou personalidades que já vimos representadas noutros filmes.
Numa das cenas mais importantes do filme, Lipstadt e Rampton visitam os campos de concentração de Auschwitz. É em frente às câmaras de gás que Deborah nos diz que o seu nome significa “guerreira” em hebreu, fazendo de seguida uma prece enquanto assistimos a uma montagem acerca das vítimas do Holocausto.
Os temas abordados no filme são efectivamente interessantes, sendo cada vez mais pertinente abordá-los. Contudo, “Denial” nunca os elabora nem apresenta oportunidades para reflexão. O resultado final é um filme que nos deixa a pensar durante uma tarde mas que dificilmente fica na memória.
Crítica em parceria com o Núcleo de Cinema da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa.
https://www.youtube.com/watch?v=15W_v8QaIX0