O novo filme de Ridley Scott exemplifica o caso máximo de avareza, personificado no filme por J. Paul Getty, um dos homens mais ricos do mundo, inspirado em factos verídicos relacionados com o rapto do seu neto John Paul Getty III
Ridley Scott, um realizador que já nos habituou a obras marcantes no cinema como “Alien”, “Blade Runner” ou “Gladiator” mas que também foi responsável por obras recentes que decepcionaram como “Exodus: Gods and Kings” ou “Robin Hood”, por isso cada novo filme realizado por Scott é recebido com interesse por parte do público, mas por vezes com alguma desconfiança associada. Em “Todo o Dinheiro do Mundo” (All The Money in The World) a desconfiança (se existir) não é felizmente correspondida no resultado final.
O filme baseia-se em factos verídicos sobre o rapto de John Paul Getty III, um dos netos do magnata do petróleo J. Paul Getty (Christopher Plummer) em 1973, mas adaptados ao guião para o grande ecrã (algo evidente nos momentos finais do filme).
No início do filme ficamos a conhecer um pouco de John Paul Getty antes do rapto a viver em Itália, e é a partir desse acontecimento que ficamos a conhecer pela primeira vez as três principais personagens de “Todo o Dinheiro do Mundo”: J. Paul Getty (Christopher Plummer), Gail Harris (Michelle Williams) e Fletcher Chase (Mark Wahlberg). Gail Harris, a mãe de John Paul Getty, não é uma Getty “verdadeira” como ela o diz, e demonstra-o sobretudo em relação à intransigência do avô de John quando o pedido de resgate é efectuado. A narrativa do filme foca-se nesta procura incessante de uma mãe pelo seu filho, existindo no entanto uma dicotomia agreste entre Gail e o sogro.
J. Paul Getty defende que não pretende pagar o resgate, pois isso ajudaria a que mais crimes do género aconteçam, sobretudo sobre ele. No entanto essa justificação não é encarada de bom agrado por Gail e tenta fazer de tudo para recuperar John, tendo o auxílio de um dos braços-direitos do sogro, Fletcher Chase.
Assistimos assim durante duas horas a uma dicotomia entre a vontade de uma mãe de ver o seu filho são e salvo e a avareza de um magnata, um dos mais ricos da altura. Apesar da sua argumentação fazer sentido, o filme de Ridley Scott tenta colocar o espectador contra a figura de J. Paul Getty.
É nesta luta de ideias e na aparente figura sovina do milionário que nos passa pela cabeça o quão bem este papel poderia assentar a Kevin Spacey, o primeiro escolhido para interpretar J. Paul Getty. O actor chegou mesmo a gravar o filme por completo, mas quando “rebentou” o escândalo envolvendo Spacey, Ridley Scott decidiu retirá-lo por completo da película e substituí-lo por Christopher Plummer. O actor de 88 anos tem uma boa prestação e acabou por receber uma nomeação para o Oscar de Melhor Actor Secundário, no entanto fica no ar a ideia de que esta personagem poderia ser ainda mais odiada (como parece ser a intenção de Scott) se fosse interpretada por Spacey
“Todo o Dinheiro do Mundo” é interessante, tem boas prestações por parte de Michelle Williams (como sempre) e de Christopher Plummer, um enredo cativante, e boa caracterização histórica. No entanto, o ritmo do filme nem sempre é constante, sofrendo oscilações que quebram a dinâmica do filme e tem algumas cenas demasiado “Holywoodescas”. Pode não ser o melhor filme do momento, mas tem qualidade suficiente para não sofrer com as polémicas à sua volta.