Crítica Cinema | “The Irishman” de Martin Scorsese
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Crítica Cinema | “The Irishman” de Martin Scorsese

Análise feita por: Bernardo Freire (Visão de um Crítico)

Que mais haverá a dizer sobre o realizador norte-americano Martin Scorsese? O homem que ao longo de mais de 50 anos percorreu as suas raízes, perturbações e paixões através das imagens em movimento, a magia do cinema. Tocou em quase todos os géneros cinematográficos e foi nomeado e premiado múltiplas vezes por isso, estando incluído no seu invejado currículo o Óscar tardio de Melhor Realizador pelo filme The Departed (2006). Produzido pela NetflixThe Irishman retoma Scorsese ao género pelo qual ficou reconhecido – o crime, mais concretamente, a máfia. Desta vez com um tom melancólico absolutamente devastador.

Baseado no livro do autor Charles Brandt, I Heard You Paint Houses, que foi adaptado com ímpeto pelo argumentista Steven Zaillian, o filme começa por introduzir Frank Sheeran (Robert De Niro) rodeado pelas paredes moribundas e cinzentas de um lar de idosos. A história que se segue é do próprio, e mesmo quando recorda a sua relativa juventude, aos trinta e poucos anos, não aspira a mais do que um trabalho sem chances de progressão. Até que conhece Russell Buffalino (Joe Pesci), um chefe da máfia, que o persuade a comungar com o crime organizado.

As comparações com Goodfellas (1990) e com Casino (1995) são inevitáveis, dada a matéria-prima em mãos. Todavia, aqui Scorsese não está interessado em explorar a excentricidade ou possível glamour da vida dos criminosos, isso já está bem documentado. A proposta de The Irishman é ainda mais introspetiva e profunda. No final das 3 horas e 29 minutos de filme, o choro compulsivo confirma que esta é a derradeira análise das consequências de uma vida de violência e ausência familiar.

Algo que é apenas possível graças às maravilhosas técnicas de rejuvenescimento digital, que nos permitem acompanhar os protagonistas em diferentes estágios das suas vidas. Tanto De Niro como Pesci e Al Pacino, que interpreta Jimmy Hoffa, o chefe do sindicato dos camionistas, arrasam nos seus papéis. De Niro está quase em todas as cenas e permanece uma presença altamente cativante, sendo a relação muda e emocionalmente distante com a sua filha Peggy (Anna Paquin), um dos aspetos mais importantes do filme. Quanto a Pesci, surpreende com uma performance mais subtil, expondo uma quietude e poder que recorda Marlon Brandon em The Godfather (1972). Por fim, Pacino entrega o entretenimento do costume, de uma forma expansiva e até por vezes cómica.

É imenso talento nas mãos de um realizador que, tal como um bom whisky, não perde as propriedades com a idade. Os enredos, as traições, as hostilidades elegantes e a realização última do quão fútil tudo isso é, culmina o trabalho de alguém que prefere deixar uma brecha na porta. Pois absorver The Irishman é aceitar o agridoce, o inevitável e acima de tudo é ter consciência daquilo que o cinema foi, é e vai ser.

 

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