‘Alien: Covenant’ é melhor que ‘Prometheus’, mas não sabe bem se é uma sequela ao filme de 2012 ou se é uma prequela de ‘Alien’
Por mais anos que passem, é sempre difícil prever um filme de Ridley Scott. Quando vemos um filme de Scott podemos estar à beira de uma obra-prima cinematográfica que dura anos e anos (‘Blade Runner’, ‘Cercados’, ou o original ‘Alien’), como podemos estar perante um filme esquecível (olá ‘Exodus: Gods and Kings’ e ‘The Counselor’). Felizmente (e infelizmente por outro lado), ‘Alien: Covenant’ não se situa em nenhum dos dois extremos da sua filmografia.
Após ‘Prometheus’ se ter revelado em grande parte uma desilusão para os fãs dos filmes originais, Ridley Scott ouviu os fãs e trouxe os Xenomorphs de volta ao grande ecrã e tentou responder a grande parte das questões deixadas em aberto pelo antecessor.
O filme inicia com um evento fatídico (sem contar com o momento flashback) a bordo da nave ‘Covenant’. A tripulação da nave tem em mãos uma missão colonizadora, e o evento inicial serve para transmitir ao espectador as dificuldades de uma missão destas e que o inesperado pode acontecer. Até aqui tudo funciona bem, mas ‘Covenant’ não segue essa ideia ao longo do filme, sendo óbvio o recurso a clichés mais à frente e ao final de meia-hora de filme sentimos que já o vimos há 5 anos atrás, com uma sequência de eventos semelhante a de ‘Prometheus’.
‘Prometheus’ terminou com David, um android que duvida das capacidades do seu criador (Peter Weyland) e da raça humana, e a Dr. Elizabeth Shaw vivos e à procura de respostas sobre os criadores da raça humana, os “Engineers”.
E é aqui que acontece a grande falha do filme. Scott não abordou essa situação com o andamento correcto, apresentando apenas o resultado de alguns eventos que aconteceram entre ‘Prometheus’ e ‘Covenant’, deixando no ar as razões das acções tomadas pelas personagens.
Falta coerência a Scott neste aspecto, porque esta nova vaga de filmes da saga Alien começada por ‘Prometheus’ tem como objectivo a explicação do aparecimento dos seres alienígenas indestrutíveis, mas nestes dois filmes mais recentes, existem muitas pontas soltas que impossibilitam uma total compreensão do enredo e dos motivos das personagens.
E quem pensa que ‘Covenant’ por ter o nome Alien no título seria mais parecido à fórmula original, sairá desapontado do cinema. ‘Covenant’ tenta fazer duas coisas ao mesmo tempo: ser uma resposta a ‘Prometheus’ e ligar ao ‘Alien’, mas perde-se nas intenções.
Apesar de ter Xenomorphs e suas variações com fartura, o grande vilão desta fase não são os monstros, e isso acaba por afastar ‘Covenant’ daquilo que levou os espectadores a gostarem dos iniciais.
No entanto, ‘Alien: Covenant’ é um bom filme. Aliás, os pontos negativos são em parte influenciados pela potencialidade que não está a ser aproveitada do franchise.
Visualmente, há pouco a apontar, todos os adereços e CGI usados na película são de qualidade elevada, e dificilmente se verá um filme Sci-Fi este ano tão bem cuidado e imersivo no seu ambiente. Talvez só o novo filme do outro IP de Ridley Scott, Blade Runner 2049, possa competir.
O grande aspecto positivo deste filme é (tal como no antecessor) Michael Fassbender. Sem revelar muita informação, Fassbender eleva o seu jogo e volta a deixar a sua marca no filme. Todos os momentos em que aparece no grande ecrã, capta todas as atenções tal o magnetismo da sua interpretação.
Surpreendente a prestação de Dannny McBride como Tennesse Faris, o piloto da nave. E ainda um último destaque para Katherine Waterston que mesmo tendo uma personagem desinteressante para representar, consegue manter os padrões elevados (provavelmente inspirando-se em Ripley de Sigourney Weaver).
O fim de ‘Alien: Covenant’ é inteligente, mas expectável, respondendo a algumas questões, deixando outras mais por responder.
Terminado ‘Covenant’, o que fica na mente do espectador é que apesar de Scott ter dado aquilo que muitos pretendiam (Xenomorphs, terror e gore), o realizador continua sem compreender que se calhar o que os fãs querem não são mais filmes ambiciosos, mas sim algo tão simples como a fórmula do original.
Realçando no entanto, a coragem do realizador, fazendo aquilo que pretende com a saga que ele próprio criou, não copiando uma versão antiga e vendendo-a como se fosse nova. Do ponto de vista artístico, Scott arrisca com a sua nova visão para o universo e isso é louvável. O problema é que essa visão não é assim tão interessante…
Uma coisa é certa, vamos ter mais Xenomorphs até a ligação desta fase com a era Ripley e esperemos que à terceira todos possam sair satisfeitos da sala de cinema.