Luis Santos 
Por Rui Miguel Tovar
A questão do quarto grande existe. Será o Belenenses? O Boavista? O Braga? O Vitória de Guimarães? Vamos só pelos títulos oficiais.
O Braga tem dois (Taça de Portugal e Taça da Liga), o Vitória outros dois (Taça de Portugal e Supertaça), o Belenenses quatro (um campeonato e três Taças de Portugal), o Boavista oito (um campeonato, cinco Taças de Portugal e duas Supertaças). Posto isto, o Boavista é o quarto grande (em títulos, atenção). Em prestígio, o Belenenses já o é por ter sido o primeiro a quebrar a hegemonia dos três grandes, com aquele título de campeão em 1945-46.
Os dois encontram-se anteontem no Restelo para fechar a 9.a jornada do campeonato e o Belenenses dá um-chega-para-lá com 3-1. O brasileiro Deyverson bisa e junta-se a Jackson (FC Porto) e Maazou (Marítimo) no segundo lugar dos melhores marcadores da liga, com sete golos, atrás do benfiquista Talisca. E o Belenenses? Ultrapassa o Sporting e fixa-se no quinto lugar com um ponto de avanço sobre os leões.
É muuuuito jogo. Isto é um regresso ao passado, sim, mas estamos a falar de que tipo de passado? O da Guerra das Estrelas, “há muito tempo, numa galáxia muito muito distante”? Não é caso para tanto. Recuemos até à 13.a jornada de 1992-93. Estamos em Novembro e o Belenenses é a equipa-sensação, em 3.o lugar e a três pontos do líder FC Porto e a dois do Benfica. Atrás de si, Sporting e Boavista.
Recém-promovido à 1.a divisão, o Belenenses junta uma série de figuras bem conhecidas do nosso jet-set como Pedro Espinha; Chico Fonseca, Guto, Rui Gregório e Nito; Emerson; Luiz Gustavo, Taira e Gonçalves; Menad e Mauro Airez. No banco, o brasileiro Abel Braga. Em casa, o Belenenses rouba pontos aos grandes (0-0 vs. FCP, 1-1 vs. SLB e 2-2 vs. SCP), além de aplicar a goleada do ano (7-0 ao Famalicão). Fora de portas, só ganha uma vez, logo à primeira, em Chaves, e empata com frequência. O resultado final é o 7.o lugar, a três pontos da Europa.
E o Sporting? Com o novo treinador Bobby Robson (ex-seleccionador inglês e bicampeão holandês pelo PSV), a jovem equipa acumula dificuldades de assimilação com o kick and rush. O início de época é desastroso, a comprovar pela eliminação prematura na Taça UEFA, aos pés do Grasshopper, em casa. O treinador dos suíços Leo Beenhakker faz a sua análise do adversário. “Uns queriam a vitória, outros segurar o resultado. A equipa acabou por partir-se ao meio nas ideias”, numa alusão à bipolaridade do Sporting, vitorioso em Zurique (2-1), eliminado em Alvalade (3-1).
No campeonato, mais do mesmo. Ou o que dizer de quatro pontos perdidos para o Salgueiros e três para o Gil Vicente quando, por outro lado, só perde um jogo dos quatro clássicos com FC Porto (1-1, 0-0) e Benfica (2-0, 0-1). Nem na Taça de Portugal se muda de registo. Nas meias-finais, o Boavista silencia Alvalade com um golo do ex-leão Marlon Brandão. No final, Robson dispara contra o aguerrido médio Bobó, acusando-o de fazer mais faltas que o… Sporting todo! “Incrível, inaceitável” é o desabafo do inglês. O resultado final é mais um ano sem títulos, mas a recuperação do 3.o lugar, com 11 pontos de vantagem sobre o Belenenses.
Abel Braga recorda esses tempos. “Agarrei a equipa na época anterior. O Belenenses era o 11.o classificado da 2.a divisão. Recuperámos terreno e estivemos 24 jogos sem perder. Subimos de divisão com umas jornadas de antecipação e mantivemos o ritmo entre os grandes no ano seguinte. Foi uma aventura sensacional, boa demais.” Pelo futebol, sim, mas também pelo resto. “Aquela vista para o Rio Tejo e a vossa comida.”
Vamos lá então: o Tejo continua lá, a culinária continua deliciosa. E o campeonato continua com 18 equipas e 34 jornadas. Só há ligeiras mudanças nos participantes (saem Farense 6.o, Beira-Mar 8.o, Famalicão 14.o, Salgueiros 15.o, Tirsense 16.o, Espinho 17.o e Chaves 18.o; entram Rio Ave, Moreirense, Académica, Vitória de Setúbal, Nacional, Arouca e Penafiel). De resto, tudo na mesma: o Belenenses à frente.
Fonte: ionline
