Em tempo de Páscoa é comum comer-se nas casas portuguesas o tradicional borrego. E é também esse o animal que ilustra da melhor forma os confrontos entre FC Porto e Belenenses dos últimos anos. É preciso recuar até 2009 para encontrarmos um golo marcado pelos azuis do Restelo aos azuis…e brancos. Lima, de seu nome, foi o autor do último tento apontado no Estádio do Dragão. O jogo ficou 1-1 e o Belenenses viria a descer de divisão essa temporada (2009). Se por outro lado quisermos vislumbrar uma vitória dos forasteiros, então aí temos de recuar mais de uma década. Em 2001, a equipa comandada por Marinho Peres, vergaria o FC Porto tanto no Restelo, como no, já extinto, Estádio das Antas. É tempo de matar este borrego com quase 16 anos e complicar as contas do campeonato aos dragões.
O FC Porto não atravessa a melhor fase da temporada. O empate, em casa, com o V. Setúbal é uma pedra no sapato que pode ter custado caro. Nuno Espírito Santo não soube espremer e retirar o que de melhor tem o super plantel portista. Há jogadores em claro sub-rendimento e outros que parecem ter lugar cativo na escolhas do técnico ex-Valencia. Brahimi está de regresso à boa forma e os azuis e brancos só beneficiam com isso. Num claro 4-4-2 assente num meio-campo trabalhador e pouco criativo (com Danilo Pereira e André André), são os médios ala (Corona junta-se a Brahimi) os grandes desequilibradores. A técnica e a velocidade de execução são muito provavelmente únicas no nosso campeonato. Os laterais do Belenenses terão de ter muita atenção às arrancadas de ambos, bem como ao faro de golo de Soares, que tem evoluído muito. A defesa é consistente e está cada vez mais segura. Casillas está de volta aos tempos áureos e tem salvo o FC Porto diversas vezes. Felipe e Marcano têm-se entendido bem, Alex Telles é um portento e Maxi Pereira o claro elo mais fraco dos dragões. A pressa em querer ganhar cedo para passar o Benfica poderá ser fatal. Se o golo não for conseguido nos primeiros minutos, a pressão do tribunal do Dragão far-se-á sentir e o psicológico começará a pesar. É aí que o Belenenses pode aproveitar e tentar trazer pontos pela A1 fora.
No lado lisboeta o momento é tudo menos favorável. Três derrotas seguidas, duas delas caseiras e uma depois de estar a vencer. Quim Machado é um treinador pouco criativo e que não consegue dar a volta quando os acontecimentos não vão de acordo com o planeado. O treinador nascido há 50 anos em Santo Tirso nunca venceu qualquer um dos grandes nos 79 jogos – serão 80 no sábado – que realizou na Primeira Liga e nas 16 vezes que defrontou FC Porto, Benfica e Sporting. O melhor resultado foi um empate a zero conseguido com o Feirense em 2012 e…com o Belenenses já este ano. Do seu lado o ex-treinador do V. Setúbal tem o dado estatístico de ainda não ter sofrido qualquer golo dos portistas e de já ter empatado no Dragão para a Taça da Liga. Este jogo será diferente do da 1ª volta. As vicissitudes assim o ditam. O Belenenses está no pior momento da temporada e o FC Porto ainda acredita no título. A solidez defensiva do emblema da Cruz de Cristo já não é a mesma e a ineficácia ofensiva continua. Mesmo com a entrada de Maurides – que veio melhorar esse registo. Fã do 4-4-2, Machado terá de pensar numa forma de ser eficaz e de poder surpreender o conjunto orientado por NES. Diogo Viana seria um jogador muito útil neste embate, assim como será importante ter um criativo e um pivot defensivo com bom desarme. Vítor Gomes e Persson seriam os indicados, caso estivessem em forma, algo que não acontece. O factor surpresa terá de ser a principal arma dos azuis sem riscas. A táctica do autocarro só resultará em números embaraçosos. Maurides será a referência de um ataque algo partido. O plantel está todo disponível, à excepção de Oriol Rosell.
É possível imitar o que fez José Couceiro há duas semanas. Importa é ser competente na estratégia adoptada e não ter erros grosseiros e infantis como tem sido apanágio dos últimos desafios.
Não vale viver do passado. O presente falará sempre mais alto e o Belenenses, se quer ressurgir, tem de se habituar a ganhar estes jogos. Não pode ser regra o que tem acontecido nas últimas temporadas. Tem de ser a excepção. É tempo de encarnar o espírito dos guerreiros de Marinho Peres e fazer o que Zé Afonso e Filgueira fizeram a 20 de outubro de 2001 e ganhar ao FC Porto no Dragão. Há esperança, haja qualidade e competência.