Sir Daniel Fortesque regressa às consolas da Playstation, 21 anos após o lançamento do jogo original na Playstation 1. Neste remake para a PS4, é mantido tudo o que ajudou a que o original a ser um sucesso, mas agora ajudado por uma actualização gráfica necessária. Leia aqui a nossa opinião sobre MediEvil.
Se em 1998 a nossa vida diária era bastante diferente, o mundo dos videojogos também o era. A Sony tinha entrado no mercado das consolas caseiras 3 anos antes e conseguiu, inteligentemente, marcar bem a sua posição e incomodar as grandes donas do mercado na altura, como a Sega ou a Nintendo. Um dos motivos pelos quais o conseguiu foi o seu catálogo de jogos produzidos in-house.
Contrariamente às suas competidoras, a Sony, para vingar na quinta geração de consolas, teria que criar personagens carismáticas e marcantes. Enquanto que Mario, Zelda ou Sonic eram suficientes para vender as consolas da Nintendo e Sega, a Sony começava do zero. Com essa ideia na cabeça, a Sony apostou em várias possíveis mascotes para a consola. As duas personagens que rapidamente nos saltam à memória são Crash (primeira aparição em 1996) e Spyro (em 1998), até porque os seus jogos originais foram refeitos recentemente. Mas não eram os únicos.
É aqui que entra Sir Daniel Fortesque. Em 1998 foi-nos apresentado como um lendário herói de Gallowmere que conseguiu enfrentar o mago Zarok, morrendo no campo de batalha. E agora, tal como no jogo original, rapidamente nos apercebemos que Sir Dan é na verdade, um cobarde, que morreu logo no início da grande batalha, atingido por uma flecha no olho. Cem anos após essa batalha, Zarok está de volta e regressa com um feitiço capaz de erguer os mortos e assim tentar invadir novamente Gallowmere. Só que o feitiço não funcionou a 100% para Zarok, porque para além de renascer o seu exército, também renasceu Sir Dan. E tem agora uma nova tentativa de ser considerado, de facto, um herói.
Rapidamente nos apercebemos que este MediEvil de 2019 é praticamente idêntico ao de 1998, isto é, se jogaram o original, então saberão todos os locais onde terão que ir e o que usar em cada momento. Mas a actualização gráfica traz-nos um mundo muito mais detalhado e vívido que o original, que devido às limitações do hardware da PS1, não era capaz.
A ambiência que rodeava o mundo de MediEvil é agora muito mais característico, com espaço para todo o tipo de demónios aterradores, tornando-se assim um título essencial para esta época de Halloween. O esqueleto de Sir Dan e restante mundo fazem lembrar o universo criado por Tim Burton em “The Nightmare Before Christmas” (1994), sendo difícil de acreditar que Jack Skellington não terá sido, em parte, inspiração para a construção de Sir Dan.
Agora, em 4K, o jogo mantém-se muito fiel ao original. Tão fiel, que é possível olhar para os guias e dicas do original de 1998 e conseguir fazer exactamente o que é lá referido. O que até foi útil, principalmente para me recordar onde podia obter certos items, obrigatórios para a passagem do jogo, como por exemplo as gemas do dragão.
O jogo desenrole-se como a grande maioria dos jogos de aventura/plataformas da época. Vários níveis com contextos e motivos diferentes, em que tanto passamos pelos esperados cemitérios, como por lagos, asilos ou caves, e nos quais temos de completar certos objectivos para chegar ao final da missão.
Cada nível tem uma vida muito própria, e acaba por ajudar a não “enjoar” com as mecânicas de jogabilidade simples e repetitivas. Sir Dan carrega sempre consigo duas armas, que podem ir desde os martelos, às espadas e até ao próprio braço “descartável”. Resta-nos escolher sempre as melhores para cada adversário. Para além disso, Sir Dan gosta de carregar um escudo que lhe permite salvar-se dos ataque inimigos.
A jogabilidade segue os padrões do hack-and-slash com a maior parte da estratégia nas batalhas a passar pelos timings da utilização do escudo e das armas. Caso percamos a vida, podemos sempre ser salvos automaticamente pelas life bottles que vamos encontrado na nossa aventura.
Com um início simples, onde é fácil terminar os níveis, qualquer que seja a nossa estratégia ou configuração de armas, é quando chegamos aos níveis mais avançados que pensamos melhor nas nossas abordagens com Sir Dan e que trazem uma complexidade necessária ao jogo. O grau de aprendizagem e dificuldade é muito adequado à experiência.
O que nem sempre é adequado à experiência é a posição da câmera. Ao longo do jogo somos confrontados com vários momentos em que a câmera é “livre”, ou seja, podemos controlá-la ao nosso bel-prazer, podendo até jogar com a câmera em cima do ombro do nosso protagonista, e aí corre maioritariamente bem. O problema são as secções em que a câmera fixa no topo do cenário, acabando por ser responsável por muito dos ataques que fui sofrendo ao longo da aventura.
Para ajudar na imersão do jogo original, os actores de voz do original regressaram para este remake e a banda-sonora foi regravada, com orquestra completa de forma a manter toda a qualidade da música e do áudio do jogo.
Em resumo, se gostam de MediEvil, certamente irão adorar este remake. A essência mantém-se na totalidade, sendo até melhorada, através da actualização gráfica e sonora. Não existem grandes novidades no remake, e sente-se a idade do jogo, mas isso até não é mau. É uma viagem nostálgica a uma época passada, que acontece na melhor altura, com o Halloween à porta.
Se nunca jogaram MediEvil antes nem estão habituados a videojogos do final do século XX, poderão sentir algumas dificuldades em perceber algumas das decisões feitas pela equipa original, em que muitas delas eram tomadas devido às limitações do hardware em mãos. Mas deêm uma oportunidade e irão deixar-se encantar por Sir Dan.