O mês de Junho tem sido um Natal antecipado para os fãs do Rock N´ Roll em Portugal com o regresso a Portugal dos Aerosmith e Guns N’ Roses! Na passada segunda-feira, a banda de Boston foi recebida por fãs de várias gerações num MEO Arena esgotado.
A emoção e ansiedade eram palpáveis à medida que o MEO Arena, em Lisboa, compunha-se para a última Tour Europeia de uma das bandas de Rock mais míticas de sempre.
A abertura do espectáculo ficou a cargo da banda britânica RavenEye, que também já fizera a primeira parte de Deep Purple. Apesar de serem um grupo recente, formado apenas em 2014, já conseguiram conquistar a confiança de bandas conceituadas e participar em grandes palcos, como o Festival Rock Am Ring este ano. Com um começo electrizante, que se prolongou com muito rock durante 40 minutos, a banda apresentou-se ao público português com o tema “Get It Started“, onde a repetição do refrão “Hey you, what you waiting for” tinha uma resposta muito simples na cabeça do público. O concerto prosseguiu a alto ritmo, a tentar aproveitar cada minuto para conquistar fãs e apresentar o seu álbum “NOVA“, que tal como o vocalista Oli Brown disse “vocês não o conhecem, esta é a nossa primeira vez em Portugal”. No final, a missão foi cumprida e a aposta mais que justificada.
Passados 18 anos do último concerto em Portugal, no Estádio do Jamor em 1999, a ansiedade dos fãs portugueses era grande. Os cinquenta minutos de espera só vieram aumentar essa ansiedade, dando azo a alguns apupos. No entanto, rapidamente o clima de euforia apoderou-se do MEO Arena quando no ecrã gigante é apresentado um vídeo com vários momentos das quase cinco décadas da banda Americana, ordenados cronologicamente e acompanhados com o tema de tons épicos “O Fortuna“, de Carl Orff. Enquanto muitos esticavam o braço para gravar o vídeo com o seu smartphone, no ecrã gigante assistia-se à evolução da sociedade nestes 44 anos, das tendências aos aparelhos para ouvir música (Walkmans, Discmans, iPods…). O que havia em comum no meio de todas estas mudanças? O sucesso dos Aerosmith.
É sob este tom épico que pelas 22 horas começa o concerto da Tour Europeia Aero-Vederci Baby! – a última tour Europeia, segundo a banda.
Com “Let the Music Do the Talking” os Bad Boys From Boston mostraram desde logo que a idade não pesa e o estilo incontornável de Estrelas Rock mantivera-se. Steven Tyler era o exemplo máximo, unhas pintadas, uma marca de um beijo com batom na bochecha, roupas inconfundíveis e um microfone no tripé cheio de lenços que o aguardava enquanto subia as escadas do pit até ao palco. Em “Nine Lives” o público tem direito aos óculos de Tyler e a um “Olá Lisboa“. À medida que o concerto vai ganhando ritmo e a euforia do público presente vai crescendo, sucedem-se temas como “Rag Doll” e “Livin’ on the Edge”, com Tyler a puxar pelo coro do público da frente neste último tema. “Love in an Elevator” faz aquecer o clima, com os movimentos charmosos a acompanhar este hit.
Durante o tema de “Rag Doll”. Foto: Everything is New / Alexandre AntunesAs duas primeiras covers pertencem ao reportório de Fleetwood Mac, “Stop Messin’ Around” e “Oh Well“, e têm como principal protagonista Joe Perry numa prestação incomparavelmente melhor do que aquela que apresentou com os Hollywood Vampires, no Rock In Rio 2016. O guitarrista aproveitou o momento para manifestar o agrado por estar de volta à terra natal do seu avô. Apesar do vasto reportório a banda decidiu apostar em quatro covers – Come Together dos Beatles e Mother Popcorn de James Brown, fizeram também parte do alinhamento.
A setlist estava alinhada para satisfazer os fãs de todas as décadas da banda, sendo apresentadas músicas de nove álbuns diferentes. Com a incontornável “I Don’t Want to Miss a Thing“, Tyler pode poupar-se um pouco deixando boa parte do tema ser cantado pelo público que gritava a plenos pulmões, como se tratasse do último momento no Planeta Terra.
Foto: Everything is New / Alexandre AntunesAos primeiros acordes de “Cryin’” as lanternas dos smartphones (e os isqueiros para os mais tradicionais) iluminam o MEO Arena, criando o clima ideal para esta balada. A um outro ritmo, “Dude (Looks Like a Lady)” serve para as primeiras despedidas da banda.
O público não arredou pé à espera de um previsível encore – o facto de estarem roadies a carregarem um piano para o palco também não escapava a ninguém. Já sentado ao piano, Tyler lança um “Vocês são lindos” enquanto começa a tocar os primeiros acordes de uma das músicas incontornáveis da banda Americana, “Dream On“, com Joe Perry a subir para cima do piano. O cover de “Mother Popcorn” não trouxe nada de especial mas o final foi em êxtase e cheio de confettis com “Walk This Way“.
Com um reportório tão vasto e de qualidade, o único dedo a apontar poderá ser a supressão de algumas músicas originais – como “Crazy” ou “Amazing” – para dar lugar a covers. Mas no fim, o importante é que as cerca de duas horas de concerto demonstraram bem que a banda está com todo o gás e ainda sabe muito bem como dar um concerto digno da distinção de “uma das maiores bandas de rock’n’roll norte-americanas”. Curiosamente, é a capacidade e qualidade apresentadas durante o concerto que causa alguma angústia aos fãs que acreditam que esta será a última vez que o grupo fará uma Tour em solos Europeus. Depois de tantos exemplos de bandas que não conseguem juntar todos os membros originais – e quando os juntam o resultado nem sempre é o melhor – fazemos todos votos que o quinteto mude de ideias e volte depressa.
Foto: Everything is New / Alexandre AntunesSETLIST
Let the Music Do the Talking
Nine Lives
Rag Doll
Livin’ on the Edge
Love in an Elevator
Falling in Love (Is Hard on the Knees)
Stop Messin’ Around (Fleetwood Mac)
Oh Well (Fleetwood Mac)
Hangman Jury
Seasons of Wither
Sweet Emotion
Boogie Man
I Don’t Want to Miss a Thing
Come Together (The Beatles)
Eat the Rich
Cryin’
Dude (Looks Like a Lady)
Encore
Dream On
Mother Popcorn (James Brown)
Walk This Way