Após a abertura das portas do RIR, ontem, dia 20 de Maio, percebia-se que estávamos perante um público diferente do habitual jovem festivaleiro, Muitos séniores, alguns com a camisinha às riscas do dia-a-dia do escritório, outros, sósias com cópias exactas dos outfits do ícone dos Queen, e alguns mais jovens, fãs obrigados a sê-lo pela música que se ouvia lá em casa enquanto cresciam, mais alguns pela importância que a banda vem representando ao longo dos anos, junto da comunidade homossexual, por fim, as jovens “apaixonadas” pela beleza estonteante de Adam Lambert. As imagens de ternura a que fomos habituados dos avós a carregarem os netos às cavalitas, foram substituídas pelos muito casais gay de cinquenta e sessenta anos que, de mãos dadas, continuaram a jurar amor eterno ao som dos Queen.
[Foto: Agência Zero]Quanto aos Queen as palavras exactas são profissionalismo, rigor e excelência. Ninguém nunca duvidou das capacidades instrumentais dos seus elementos, dos solos magistrais da guitarra de Bryan May, e da bateria de Roger Taylor. O tempo refinou-os e a prática fez crescer sempre mais a capacidade executória de um instrumento com que se convive, vive e respira ao longo de tantos anos.
[Foto: Ana Dinis]A grande diferença reside na voz do vocalista, e é por causa de Adam Lambert que o som dos Queen está mais “sujo”, mais acre e, nalguns casos, mais rock and roll. Ainda bem. Ter uma voz como a de Adam Lambert espartilhada e obrigada a limitar-se a fazer uma cópia, mais ou menos, perfeita de Freddie Mercury, era desperdiçar uma das melhores vozes que apareceram nos últimos tempos. Quem conhece o cantor e o segue, sabe que Queen são uma personagem que encarna, onde, por momentos, voa e nos brinda com os seus agudos e falsetes de uma segurança desconcertante, voltando aos graves quentes como se de algo fácil e simples se tratasse. A personalidade de Adam Lambert, a sua forma desabrida e provocatória com que enfrenta fãs, jornalistas e o público, o seu tão discutido background “broadiano”, encaixam-se na perfeição. Ele é Queen, quando ali está.
Não é necessário reproduzir o alinhamento. Pense-se num qualquer sucesso dos Queen, e ontem pode ouvir-se na Bela Vista. Solos longos e loucos de guitarra, na memória um pequeno improviso entre May e Lambert, delicioso.
Goste-se ou não de Queen, o que se viu e ouviu ontem, foram cerca de duas horas de música, de boa música. Quanto a Adam Lambert, queremos mais, queremos a sua carreira a solo, se os Queen lhe dão algum espaço vocal, queremos ouvi-lo em toda sua dimensão artística, livre.
Uma breve referência ao cenário do concerto, simples, eficaz e com efeitos de molduras surpreendentes e belas, muita luz, cor, bom gosto e purpurina, bem ao estilo Mercury.