Portugal esperou dois anos para os ter de volta e esse entusiasmo sentia-se na rua, mesmo com a chuva que caía em Lisboa na passada quinta-feira. E a espera valeu a pena, pois Queen + Adam Lambert iniciaram a sua digressão de “Verão” na Europa com um concerto que foi um hino à história de uma das bandas mais emblemáticas de sempre.
Não haverá palco que faça jus à grandeza de músicos como Brian May ou Roger Taylor, mas a Altice Arena esteve lá perto com um palco em formato de guitarra, cujo braço entrava pela plateia oferecendo um aspeto visual muito apelativo. Em cima da guitarra estava um ecrã com o nome da banda, e o público começava já a ansiar pelo momento em que esse ecrã se iria levantar para dar início ao concerto. Portugal queria tudo. E queria-o agora. E assim foi, com sons de passos de um gigante a fazer estremecer a Arena, fazendo antecipar que o momento estava próximo. O gigante virtual (que mais tarde nos foi apresentado como Frank) levanta o ecrã e estava, então, lançado o espetáculo que iria durar mais de duas horas.
Cada momento que se seguiu foi especial e marcante. O público cantava em uníssono (compensando aquilo que me pareceu uma Altice Arena com pior som do que há um mês atrás) e cada pessoa que pisava aquele palco parecia divertir-se à sua maneira. Adam Lambert corria, saltava, andava de bicicleta e experimentava diversos outfits (6!). Brian May percorria todo o braço da sua guitarra e também daquela que estava sob os seus pés, indo para perto do público sempre que podia. E Roger Taylor mostrava como tudo aquilo lhe vem naturalmente, tocando e cantando e encantando.
Se o conjunto vale pela qualidade que todos reconhecemos, fica a ideia que cada um daqueles artistas poderia, também, dar o seu próprio espetáculo com o enormíssimo talento que possuem. E, de certo modo, cada um deles fez exatamente isso em algumas partes do concerto. O primeiro a ter o seu momento de “solo” foi Adam Lambert. O auto-intitulado sortudo, que por vezes pensa que aquilo que vive não é real mas sim fantasia, é possuidor de um alcance vocal surpreendente e fez-se valer do mesmo. Num momento a la Led Zeppelin de pergunta – resposta entre a sua voz e a guitarra de May, Adam elevou a fasquia e encheu a Altice Arena com um poderio vocal incrível.
Roger teve, também ele, um momento para brilhar. Numa altura em que surgiu uma bateria na frente do palco, o músico abandona o kit que tinha tocado até agora e caminha adiante, acompanhado pelo apoio do público. Começa a batida num ritmo lento, mas rapidamente acelera e torna-o mais complexo. Até que, do nada, a bateria onde estava sentado anteriormente começa a acompanhá-lo. E o responsável era o seu próprio filho. Os holofotes iam alternando entre pai e filho, mestre e aprendiz, e foi impossível não sentir ali a cumplicidade que os dois tinham.
Mas de todos, o momento solista de Brian May foi o mais emotivo. Além de um solo de guitarra elétrica, Brian protagonizou aquele que, na minha opinião, é o destaque da noite. ‘Love of my Life’. Só ele, a guitarra acústica, o público e uma presença etérea que se manifestou via holograma nos ecrãs da Altice Arena. Todos, a uma só voz, numa interpretação que deixou May lavado em lágrimas. Foi arrepiante, no melhor sentido que esta palavra pode ter.
Não foi a única vez, que Mercury se manifestou via holograma. Sendo que o icónico vocalista deve ser o único capaz de pôr milhares de pessoas a cantar e a acompanhá-lo, mesmo dezenas de anos depois de ter pisado os palcos pela última vez. Adam Lambert bem o disse: “Freddie só há um!”
Já que falo nos hologramas, aproveito para comentar todo o aspeto visual de um espetáculo que também nisso foi extremamente rico. É de salientar os diversos adereços que foram colocados em cima de palco, seja a cabeça do gigante Frank, que surge do chão com Adam Lambert sentado em cima após “Fat Bottomed Girls”; seja a bicicleta que o mesmo Adam usa como referência a mais um tema dos “Queen”. O cantor usou, aliás, várias vezes este tipo de humor no seu discurso, cheio de referências à banda que atualmente acompanha. Em termos de luzes, foi o esperado: tudo muito bem coreografado e adaptado ao que estava a acontecer no palco, servindo como complemento perfeito para uma experiência que só por si já era magnífica.
Termino esta análise falando do encore que tão bem representa aquilo que foi todo o concerto. Freddie é eterno. Os Queen são eternos. E não há nada que possa ofuscar o estatuto que já alcançaram. The Show Must Go On! Pois mesmo sem a destreza de outros tempos, estes homens… perdão, estas Lendas têm todo o direito de se intitular como Champions deste mundo da música. Eles e nós, que tão bem os recebemos. Voltem sempre, Campeões.
Setlist
Tear It Up
Seven Seas of Rhye
Tie Your Mother Down
Play The Game
Fat Bottomed Girls
Killer Queen
Don’t Stop Me Now
Bicycle Race
I’m in Love With My Car
Another One Bites The Dust
Lucy
I Want It All
Love Of My Life
Somebody To Love
Crazy Little Thing Called Love
Drum Battle
Under Pressure
I Want To Break Free
You Take My Breath Away
Who Wants To Live Forever
Last Horizon
Guitar Solo
The Show Must Go On
Radio Ga Ga
Bohemian Rhapsody
Encore:
We Will Rock You
We Are the Champions
God Save the Queen