Mank marca o regresso de David Fincher à cadeira de realização 6 anos depois do seu Gone Girl. Conheça a nossa opinião sobre este filme que pretende homenagear um dos filmes mais importantes de sempre – Citizen Kane.
Crítica feita por: Bernardo Freire (Visão de um Crítico)
David Fincher na realização, Gary Oldman na pele do protagonista, Amanda Seyfried e Lily Collins em papéis secundários. Um painel que transborda talento a colaborar num filme sobre a escrita do argumento de um dos melhores filmes de sempre – Citizen Kane (1941). Na teoria, estamos a falar de um candidato fortíssimo aos Óscares. Na prática, Mank é uma produção desleixada e dispersa narrativamente que ainda assim não deixa de ser um regalo para os sentidos.
Produzido e distribuído pela Netflix, o filme dramatiza os anos 30’ e 1940, quando Orson Welles (Tom Burke), um jovem prodígio do entretenimento, assina um contrato com o estúdio de cinema RKO. Este esclarecia que ele teria total controlo criativo dos próximos 3 filmes. Assim sendo, Welles convoca o alcoólico e crítico social Herman J. Mankiewicz (Oldman) para escrever o argumento do filme que ficaria conhecido como “Citizen Kane”.
Escrito por Jack Fincher, o pai defunto de David Fincher, a narrativa retoma a discussão aprofundada pela crítica de cinema Pauline Kael, que no seu extenso ensaio Raising Kane descreve que o argumento de Citizen Kane foi fundamentalmente escrito por Mankiewicz e que Orson Welles “nem sequer estava presente”. No entanto, as mais recentes conclusões afirmam que a contribuição de Welles não foi apenas extensa, como também definitiva.
Tem sido longo e apaixonado o diálogo que Citizen Kane tem gerado ao longo das décadas de um ponto de vista cinematográfico, assim como a controvérsia em torno da sua origem. Porém, Mank está longe de contribuir para o debate de forma edificante. Por cada detalhe histórico que o filme acerta, sobe uns quantos pontos na escala do aborrecimento. À medida que as políticas de Hollywood são chamadas para os holofotes, perdesse a oportunidade de esclarecer o objetivo da narrativa. Uma vez que saber ou não se Mankiewicz vai conseguir terminar o argumento do filme não é a melhor maneira de gerar suspense.
Para contrabalançar, a história procura estudar um pouco quem era a personagem título, com todos os seus defeitos e virtudes. Oldman, como é recorrente, mergulha na totalidade do papel. Não acrescenta apenas em termos físicos, mas também na astúcia e rapidez do discurso. Vende com facilidade a ideia de que é um argumentista imaginativo e provocador, sempre com as palavras na ponta da língua. O que proporciona um par de cenas interessantes, apesar do charme potencial da personagem ser diluído pela falta de foco da narrativa.
Sendo um filme que está intimamente envolvido com Citizen Kane, a estrutura e alguns planos procuram assemelhar-se ao clássico. São utilizadas várias analepses para contar a história, a fotografia a preto-e-branco, assim como o esquema de iluminação, tenciona emular os filmes da época e até faz algumas rimas visuais. Por exemplo, são replicados os planos icónicos do globo de neve a cair da mão de Charles Foster Kane e a partir no chão, mas com uma garrafa.
No entanto, estes pequenos brilharetes não servem de muito quando o enredo está enamorado com o seu próprio conteúdo. Tal como em Tenet (2020), há uma desconexão preocupante entre a matéria que está a ser abordada e o impacto desta na audiência. Porque o filme de David Fincher além de não oferecer razões para nos empenharmos nas jornadas das personagens, também não desenvolve os altos e baixos de tensão narrativa que são característicos dos filmes do realizador. O resultado é uma experiência surpreendentemente inanimada que tem apelo estético mas engenho fragmentado.
Mank | Crítica Cinema (disponível na Netflix)

Mank marca o regresso de David Fincher à cadeira de realização 6 anos depois do seu Gone Girl. Conheça a nossa opinião sobre este filme que pretende homenagear um dos filmes mais importantes de sempre - Citizen Kane.
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