Joca é comediante desde 2008 e já contabiliza mais de meio milhar de espetáculos a solo em vários distritos do país. Participou ainda em programas como o “É Sempre A(b)rir!” (MVM) ou “À conversa com Ricardo Couto” (Porto Canal) e além da comédia, dedica-se à sua carreira como gestor técnico, bem como a coaching e workshops para falar em público.
CA Notícias: Para quem não te conhece quem é o Joca?
Joca: Isso é a chamada pergunta para um milhão de euros! Nem seu sei bem!
Eu sou um tipo do Porto, 42 anos, que faz por ser feliz!
CA: Sempre quiseste ser comediante, ou foi uma ambição que te foi surgindo?
Joca: A comédia como arte, foi algo que eu sempre consumi. Desde o Tal Canal à Britcom aos clássicos do cinema, mais tarde Herman Enciclopédia… etc etc.
Mas há um momento que me lembro de me ter marcado de forma especial! Estávamos no inicio dos anos 90 e vi o monólogo do Arsénio Hall no talk show dele. Hoje, é um formato que se vê muito, mas na altura nunca tinha visto. E foi o meu primeiro contacto com o Stand up Comedy.
A simplicidade do formato arrebatou-me! É, de facto, simples: uma pessoa, um micro e um público! Nunca pensei que pudesse vir a fazê-lo, mas fiquei apaixonado pelo formato.
CA: E como te surgiu a oportunidade de te lançares no humor?
Joca: Foi em 2008. Fui a um comedy club que existia na altura em Matosinhos, e vi um espectáculo do Pedro Neves. Ele estava a fazer aquilo parecer tão fácil que eu pensei: “eu também fazia isto!” Fui ao balcão e ofereci-me para participar numa noite de amadores.
Assim, quando organizaram a primeira noite de amadores, eu fui participar. Diga-se que achar que o que o Pedro Neves estava a fazer era simples, foi uma grande parvoíce da minha parte! Percebi isso logo na primeira vez que atuei, a simplicidade em palco é complicada de atingir!
O certo é que a noite correu bem, há uma experiência em palco que foi transformadora. Dizer uma piada em palco e ouvir as pessoas a rir às gargalhadas… É uma sensação que é viciante, e naquela noite decidi que queria dedicar-me à comédia a serio!
CA: Como defines o teu estilo de humor?
Joca: O estilo de humor que eu faço é quase sempre auto-depreciativo, cerebral e inesperado. O meu estilo é pouco físico, e pouco dado a caretas. É muito sobre mim e sobre as coisas que me acontecem. O que eu procuro é o elefante escondido na sala. Aquela situação para a qual já todos olharam, mas que ainda ninguém viu!
CA: Fala-me da tua participação em programas de televisão. Como foram essas experiências?
Joca: A televisão é um meio em que a comédia funciona de forma completamente diferente. Quando a comédia é ao vivo, o público está ali, reage logo! Na televisão, depende de um sem número de factores: som, iluminação, edição, público do programa, hora que o programa passa, etc, etc…
Por isso sempre que passei na televisão, quer para fazer stand up, quer como entrevistado, quer para apresentar sketches, senti sempre alguma falta dareacção das pessoas. Mesmo havendo público ao vivo, na televisão isso nunca passou bem. Isto deve-se, certamente, a alguma falta de experiência neste meio da minha parte. Mas ainda assim, todas as experiências foram boas e enriquecedoras.
CA: Por que localidades já passaste? Houve alguma que te tenha marcado em particular?
Joca: Será talvez mais fácil perguntar por onde ainda não passei… Eu faço comédia há nove anos, e nestes nove anos fiz seguramente mais de 700 espectáculos. Já atuei um pouco por todo os lado, em Portugal faltam-me as ilhas. Nunca atuei nos Açores, nem na Madeira.
De resto, eu sei que isto é politicamente correto, mas todas as localidades são boas, ou melhor o publico é sempre bom! Sempre que penso que quando eu vou atuar há uma centena de pessoas para quem o plano para aquela noite é ouvir-me a dizer piadas, e que ainda por cima pagam para isso… Sou inundado por um sentido de gratidão que me leva a querer ir ao encontro de cada um. Sou grato, muito muito grato a todos os que já se riram com uma palermice que eu disse!
CA: Gostas mais de atuar em estúdio/atrás da câmara ou num bar/palco?
Joca: Eu gosto sempre de atuar ao vivo! Onde consigo ver as pessoas e sentir a energia delas. A comédia é um acto de comunhão. A ligação entre o comediante e o público é tão forte que, no fim do espectáculo, guardas a sensação que és amigo do comediante.
A mim, enquanto público, isso acontece muitas vezes. Assim, por muito bem filmado e editado que um espectáculo de stand up seja… O público ao vivo recebe sempre muito mais… E ainda bem, senão os especiais da netfilix já nos tinham roubado o público todo.
CA: Se não fosses humorista o que imaginas que serias?
Joca: A minha formação profissional é na área da Electromecânica. Nesta altura, concilio a minha carreira de comediante com uma posição de gestor técnico da i-sensis, uma empresa de marketing olfactivo e perfume design, onde dou largas à minha criatividade técnica. Se não fosse humorista, estaria certamente nesta área na mesma!
CA: Que outros projetos profissionais tens além do humor?
Joca: Para além do humor e da i-sensis, também faço palestras e sou coach. E em boa verdade, nesta altura todos nós temos de ser polivalentes, e ser capazes de ir coleccionando ferramentas que permitam, enfrentar os desafios que vão aparecer amanhã. O saber é cada vez mais transdiciplinar, não acho que faça muito sentido estar a fechar cada um numa caixa, com uma etiqueta.
CA: Ser humorista compensa em Portugal?
Joca: Bom, depende do que cada um procura como recompensa! Se for para ficar rico, não me parece. Está ao alcance de muito poucos, e esses lugares estão ocupados.
Se podia viver só do humor? Sim, podia. Especialmente, porque aprendi desde pequeno a governar a minha vida com o que tenho. Mas estaria longe de ser uma vida muito confortável. Como a maior recompensa que eu procuro no humor é emocional, posso dizer que vale a cada gargalhada!
CA: Acreditas que há “limites” para temas abarcados para comédia?
Joca: Os limites para a comédia são os mesmos que para as outras artes! Ou seja nenhuns! Mas mais importante que o tema abordado, é a perspectiva apresentada. Ou seja, se eu perguntar se devo fazer piadas com um determinado clube, facilmente vai aparecer gente a responder com um redondo e sonoro NÃO! Se ao apresentar a piada, ela elevar o clube, em vez de o rebaixar, serão os mesmos a aplaudir!
O mesmo é válido para temas como a pedofilia, homossexualidade ou o racismo. Mais do que o tema abordado, a perspectiva será mais importante.
Dito isto, não é fácil fazer uma piada sem “fazer pouco” de algo. A minha perspetiva é simples: “Para o meu público, isto que eu vou dizer, vai fazer rir ou vai chocar?” E pesando isto, se achar que vai fazer rir, digo! Se achar que vai chocar mais do que fazer rir, não digo. Porque se não faz rir… não é uma piada!