Uma semana após a sua estreia, “Hamlet”, que está em cena até 4 de Fevereiro, vai conquistando público e crítica.
Decorrida uma semana após a estreia de “Hamlet”, a mais recente criação da Companhia do Chapitô, o balanço não poderia ser mais positivo. A prova disso mesmo tem sido o excelente retorno da imprensa e do público e o facto dos bilhetes para toda a temporada terem esgotado logo no dia de estreia.
A nova peça da Companhia do Chapitô segue as linhas mestras do texto original do escritor e dramaturgo inglês William Shakespeare, mas propõe uma reflexão despretenciosa, mordaz e pejada de humor sobre vários aspectos da realidade física e social. Citando Cláudia Nóvoa, encenadora, “é uma outra maneira de contar a história, procurando encontrar o absurdo e o insólito das situações, derrubando pelo caminho as paredes que limitam a imaginação do público”.
Neste “Hamlet”, o enredo é transposto para a modernidade, fazendo uma analogia entre o outrora Reino da Dinamarca, onde tem lugar a peça original e uma qualquer empresa multinacional dos tempos actuais. Pese embora o tempo – cronológico entenda-se – decorrido entre uma peça e outra, as temáticas abordadas permanecem as mesmas. Fala-se de traição, abuso e jogos de poder, de assédio, da procura voraz e sem escrúpulos do lucro e de inafectividade. A ausência de toque entre o elenco ao longo da peça, por exemplo, espelha uma sociedade autista e desumanizada.
Na inexistência de cenário e usando um figurino simples e contemporâneo (fato e gravata), o trabalho do actor não fica restringido à representação ou interpretação de uma personagem, até porque todos são Hamlet. Comunica-se com a palavra mas também com o corpo, com o gesto, com o som. O hiper-realismo da peça e o recurso constante a onomatopeias transporta o público para uma viagem verdadeiramente sensorial e cinematográfica.
O despojamento da cenografia serve também, na opinião do encenador José Carlos Garcia, para “suscitar a imaginação do público que não pode ser passivo”, pelo contrário, “tem que imaginar para além do que vê”.
À semelhança do que acontece em outras criações da Companhia, o uso de objectos é uma das formas de desafiar a imaginação dos espectadores. Neste caso, são as gravatas que ganham vida e assumem funções distintas ao longo da acção. A escolha da gravata não é casual assumindo aqui uma representação simbólica de poder, de estatuto e verticalidade.
O trabalho contínuo e verdadeiramente colectivo entre encenadores e actores no desenvolvimento da estética da peça e todo o processo criativo que lhe subjaz faz com que cada actuação seja única e diferente e que o espectáculo se mantenha vivo.
Com direcção de José Carlos Garcia, Cláudia Nóvoa e Tiago Viegas e interpretação de Jorge Cruz, Susana Nunes, Patrícia Ubeda e Ramon de Los Santos/Tiago Viegas, “HAMLET” ficará em cena no Chapitô até 4 de Fevereiro, de quinta a domingo, às 22h00.