A Comunidade Azul deslocou-se ao Restelo para entrevistar um dos jogadores revelação não só do Belenenses, mas também da Liga NOS; falamos de André Sousa. O médio centro de 25 anos, que tem sido dos jogadores mais utilizados da presente temporada e que renovou recentemente o seu contrato – até 2019 , abordou o presente, o futuro e focou também a sua imensa gratidão ao Belenenses pela oportunidade que diz ser “única”.
Ao André, agradecemos o tempo dispendido e, sobretudo, a simpatia com que nos brindou. Esperemos que continue a brilhar e que atinja a curto prazo o seu sonho de representar a seleção.
[su_quote]Sabemos que é possível ir à Europa, mas é bom termos os pés bem assentes na terra.[/su_quote]
Comunidade Azul(CA) – Como é que foi vir de um clube da segunda liga para titular na Liga Europa?
André Sousa(AS) – Foi uma mudança grande, mas trabalhei desde que recebi o convite para que tudo isso acontecesse. Sempre tive essa ambição de chegar e jogar, apesar de saber que era difícil, visto termos um plantel muito equilibrado. Porém, o míster deu-me essa confiança e aproveitei ao máximo. Foi um salto muito grande.
CA – A vitória em Basileia foi o momento mais marcante da tua carreira de futebolista?
AS – Sim, posso dizer que sim. Como costumamos dizer, só vemos essas equipas na Playstation e naquele dia estávamos ali, a jogar contra eles. Ganhar lá foi um dos momentos altos da minha carreira e desta época
CA – Na altura estavas no Académico de Viseu, o que te fez vir para o Belenenses?
AS – Não é difícil aceitar um convite do Belenenses. Até porque como se sabe é um clube com uma história incrível, um clube grande. Depois, o projecto apresentado pela estrutura da SAD foi aliciante, não podia dizer que não. Era impossível.
CA – Alguma vez tinhas pensado vir para o Belenenses, mesmo no início da tua carreira?
AS – Não, nunca pensei. Sempre vi com bons olhos o Belenenses, por tudo aquilo que já fez, pela história que tem e também por ser de Lisboa, como eu. Nunca pensei que fosse tão cedo, mas ainda bem que foi e que estou aqui
CA – Quando vieste para o Restelo, já estavas ciente da história e grandeza do clube?
AS – Não estava totalmente ciente. Saí cedo de Lisboa e só conhecia toda a história de ouvir o meu pai e o meu avô falarem disso. Quando cheguei aqui deu para ver que é um clube com pessoas muito próximas, um clube com pessoas que gostam verdadeiramente da instituição e isso é bom para nós, porque nos dá alguma responsabilidade. É muito familiar.
CA – Como está a ser a tua experiência aqui?
AS – Está a correr bem, até porque começámos logo a época com a Liga Europa. Nunca pensei jogar a Liga Europa tão cedo, dado que estava na Segunda Liga ainda um ano antes. Foi muito bom. Sou de Lisboa, gosto de estar em Lisboa, permite-me está perto da família, o que é muito positivo. O clube dá-me todas as condições, logo quando cheguei o Presidente pôs-me à vontade para pedir tudo o que precisasse e posso dizer que estou bem aqui. Estou num clube que me dá todas as condições de trabalho para jogar futebol que é o que mais importa. Estou mesmo muito feliz no Belenenses.
CA – Esperar ficar muitos anos no clube ou apontas a voos mais altos?
AS – Eu renovei agora com o Belenenses, por mais três anos, até 2019. Faço intenções de cumprir o contrato. Estou numa instituição que me dá tudo, que não falha com nada e onde sou feliz. Agora, se surgir algum convite de um clube que lute por objectivos que possam ser irrecusáveis, vamos ter que ver. Tem é de ser bom para todos; quer para mim, quer para o Belenenses.
CA – O que não resultou com Sá Pinto?
AS – Não é o que “não resultou”, eu prefiro não ir por aí. O mister foi muito importante para nós e para o clube. Fizemos uma campanha muito boa na Liga Europa e estávamos a fazer um início de época muito positivo. Fizemos história ao conseguir o apuramento e o mister teve importância nisso. Teve importância para mim e para vários jogadores da equipa. O que falhou, não sei. Se calhar alguns resultados menos positivos, dessa forma fica difícil continuar.
CA – Depois de Sá Pinto, veio Velázquez. Um treinador que mudou quase tudo na forma de jogar da equipa. Sentes-te bem a jogar num sistema que privilegia a posse de bola e o controlo da mesma? Como foi a mudança?
AS – Todos os treinadores têm ideias próprias, ideias diferentes. Nós com o mister Sá Pinto jogávamos num bloco médio-baixo em que saíamos com velocidade para o ataque. Isto até pelas características dos jogadores que tínhamos, o Kuca, o Luís Leal, etc. Em Janeiro houve algumas mudanças, veio o mister Julio e mudou muita coisa. Falo por mim e de certeza que também pelos restantes membros do plantel, quando digo que é um futebol de que gostamos, que nos dá prazer praticar e que já começa a ser reconhecido por muitos treinadores em Portugal. Tanto para nós como para quem está a ver de fora. Prefiro jogar assim. É muito bom para o futebol em geral. Por exemplo, o jogo frente ao Braga foi bom, muito aberto, com golos; o com o Guimarães também. É um treinador jovem, ambicioso e passa-nos a ideia de que quer sempre ganhar querendo ser protagonista do jogo, ter a bola. Isso é positivo para nós, faz-nos crescer. Tenho a certeza de que vamos ter muitas vitórias daqui para a frente.
CA – Como é a dinâmica do plantel/grupo?
AS – A dinâmica é muito boa. Gosto muito do nosso grupo, é muito unido. Fui muito bem recebido por quem está cá há mais tempo. No início eram só portugueses e era mais fácil a comunicação. Agora vieram jogadores novos, com qualidade para ajudar a equipa. A nossa vivência é boa, fazemos imensas coisas juntos, desde jantares a planos em conjunto. Um dos pilares do Belenenses tem sido o espírito de grupo. Já no ano passado era assim. Vi de fora e notava-se, era essa a imagem que passava. Espero que continue assim, a nossa equipa tem de valer pelo grupo.
CA – Referiste que ao início eram só portugueses no Belenenses. Como é que vês essa aposta em jogadores jovens portugueses de divisões inferiores?
AS – Acho muito bem. É bom para toda a gente. Não descurando o jogador estrangeiro, que quando vem é para acrescentar qualidade e será sempre bem recebido. Agora, se quisermos valorizar o futebol português, apoio o facto de irmos buscar jovens às divisões inferiores, onde há muito valor. Até para as seleções jovens é muito importante.
CA – Foste formado no Moitense, passaste pelo Sporting e depois fizeste carreira a Norte. Como é que chegaste ao futebol profissional?
AS – Fui para o futebol porque sempre andei com uma bola atrás de mim, levava-a para todo o lado. Na Moita, no meu bairro, havia um campo ao pé de minha casa e ia para lá jogar. Acabou por ser inevitável. Fui com 9 anos para o Moitense, depois surgiu a oportunidade de ir para o Sporting e aí as coisas ficaram mais sérias. Ao início é sempre uma ilusão mas com o decorrer do tempo fica mais sério. Depois não pensei em mais nada, foi um sonho tornado realidade. Tornei-me profissional no Beira-Mar e agora quero continuar, ainda tenho muita coisa para conquistar.
CA – Esperavas atingir este nível?
AS – Não digo que esperava, mas ambicionava. Sempre trabalhei para isso. Atingi este nível e não quero parar por aqui.
CA – Qual foi o treinador mais importante da tua carreira?
AS – Todos os treinadores nos marcam. Estamos sempre aprender. São treinadores que me deram muitas coisas, consegui aprender muitas coisas com eles e quero continuar a ter essa capacidade de captar aquilo que o treinador nos pode dar. Muitas vezes passa por aí, temos de saber receber a mensagem que ele nos querem transmitir. Daí dizer que foram todos importantes.
CA – No Belenenses tens jogado em diversas posições, onde é que te sentes mais confiante?
AS – Sinto-me mais confortável no meio e isso nota-se. Agora, se o mister quiser que eu jogue noutra posição, eu jogo. Vou fazer sempre o possível para que corra bem, até porque às vezes é um dado estratégico. Estou a aprender a estar na ala e quero continuar a melhorar nessa posição.
CA – Apesar de teres chegado esta época és um dos preferidos dos adeptos e um dos jogadores com mais tempo de jogo. Como avalias tudo isso?
AS – Avalio com muito agrado. Aproveito para agradecer todo o apoio que me dão. O que posso prometer é que vou estar sempre presente de corpo e alma, com muita vontade e ambição. O Belenenses deu-me uma oportunidade enorme e eu não posso desiludir nem o clube nem as pessoas que estão sempre cá a apoiar. É assim que eu penso. Vou ser sempre fiel.
CA – Uma das características que os adeptos mais gostam em ti é a raça e a resiliência. De onde vem tudo isso?
AS – Sou assim na vida. Sou muito ambicioso e apaixonado pelo que faço. Como disse há pouco, tenho essa responsabilidade de não desiludir o Belenenses, a estrutura e os adeptos. Deram-me uma oportunidade enorme. Muitos jogadores gostavam de estar no Belenenses e eu tenho essa oportunidade. É assim que tenho de pensar. É uma oportunidade que muitos gostavam de ter e eu não a posso desperdiçar. Tenho de agarrar com tudo. É uma mensagem que um dia quero passar ao meu filho, a de que temos de agarrar as oportunidades que nos dão.
CA – Quais são as principais diferenças entre a Primeira e a Segunda Liga?
AS – A envolvência em si é muito maior. A exigência aqui é muito mais alta, em Aveiro, por exemplo, não havia uma grande pressão. Aqui estamos constantemente a ser pressionados, mas uma pressão positiva. Só assim se pode crescer, com essa pressão e ambição. Estou a adorar estar aqui.
CA – Apesar do treinador e a SAD negarem a Europa como objectivo, o certo é que já só são 4 pontos a separar o Belenenses do 6º lugar. O grupo não pensa nisso? E tu?
AS – Eles negam um bocado porque só agora é que conseguímos a manutenção. Não faz sentido pensar na Liga Europa se só agora atingimos um objectivo. O objectivo que o mister e o Presidente nos passam é o de que temos de jogar jogo a jogo, de estar tranquilos e ir andando com as nossas armas, com a nossa ambição. Claro que temos ambição, mas veremos no fim o que o campeonato nos pode dar. Agora o nosso objectivo é ganhar ao Tondela. Sabemos que é possível ir à Europa, mas é bom termos os pés bem assentes na terra.
CA – Toda a polémica entre a SAD e o clube, afecta-vos?
AS – Nós sabemos o que se passa porque neste mundo actual as redes sociais, a comunicação social dão-nos essa possibilidade. Para ser sincero, essa situação não nos afecta. Desde que cheguei aqui, o que me foi passado é para estarmos preocupados só com o futebol, com o jogo. A estrutura tem-nos dado todas as condições e não vamos estar a pensar em mais nada. Só espero que as coisas corram pelo melhor para o Belenenses em si, para a instituição Belenenses. Este clube é um histórico e é importante que tudo corra bem.
CA – A seleção é um objectivo a longo prazo ou vês isso acontecer num futuro próximo?
AS – A seleção é o ponto alto de um jogador profissional de futebol. Já representei os sub-21 e foi um orgulho enorme. É diferente, é difícil explicar por palavras, só mesmo sentindo. Quanto à seleção AA, é óbvio que é o meu sonho representá-la. Agora, se será já ou daqui a dois três anos, não sei. É algo que vem naturalmente. Se continuar assim, terei de fazer mais, muito mais. Não se vai à seleção por fazer uma época boa, tem de se fazer uma época muito boa. Eu vou atrás dessa época para poder um dia chegar lá.
CA – Que tens achado do trabalho de Fernando Santos?
AS – Sim, sim. Particularmente sim. Tem vindo a fazer um bom trabalho desde a seleção da Grécia, com a qual fez coisas incríveis. Espero que continue esse bom trabalho em Portugal porque quero-nos ver a ganhar um título. Espero que corra tudo bem agora no Euro.
CA – Apesar de ainda faltarem várias jornadas para o fim; que resumo fazes desta época a título individual?
AS – Quando vim para aqui sabia que era um grupo competitivo e tinha como objectivo fazer o máximo de minutos possíveis, o que é muito importante. Acho que tenho conseguido atingir esse objectivo. Trabalhei na pré-época para conseguir ser titular e depois o primeiro jogo no Restelo correu-me bem, tive aquela motivação extra de ser logo titular logo na Liga Europa. Isso fez tudo correr ainda melhor. Fiz também o meu primeiro golo no campeonato e tem sido uma boa época. Tenho tido um crescimento bom em apenas 6 meses. Quero continuar a crescer e continuar nesta senda de evolução.
[su_quote]Muitos jogadores gostavam de estar no Belenenses e eu tenho essa oportunidade.[/su_quote]
Perguntas Rápidas:
CA – Quem é o teu ídolo futebolístico?
AS – O meu ídolo sempre foi o Lampard. Se calhar por ser um jogador com as minhas características. Aliás, acho que nas redes sociais até há uma imagem para brincar com isso. Alguém que me conhecia soube e soltou aquela imagem do “Lampard do Restelo”(risos).
CA – Melhor jogador com o qual já jogaste?
AS – Joguei com o Diogo Rosado na formação, que era uma bomba. O Balboa no Beira- Mar. Aqui temos o Carlos Martins, que é muito bom jogador.
CA – E o melhor jogador contra o qual já jogaste?
AS – Foi esta época. Dois jogadores que me encheram o olho. O Brahimi, do Porto. E o melhor jogador deste campeonato, o Gaitán.
CA – Sabemos que és um homem de família, agora, qual é a importância que a tua família tem na gestão e na progressão da tua carreira?
AS – Isso depende de cada um, se formam a família cedo ou não. A meu ver, dá-me uma estabilidade enorme porque estou em casa, estou com a minha mulher e com o meu filho, muitas vezes quando há algum problema a nível profissional, chego a casa e com o meu filho, esqueço tudo. Dá-me estabilidade, sossego, tranquilidade e paz. Quero tê-los sempre perto de mim.
CA – Como passas o tempo quando não estás a jogar ou a treinar?
AS – A maior parte do tempo é com o meu filho, que está um traquinas e tenho estar sempre de olho nele! (risos) Lisboa tem muita coisa para oferecer, gosto de passear ou mesmo ver algum espetáculo que haja. A playstation também! A minha namorada, igualmente. Namorar também faz parte.
CA – Qual é o peso do futebol na tua vida?
AS – Gosto de ver os melhores jogos que há para ver, da Liga dos Campeões, da Liga Europa. Gosto de acompanhar. Também tenho a sorte de ter uma namorada que gosta de futebol e vê comigo. Acompanho as seleções e tudo mais.
CA – Se pudesses escolher, em que estádio gostarias de jogar? Como adversário, claro.
AS – O do Dortmund, claro. Deve ser um ambiente fantástico.
CA – Existe algum jogo que recordes de forma mais especial?
AS – O jogo em Basileia é o que vou recordar com mais orgulho.
CA – Enquanto futebolista, qual é a tua principal arma?
AS – A minha principal qualidade é a cultura táctica. Sou evoluído taticamente, consigo perceber o jogo bem e isso é um mais-valia. O remate é característico, gosto de rematar e de fazer golos. O passe curto e longo, também. Ou seja, as características de um médio.
CA – O quê que achas que podias melhorar em termos futebolísticos?
AS – Gostava de ser mais rápido! (risos) Então agora que estou a jogar na linha, dava jeito.
CA – Já foste ver algum jogo das modalidades do clube, por exemplo?
AS – Não, ainda não fui ver. Mas até poderei fazê-lo no futuro.
CA – Sabes o hino?
AS – De cor, não sei!
CA – E cânticos, sabes?
AS – Sim! O do Tiago Caeiro! (risos) Nós próprios cantamos no autocarro.
CA – Lês a Comunidade Azul?
AS – Leio sim. Vocês passam algumas informações importantes mesmo de curiosidades da época. Acompanho e gosto de ver.
CA – Obrigado, André!
AS – Eu é que agradeço!