Steven DeKnight herda de Guillermo del Toro a função de realizador de Pacific Rim com “A Revolta”. Um título que demonstra o sentimento dos ‘Kaiju’ após a derrota no último filme… ou o sentimento de um espetador que vá à procura de assistir a algo mais que sequências animadas de ação. Pois os grandes monstros alienígenas estão de volta, sim. Mas o maior monstro que a saga enfrentou foi claramente a falta de tempo para lidar com as inconsistências do guião.
Talvez esta breve introdução seja demasiado penalizadora para um filme que, de facto, tem o condão de entreter ao longo de quase toda a sua rodagem. John Boyega traz para cima da mesa uma interpretação irreverente e despreocupada de Jake Pentecost, filho de Stacker Pentecost (um dos heróis do primeiro filme) e faz um excelente trabalho na maneira como transmite a diferença entre ele e o seu pai. Jake junta-se a uma jovem génio 15 anos que constrói os seus próprios ‘Jaegers’ (Cailee Spaelly), à sua meia-irmã Mako Mori (Rinko Kikuchi) e aos dois cientistas do Pacific Rim original Gottlieb (Burn Gorman) e Newton (Charlie Day) para tentar travar uma nova ameaça dos gigantes monstros alienígenas. Passaram 10 anos desde os acontecimentos do primeiro filme e muito mudou: Nunca mais houve qualquer ataque por parte de seres emergidos do fundo dos oceanos, Jaegers patrulham as ruas agora que o seu principal propósito deixou de fazer sentido e o programa de pilotos Jaeger parece estar próximo da extinção: Tanto por falta de candidatos compatíveis, como pelo surgimento de um novo método de controlo remoto desenvolvido por Liwen Shao (Tian Jing) e Newton. Mas algo corre mal na sessão de aprovação deste método e os heróis veem-se forçados a combater “à moda antiga”.
Aqui traçamos o limite da boa despreocupação (em termos cómicos) e da má despreocupação (em termos de guião). Por um lado, o sentido humorístico nunca se perde, estando presente mesmo em cenas de alta tensão, fulcrais para o destino do planeta. Esta opção, apesar de criar algum contraste entre o peso da situação e o estado de espírito das personagens, é claramente premeditada e são mais as vezes em que este elenco diversificado nos consegue fazer rir do que aquelas em que as piadas apenas estragam uma cena que estaria repleta de drama.
Por outro lado, notou-se alguma despreocupação nas explicações que o guião oferece para levar a história do ponto A ao ponto B ou C. Um exemplo é um envio de informação que chega aos protagonistas de um modo que a define como sendo altamente reveladora mas acaba por ser apenas uma desculpa para uma batalha numa zona não populada do planeta, sem nunca ser efetivamente explicado o porquê de se ter ido para lá. Outro exemplo é a identificação de um potencial vilão simplesmente pelo modo como alguns fios foram enrolados. Estes são o tipo de cenas que fazem com que uma pessoa, mesmo estando a assistir relaxadamente ao filme com o objetivo de ser entretido, se questione quanto à validade do argumento.
Como análise final, “Pacific Rim: A Revolta” traz-nos um elenco diversificado e capaz de entreter, mesmo que as novas personagens não tenham tido o toque mais humano de Guillermo del Toro na sua caracterização. A mudança de realizador é também notória em alguns aspetos da história, como o facto de durante o primeiro filme e nos dez anos subsequentes ninguém ter desvendado o verdadeiro objetivo dos ‘kaiju’ (algo que agora se fez de maneira relativamente fácil). No entanto, o filme é verdadeiramente divertido e as cenas de ação são bastante percetíveis (algo que é difícil de alcançar em batalhas de proporções tão grandiosas como aquelas de que vive a premissa de Pacific Rim). Termina com um ‘piscar de olhos’ a uma possível trilogia e, se o público se sentir tão entretido como eu me senti mas conseguir afastar do pensamento os pontos fracos do guião, não vejo razoes para que tal não aconteça.
*Crítica por João Fragoso