Esperava-se, com a visita de Jill Scott a Portugal, a honestidade brutal da abordagem da temática feminina, da fala desabrida sobre sexo, da catarse das desilusões amorosas ou do amor incondicional que se tem por um filho.
Se as letras e as músicas são poderosas, a voz é, certamente, uma das melhores que apareceram nos últimos 15 anos. De cachecol da Selecção Portuguesa na mão, entrou em palco para oferecer “love”, como disse. “Love”, competência, beleza e crueza poética.
Fez uma vigem pela sua obra, que já representa, desde que lançou o seu primeiro álbum, “Who is Jill Scott?”, em 2000; três platinas e três ouros. A complexidade da sua obra, vem-se revelando nos seus trabalhos cada vez mais conceptuais, como “Beautiful Human” ou o mais recente “Woman”.
Ela não é uma, mas a voz de muitas mulheres, a coragem de dizer o que muitas guardam na garganta, sem saber verbalizar, e di-lo, como ontem, hipnotizando com a sua voz cheia e grandiosa, com a sua poética que é real e sempre com a palavra certa, sem recorrer à rima simplista, dos fenómenos da música de plástico do “mastiga e deita fora”, com a composição rica, vestida por um grupo de músicos de excepção.
Impossível resistir, o frio que se fazia sentir, de repente, deixou de existir com o calor que o palco emanava. Apraz-nos dizer, sem medo de errar, que pudemos assistir a um dos concertos mais importantes de 2016.
Uma das apostas do CoolJazz nesta edição prende-se com as cuidadosas e excelentes primeiras partes da maioria dos concertos. E ontem ela foi ouro sobre azul. Charlie Wilson e a “loucura do funk”, os fãs do estilo não resistiram à excelência frenética da banda sem moverem os corpos, e para isso muito contribuíram as bailarinas que o acompanharam e participaram nalguns dos seus temas.
Quem não se lembra de sucessos como “Outstanding”, de “The Gap Band” dos anos 70, que deslumbrou os Rolling Stones, até aos dias de hoje, em que Charlie Wilson é referência para Justin Timberlake, entre outros. Os mais velhos já mereciam uma noite de puro funk, e ontem tiveram-na.
Em resumo, um grande aplauso ao CoolJazz.
Fotos: Ana Dinis