Miguel Ângelo 
Rocketman é o novo filme de Dexter Fletcher, sobre a vida de Elton John, aqui interpretado por Taron Egerton. Um musical cheio de fantasia e extravagância, que não só relata o percurso da estrela pop, como também abre espaço para as suas fantasias, vícios e quedas, de forma muito bem concretizada.
Reginald Dwight, nome verdadeiro de Elton John, é um miúdo tímido de uma pequena cidade do Reino Unido, que cresceu e se transformou numa das figuras mais icónicas da cultura pop. Este miúdo representa o que de mais íntimo, sensível e humano há dentro de Elton John, e é exactamente o seu “eu” da infância que lhe vai dar tanta densidade como personagem ficcional. O argumento desenvolve muito bem a representação do artista, mostrando as suas diversas facetas, qualidades e fragilidades. Este não é apenas um musical sobre a ascensão de um talento musical, ou sobre os sonhos que se tornam realidade. É uma história sobre os obstáculos da vida, sobre a dificuldade em lidar com a família, envolvendo traumas do passado, vitórias, desilusões, frustrações, sexualidade e o longo processo de autodescoberta.
Taron Egerton faz um trabalho fantástico ao encarnar o icónico e exuberante músico. Não se limita a adaptar os maneirismos do próprio, mas tem o cuidado de depositar a carga emocional exigida pelo argumento, e o desenvolvimento psicológico necessário para este não ser apenas um musical superficial. Para além disto, as músicas já conhecidas do reportório de Elton John, são aqui interpretadas pelo protagonista, havendo ainda uma maior exigência do trabalho do actor.
O enredo é muito bem estruturado e organizado, nunca havendo momentos precipitados nem arrastados. O ritmo fluí bastante bem e nunca é quebrado pelos saltos temporais que vão acontecendo. Todos estes aspectos fazem com que haja a sensação de que esta se trata de uma história sobre dramas da vida real, e não sobre o deslumbre da riqueza e do sucesso, que poucos conseguem atingir, como seria fácil para qualquer filme do género cair na tendência. É fácil identificarmo-nos com várias das emoções que vão sendo expressas nas várias fases de vida do cantor, retirando a superficialidade das coisas, e conferindo uma profundidade e um interesse que beneficiam bastante o filme.
Rocketman consegue deslumbrar com os figurinos coloridos e com os óculos extravagantes (imagem de marca de Elton John), mas não se fica por aí. Vai mais a fundo e consegue explorar o passado do cantor e os seus momentos mais frágeis, representando não só uma estrela, mas um ser humano. Taron Egerton faz uma actuação incrível, dando vida a várias versões da mesma personagem, pertencentes a fases de vida diferentes, que se vão desenrolando ao som dos grandes êxitos do artista. Não se trata apenas da carreira do cantor pop, mas também de uma vida de altos e baixos, de quedas e recuperações, de arrependimentos e de persistências. Uma vida de luxos, mas que é igual a tantas outras.
