Corpo Clandestino (Ensaio Aberto), de Victor Hugo Pontes
Teatro & Arte | Dança
XL Box
XL Box
Classificação Etária
A classificar pela CCE
Produtor
Câmara Municipal de Montemor-o-Novo
Sinopse
Será certamente uma banalidade fazer equivaler uma expressão artística – a dança – ao instrumento que lhe dá forma – o corpo. Mas talvez não seja, como se pensa, desprovida de estranheza a ideia do corpo enquanto instrumento: de trabalho físico (artístico ou braçal); de comunicação da identidade (através das roupas ou do corte de cabelo que escolhemos; ou do uso da nossa imagem para comunicarmos anonimamente, nas redes sociais); de identificação com aquilo que representamos perante os outros (a cor da pele, uma cicatriz, uma deformidade física); de entendimento do que somos diante de nós próprios à medida que o corpo muda (envelhecemos, emagrecemos, engravidamos).
Tomamos como adquirida a ideia de que o corpo é um instrumento, o que pode não ser sempre verdadeiro. Parece, no entanto, que pensamos menos na ideia de que o nosso corpo pode ser o veículo principal da identidade que nos é atribuída.
Gregor Samsa, o rapaz de Kafka que, certa manhã, acorda transformado num gigantesco insecto, nunca mais será visto por ninguém como outra coisa além de um bicho. Ninguém olha para uma pessoa cega e ignora que está a ver uma pessoa cega; ninguém olha para um anão e chega a esquecer-se de essa pessoa é um anão. Tal como no pesadelo kafkiano, acumulam-se perguntas sem resposta: porquê?; como?; é possível reverter isto?; é possível viver assim? Os exemplos são muitos – na literatura, na pintura, no teatro e na dança, na vida real – e quase sempre impelem o outro a procurar o seu lugar de conforto perante a diferença, digamos.
É justamente esse o lugar que Corpo Clandestino quer deixar vazio. Esta criação de Victor Hugo Pontes vai acompanhar o mecanismo de Kafka em A Metamorfose: o ponto de vista do espectador será o ponto de vista dos próprios intérpretes, à medida que tomam consciência da sua condição diferente e estão em palco enquanto tal. Só assim poderá ser verdadeiramente questionada a normatividade dos corpos do século XXI. Corpo Clandestino quer evitar as perspectivas reducionistas e padronizadas, quer desencadear o surgimento de um novo olhar sobre a diferença, quer impelir o espectador a construir uma visão individual do espectáculo, depois de acomodar as suas dúvidas, hesitações e incompreensões. Durante o processo de animalização, Gregor Samsa, o rapaz-insecto, vai-se esquecendo do seu passado, naquilo que constitui um caminho sem retorno para a absoluta incomunicabilidade.
Corpo Clandestino quer dinamitar o pesadelo da incomunicabilidade e mostrar de que forma podemos todos ocupar e partilhar o mesmo mundo, por mais diferente que seja.
Ficha Artística
Direcção Artística | Victor Hugo Pontes
Cenografia | F. Ribeiro
Música | Joana Gama e Luis Fernandes
Direcção Técnica e Desenho de Luz | Wilma Moutinho
Figurinos | Cristina Cunha e Victor Hugo Pontes
Interpretação Ana Afonso Lourenço, Andreia Miguel, Gaya de Medeiros, Joãozinho da Costa, Mafalda Ferreira, Paulo Azevedo e Valter Fernandes
Assistente de Direcção Ángela Diaz Quintela
Consultoria artística Madalena Alfaia
Direcção de Produção Joana Ventura
Produção Executiva Mariana Lourenço
Assistência de Produção Inês Guedes Pereira
Apoio à residência A Gráfica Centro de Criação Artística, Circolando CRL, O Espaço do Tempo, Teatro Municipal do Porto.Campo Alegre
Co-produção Nome Próprio, A Oficina/CCVF, Centro de Arte de Ovar, Município de Setúbal, Pirilampo Artes / Rota Clandestina, Teatro José Lúcio da Silva, Teatro Municipal do Porto, Théâtre de Liège e Theatro Circo
A Nome Próprio é uma estrutura residente no Teatro Campo Alegre, no âmbito do programa Teatro em Campo Aberto e tem o apoio da República Portuguesa Cultura / Direcção-Geral das Artes.
Informações Adicionais
O Espaço do Tempo é uma estrutura financiada pela República Portuguesa Cultura / DGArtes e pela Câmara Municipal de Montemor-o-Novo, conta com o apoio da Fundação la Caixa / BPI, da Fundação Millenium BPC, do Goethe Institut e da Fundação Eugénio de Almeida.
Preços
- Geral – 0€
Sessão
07 set 2022 21:30
Duração
90 minutos
Abertura Portas
21:00
Intervalo
Sem Intervalo.